domingo, 27 de fevereiro de 2011

Porque Abandonei o "Poder" das Igrejas Pentecostais


por
Felipe Sabino de Araújo Neto

Definitivamente abandonei o “poder” pentecostal porque todos os pentecostais são ensinados a buscar, clamar e reivindicar um “poder” que de maneira alguma é o poder de Deus. Ao contrário, é um “poder” vazio e sem resultados. Um “poder” que mexe somente com as emoções daqueles que são mais sensíveis e fracos, sem mexer com o mais fundamental: as suas vidas. Por toda a Escritura e durante toda a história cristã dos verdadeiros reavivamentos (como o dos tempos de Jonathan Edwards, George Whitefield, John Wesley, Spurgeon, etc) sempre o resultado desses derramamentos de poder (genuíno) foi o arrependimento dos pecados e uma volta à Palavra de Deus. Curiosamente a geração que hoje reivindica passar por avivamento é uma geração apóstata, uma das gerações mais ignorantes acerca das Escrituras que já existiu; uma geração de “crentes” legalistas, facciosos, trambiqueiros, fariseus e sem uma vida piedosa. Como o Dr. Russell Shedd disse: “Somos 25 milhões de evangélicos no Brasil. Onde está o poder dessa multidão?” A resposta é clara: o Brasil ainda não passou por um verdadeiro avivamento, mas tem passado por diversos movimentos de emocionalismo e falsificações. Rejeito o “poder” pentecostal porque ele carece de provas de genuinidade, não passando pelo crivo da experiência (pois não gera transformações), muito menos no das Escrituras. Em que os crentes pentecostais são melhores do que os ditos tradicionais? São as suas vidas mais piedosas? São mais consagrados? Pelo contrário, se fôssemos fazer comparações (e este não é o nosso objetivo), teríamos razões para crer no exato oposto, porque o maior índice de casos de adultérios e roubos são encontrados nas igrejas pentecostais e neo-pentecostais.
O mais interessante é que, visto que os sinais característicos de um verdadeiro avivamento estão ausentes das igrejas pentecostais, elas têm inventado substitutos para estes. Ao invés de arrependimento, vemos “línguas” (realmente estranhas!) por todos os lados. Ao invés de vida piedosa, vemos pessoas caindo no chão por um “poder” ainda mais estranho. Ao invés de uma volta à Palavra, vemos uma busca desenfreada por “novas revelações” e profecias mentirosas. Ao invés de amor, vemos divisão e facção (geralmente estas igrejas se consideram a mais santa de todas, ou melhor, a única!). Os contrastes alarmantes poderiam ser multiplicados ad infinitum.
O mais interessante é quando pessoas que dizem crer nas doutrinas da graças, ou seja, na salvação exclusivamente pela graça, começam a crer e propagar esse “poder”. Pessoas que dizem crer numa salvação pela graça, mas num reavivamento pelas obras. Pessoas que seguem o ensino de Calvino e seus seguidores na sotereologia, mas o de Pelágio, Finney e companhia no reavivamento. Ora, se tais manifestações ocorrem somente nestes recintos, eles são merecedores delas? Se nas igrejas reformadas (que sem dúvida são as mais fiéis no ensino da Palavra de Deus) não se manifesta tal “poder”, porque deveria ele se manifestar naquelas que mais e mais se distanciam da verdade? A resposta só poder ser: ou esse “poder” é meramente emocional ou ele é diabólico. Todas as bênçãos espirituais foram adquiridas por Cristo para TODOS que fazem parte do Seu povo. Paulo diz que Deus “nos abençoou com todas as bênçãos espirituais em Cristo” (Efésios 1:3). Dizer que alguns crentes não desfrutam das bênçãos que Cristo adquiriu ou que não desfrutam do “melhor da graça”, é simplesmente dizer que eles não são crentes!
