segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Calvinismo Versus Modernismo - A. Kuyper


Um viajante do velho continente europeu, desembarcando no litoral deste Novo Mundo, sente-se como o salmista que diz, “Seus pensamentos amontoam-se sobre ele como uma multidão.” Comparado com o turbilhão de águas de seu novo rio de vida, o velho rio, no qual ele estava em movimento, parece quase congelado e sem graça; e aqui, em terras americanas, pela primeira vez, compreende como tantas potências divinas, que estavam escondidas longe no seio da humanidade de nossa própria criação, mas que nosso velho mundo foi incapaz de desenvolver, estão agora começando a descobrir seu esplendor interior, prometendo assim um depósito de surpresas ainda mais rico para o futuro.

Contudo, vocês não me pediriam para esquecer a superioridade que, em muitos aspectos, o Velho Mundo pode ainda reivindicar, aos seus olhos tanto quanto aos meus. Mesmo agora a velha Europa continua portadora de um passado histórico muito longo, e portanto, coloca-se diante de nós como uma árvore enraizada muito profundamente, escondendo entre suas folhas alguns dos mais maduros frutos da vida. Vocês ainda estão em sua Primavera – nós estamos passando por nosso Outono; - e a colheita do Outono não tem um encantamento próprio?
Mas, embora, por outro lado, eu reconheça plenamente a vantagem que vocês possuem no fato que (para usar outra símile) o trem da vida viaja com vocês tão imensuravelmente mais rápido do que conosco, - deixando-nos milhas e milhas atrás, - contudo ambos sentimos que a vida na velha Europa não é algo separado da vida aqui; ela é uma e a mesma corrente da existência humana que flui através de ambos os continentes.

Em virtude de nossa origem comum, vocês podem chamar-nos ossos de seus ossos – nós sentimos que vocês são carne de nossa carne, e ainda que vocês estejam nos superando de modo mais desalentador, vocês nunca esquecerão que o berço histórico de sua maravilhosa juventude continua em nossa velha Europa, e foi embalado gentilmente em minha outrora poderosa terra natal.
Além disso, ao lado desta ascendência comum, há outro fator que, mesmo diante de uma diferença mais ampla, continuaria a unir seus interesses aos nossos. Muito mais precioso para nós que o desenvolvimento da vida humana, é a coroa que a enobrece, e esta nobre coroa da vida para vocês e para mim repousa no nome cristão. Esta coroa é nossa herança comum. Não foi da Grécia ou de Roma que saiu a regeneração da vida humana; - esta metamorfose poderosa remonta-se a Belém e ao Gólgota; e se a Reforma, em um sentido ainda mais especial, reivindica o amor de nossos corações é porque ela tem dispersado as nuvens do sacerdotalismo, e tem novamente revelado a mais plena visão das glórias da cruz. Mas, em oposição mortal a este elemento cristão, contra o próprio nome cristão e contra sua influência salutar em cada esfera da vida, a tempestade do Modernismo tem agora surgido com intensidade violenta.

Em 1789 o ponto crucial foi alcançado. O grito furioso de Voltaire, “Abaixo com o salafrário”, foi apontado para o próprio Cristo, mas este grito era simplesmente a expressão do pensamento mais oculto do qual nasceu a Revolução Francesa. O protesto fanático de um outro filósofo, “Não precisamos mais de Deus”, e o lema odioso, “Nenhum Deus, nenhum senhor”, da Convenção; - foram os lemas sacrílegos que naquele tempo anunciaram a libertação do homem como emancipação de toda autoridade divina. E, se em sua sabedoria impenetrável, Deus empregou a Revolução Francesa como um meio para destruir a tirania dos Bourbons, e trazer um julgamento sobre os príncipes que abusavam de suas nações como seus escabelos, entretanto o princípio do qual a Revolução surgiu continua completamente anticristã, e desde então tem se espalhado como câncer, dissolvendo e corroendo tudo quanto está firme e consistente diante de nossa fé cristã.
Não há dúvida, então, de que o Cristianismo está exposto a grandes e sérios perigos. Dois sistemas de vida estão em combate mortal. O Modernismo está comprometido em construir um mundo próprio a partir de elementos do homem natural, e a construir o próprio homem a partir de elementos da natureza; enquanto que, por outro lado, todos aqueles que reverentemente humilham-se diante de Cristo e o adoram como o Filho do Deus vivo, e o próprio Deus, estão resolvidos a salvar a “herança cristã”. Esta é aluta na Europa, esta é a luta na América, e esta também é a luta por princípios em que meu próprio país está engajado, e na qual eu mesmo tenho gasto todas as minhas energias por quase quarenta anos.
Nesta luta apologética não temos avançado um único passo. Os apologistas invariavelmente começam abandonando a defesa assaltada, a fim de entrincheirarem-se covardemente em um revelim atrás deles.

Desde o início, portanto, tenho sempre dito a mim mesmo, - “Se o combate deve ser travado com honra e com esperança de vitória, então, princípio deve ser ordenado contra princípio; a seguir, deve ser sentido que no Modernismo, a imensa energia de um sistema de vida todo abrangente nos ataca; depois também, deve ser entendido que temos de assumir nossa posição em um sistema de vida de poder, igualmente compreensivo e extenso. E este poderoso sistema de vida não deve ser inventado nem formulado por nós mesmos, mas deve ser tomado e aplicado como se apresenta na História.

Quando assim fiz, encontrei e confessei, e ainda sustento que esta manifestação do princípio cristão nos é dado no Calvinismo. No Calvinismo meu coração tem encontrado descanso. Do Calvinismo, tenho tirado firme e resolutamente a inspiração para assumir minha posição no auge deste grande conflito de princípios. E, portanto, quando fui convidado, muito honradamente por sua Faculdade, para dar as Palestras Stone, aqui este ano, não poderia hesitar um momento quanto a minha escolha do assunto. O Calvinismo como a única, decisiva, lícita e consistente defesa das nações protestantes contra o usurpador e esmagador Modernismo.

http://www.ocalvinista.com/2009/12/calvinismo-versus-modernismo-kuyper.html acesso em 11/02/2011

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