E por último, e não menos importante, deixei o “poder” pentecostal porque ele é um “poder” dissociado da Palavra. Um “poder” que se manifesta justamente naquelas igrejas que não são totalmente fiéis às Escrituras e onde a pregação da Palavra está longe de ter um lugar proeminente. O poder que eu quero é o poder que nos transforma, que nos santifica e ajuda a viver mais perto de Deus. Não quero ter meus sentimentos estimulados, mas sim a minha vida transformada dia a dia pelo poder da Palavra de Deus, aplicada pelo Espírito Santo. E o poder santificador reside justamente na Palavra de Deus e não nas artimanhas dos homens. Jesus orou: “santifica-os na verdade” (João 17:17). É a verdade que nos santifica e não os gritos, berros e “corridas” na igreja. Foi para isso que fomos chamados, para viver inteira e exclusivamente para Deus. Como bem expressa o Catecismo de Westminster: “o dever do homem é amar a Deus e glorificá-lo para sempre”. E não é emocionalismo que gerará isso, mas sim a pregação simples e pura da Palavra de Deus, na dependência do Espírito Santo.
Cuiabá-MT, 17 de Maio de 2004.

Felipe Sabino de Araújo Neto
Ex-membro da Assembléia de Deus (por motivos óbvios).

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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A LEI


O Que é a Lei?
Quando se fala da "Lei" é bom especificar a qual refere pois pela Bíblia, existe várias leis e significados da palavra "lei". A lei pode ser a ordem de eventos estabelecida (lei da luz, som e da relação entre os elementos químicos). Neste caso as leis podem ser interpretadas simplesmente como fatos. A lei pode ser também a força que causa a ordem de eventos (lei da gravidade, de calor, da eletricidade, do pecado, etc.). A lei pode referir-se também àquela que obriga a consciência à moralidade. Por existir uma norma há obrigação de conformidade à ela (à lei moral que não é escrita ou à qualquer lei que é escrita enquanto tem uma operação legítima) - Hodge, V.III, p. 259.
Qualquer que seja a lei, a existência de uma lei implica a existência de alguém que deu a lei; ou seja, uma inteligência que age voluntariamente para realizar um propósito. A perfeição das leis naturais que existem (tanto a ordem quanto a força que impulsiona a ordem e aquela que obriga a consciência à moralidade) revela a natureza perfeita desta inteligência (Rom 7:12; I Ped 1;15,16). Pelo fato de um que pode promulgar uma lei é entendida a autoridade tanto para requerer a obediência ou para castigar qualquer desobediência.
As Leis na Bíblia
Nas Escrituras, o uso da palavra !lei? revela uma manifestação da vontade de Deus (Salmos 40:8). Em hebraico !lei? quer dizer instrução (traduzida !ensinamento? em Provérbios 1:8 e em grego a palavra !lei? significa costume ou aquele que rege a conduta do homem (Hodge, Vol III, p.265).
• A Bíblia - regimento moral que é escrito - Salmo 1:2; 19:7-10; 119. "Não seria esta a lei da natureza, que foi escrita no coração inocente de Adão, que agora é prejudicado pelo pecado, e tem se tornado imperfeito e insuficiente para alegrar o homem ou guiá-lo para felicidade verdadeira; nem pela lei de Moisés que é uma lei que condena, e opera ira, acusa o pecado, fazendo o culpado, amaldiçoado e condenado à morte; e portando, não pode alegrar o pecador iluminado, a não ser que este seja nas mãos de Cristo, e cumprida por ele, a Quem a lei aponta; e sendo que está escrito no coração do homem regenerado, quem, sendo regenerado, se alegra pelo homem interior, e a serve com o seu espírito: mas, são as Escrituras, todas que foram escritas na época de Davi; particularmente os cinco livros de Moisés, que tem o nome da Lei e O Testamento do Senhor; as quais, sendo inspiradas, eram proveitosas e boas para serem lidas, e ouvir as suas explicações; e como eram o gozo de Davi e os homens do seu concilio (Sal 119:24); também as são o gozo de todo homem bom, tendo muito nelas que referem a Messias, sua graça e reino (Lucas 24:44; Atos 26:22,23). Também, a palavra "lei" no hebraico significa !doutrina?, e pode significar a doutrina evangélica, como significa em Salmos 19:7; qual é um Salmo que fala acerca da doutrina dos apóstolos que foram pelo mundo e neste sentido é usada em Isaías 2:3; 42:4; da doutrina do Messias, que é O Evangelho; e é igual com a lei ou a "lei da fé" (Rom 3:27). Pode ser chamada a doutrina do Senhor por Ele ser o seu autor; veio por Ele, Ele revelou-a; e por Ele ser o objetivo dela; concerne Ele, Sua pessoa, oficio, graça e justiça; e aquela parte que foi publicada no tempo de Davi, foi um som maravilhoso, boas noticias e boas novas, e a prazer de todo homem bom" (Gill, Online Bible, Comentário sobre Salmo 1:2). Pelo seu efeito na vida do homem a Bíblia é chamada a "lei da liberdade" (Tiago 1:25).
• Lei da beneficência - regimento moral - Provérbios 31:26
• Lei da fé - regimento moral que se baseia no que é escrito - Rom 3:27. Essa lei é "a doutrina da justificação do pecador pela fé na justiça de Cristo." (Gill). Efés 2:8,9.
• Lei da justiça - regimento moral - Rom 9:31
• Lei de Cristo - regimento moral - Gal 6:2. Essa lei é: "a lei de amar uns aos outros (João 13:34,35) qual é oposto à lei de Moisés, da qual os Gálatas judaizares gostaram tanto, e pela qual os discípulos de Cristo podem se distinguir dos que são de Moisés, ou de outros. ... é o Seu novo mandamento, que Ele capacitou e autorizou pelo Seu próprio exemplo na morte pelo seu povo, e qual, pelo Seu Espírito, escreve nos seus corações" (Gill). A Lei de Cristo é o mesmo regimento moral da "Lei de Deus". O que motiva uma mudança de nome é que quando a Lei de Deus é manejado por Cristo e chamada a "Lei de Cristo" é porque a Lei de Deus não é mais em relação do Criador à criatura mas de Salvador ao salvo (Pink).
• Lei de Deus - regimento moral - Os anjos pecaram antes do homem. O pecado é "iniquidade" (I João 3:4;5:17) e iniquidade é definida pelo grego como sendo 1) a condição de ser sem lei por ser ignorante dela ou por violar ela 2) repúdio ou violação da lei, impiedade (Strong?s, # 458 anomia). A Bíblia traduz essa palavra grega sempre como iniquidade (Mat. 7:23; 13:41; 23:28; 24:12; Rom 4:7; II Cor 6:14; II Tess 2:3, 7; Tito 2:14; Heb 1:9; 8:12; 10:17; I João 3:4) ou maldade (Rom 6:19, Concordância Fiel). A palavra em I João 5:17 traduzida "iniquidade" vem de uma palavra grega (Strongs, #93 adikia) que significa injustiça, 1) de um juiz 2) de coração ou vida 3) ou de ação que viola a lei e justiça. O fato que os anjos pecaram revela que existia uma lei para eles. Pela natureza da punição entendemos que era uma lei moral e espiritual (Judas 6, "reservou em escuridão e em prisões eternas"). Essa lei é santa e segundo a verdade. Essas qualidades são atributos de Deus. É essa lei que está escrito no coração dos gentios (Rom 2:1-16) os quais eram sem a lei de Moisés. Essa lei é um regimento moral (Rom 7:22,25; 8:7; Neemias 10:28), foi incorporada pela Lei de Moisés (Neemias 10:29) e ainda continua depois que Cristo cumpriu a Lei de Moisés (Rom 7:6,22,25). A "Lei de Deus" pode referir-se também à Palavra de Deus (Josué 24:26).
• Lei de Moisés - regimento escrito - Não é a Lei que originou com Moisés mas foi dada através dele (Neemias 8:14; João 1:17; 7:19). Essa lei de Moisés engloba o Pentateuco (os primeiros cinco livros da Bíblia) e é chamada a Lei do Senhor ou de Deus por ser Deus o autor (Isa 5:24; Neemias 8:8,18; II Reis 10:31; II Crôn 12:1; Luc 23:24,29). Tem o nome de "Lei da verdade" (Mal 2:6), "Lei dos pais" (Atos 22:3), "Lei dos mandamentos" (Efés 2:15) e "Lei do mandamento" (Heb 7:11) para revelar seu atributo, sua natureza e a quem foi dada. Em Romanos 9:31 essa lei de Moisés é chamada a "lei da justiça" porque: "o conteúdo dela é justiça, e também a sua natureza; e porque obediência perfeita à ela é justiça" (Gill). Veja também a seção !O Decálogo e a Lei?.
• Lei do Espírito - regimento moral - Rom 8:2. " é chamada "lei" por que é uma doutrina, tem ordem e como uma corrente, tem elos de verdades, como a palavra hebraica significa e as vezes é usada para referir-se ao Evangelho (Isa 2:3; 42:4; Rom 3:27). Pode ser chamada a lei ou doutrina "do Espírito" porque o Espírito é o autor do Evangelho, e é Quem O capacita e faz que Ele seja eficaz para o bem nas almas. Pela doutrina, O Evangelho, o Espírito de Deus é transmitido ao coração; e a substancia da doutrina são coisas espirituais: é chamada "a lei do Espírito da vida" porque essa lei descobre o caminho da vida e salvação por Cristo; é o meio da vivificação dos pecadores mortos; e opera fé neles, pela qual vivem em Cristo" (Gill).
• Lei do Governo Civil - regimento escrito - Daniel 6:8; Rom 13:1-7; Ezra 7:26; Ester 4:11. Lei dos judeus, Atos 25:8
• Lei do meu entendimento - regimento moral - Rom 7:23. O John Gill diz dessa lei: "querendo entender que a "lei do meu entendimento" é, ou a lei de Deus escrito na sua mente na conversão, aquele que era gozo para ele, e a serviu com o seu entendimento, que foi renovado com o Espírito de Deus; ou a nova natureza nele, o princípio de graça que foi operado no seu entendimento, e chamada "a lei" por que era o princípio que governa ..."
• Lei do pecado - regimento imoral - Rom 7:23, 25; 8:2
• Lei dos Pais - regimento moral - Provérbios 3:1; 4:2; 6:20,23; 7:2: Lei da mãe - Prov 1:8; 6:20.
O Decálogo e A Lei de Moisés
Na Bíblia, ao referir à lei de Moisés, não se acha a distinção de lei "moral", "cerimonia" ou "civil" mas somente: "lei", "lei do Senhor"e "lei de Moisés". Nisso podemos entender que aquele chamada popularmente "O Decálogo" é só parte da lei e não "a lei" em si. Há muitos que querem distinguir o decálogo como a mais importante parte da lei, a parte moral, e as outras partes, as cerimonias ou civis, inferiores. Essa distinção popular não é uma distinção bíblica. O decálogo, os dez mandamentos, não são a única moral na lei, mas, faz parte do que foi dada a Moisés no monte, escrito pelo dedo de Deus, é parte de que é dado pela inspiração e escrito pela mão de Moisés (Canright).
É claro que a lei tem as partes morais, cerimônias e civis. Essas partes, em si, não são distinguidas como sendo maior ou menor da "lei" mas contrariamente, a própria lei. A parte cerimonial (sacrifícios) é chamada "lei" (Lucas 2:27). A parte moral é chamada "lei" (I Timóteo 1:9). A parte civil é chamada "lei" (Atos 23:3).
A Bíblia se refere à lei como sendo os cinco livros do Pentateuco. As palavras "A Lei" na Bíblia geralmente se referem a Lei Mosaica, ou ao Pentateuco" (Dicionário Smith, citado por Canright). Pode entender isso comparando o resto da Bíblia com o Pentateuco. Entenderá que a Bíblia distingue o Pentateuco como sendo a lei. Gênesis é a lei (I Coríntios 14:34; Gênesis 3:16); Êxodo é a lei (Romanos 7:7; Êxodo 20:17); Levítico é a lei (Mateus 22:39; Levítico 19:18); Números é a lei (Mateus 12:5; Números 28:9) e Deuteronômio é a lei (Mateus 22:36, 37; Deuteronômio 6:5).
As Limitações da Lei
Existe limitações importantes na lei. Esse assunto é uma importante consideração para os que querem depender da lei para a sua justificação eterna ou mesmo para os que usem a lei como modelo de vida. O que diz a Bíblia sobre a lei? Ela nos mostra que ela é limitada, por isso aponta a Cristo Quem é perfeito e o único que pode nos aperfeiçoar.
A Lei não pode:
• nos justificar, mas Cristo pode - Atos 13:38,39; Gal 2:16
• nos livrar do pecado e da morte , mas Cristo pode - Rom 8:2,3. A falha não está na lei mas na carne.
• nos livrar da condenação, mas Cristo pode - Rom 8:1-4
• nos livrar da maldição, mas Cristo pode - Gal 3:10-14
• nos remir, mas Cristo pode - Rom 3:24-31; Gal 3:13,14
• nos dar herança, mas fé em Cristo pode - Rom 4:13,14
• nos aperfeiçoar, mas Cristo pode - Heb 7:19, 25; 10:1-10
• controlar o pecado no homem, mas Cristo pode - Rom 7:7-25; 8:2
• capacitar o homem à obediência, mas Cristo pode - Heb 7:18; Fil. 4:13
Não devemos achar, pelas limitações citadas, que a lei não é boa ou que não teve utilidade nenhuma. Ela é útil mostrar a necessidade do homem ser santo para chegar às bênçãos de Deus e por isso foi chamada a "lei da justiça" (Rom 9:31). Pela lei sabemos que somos pecadores (Rom 7:7) e que Deus é santo pois "a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom." (Rom 7:12). Todavia ela rege sobre o homem que é carne (Rom 8:3), incapaz (Rom 8:7,8), morto em pecados e ofensas (Efés 2:1). Portanto a lei é limitada pela impiedade do pecado existente no homem. É essa limitação que revela a necessidade de um salvador. Assim é apontada a pessoa de Cristo (Gal 3:13). O pecador, pela fé em Cristo, tem a justificação que a lei não pode trazer devido a fraqueza da carne (Rom 8:3,4; Gal 3:21,22). Está em Cristo?
Natureza da Lei de Moisés
• A Israel, Nacional - Êx. 19:3, "Assim falarás à casa de Jacó, e anunciarás aos filhos de Israel" (Rom 9:4,5)
• Secundária - A promessa veio em primeiro lugar; a lei veio depois. Cristo foi prometido como Salvador (Gên. 3:15) e a Abraão foi prometido ser uma grande nação (Gên. 12:1-3) antes que a lei foi dada. É estimado que a primeira promessa de Cristo veio uns dois mil anos antes de Abraão. Sabemos que de Abraão até a lei foram quatrocentos e trinta anos (Gên. 15:13; Êx. 12:40; Gal 3:17). A lei foi dada uns mil e quinhentos anos antes de Cristo (Bíblia Vida). A promessa de Cristo foi primeira e não foi invalidada pela lei de Moisés (Gal 3:16-18). Fé em Cristo é maior da lei (Gal 3:26-29).
• É Servidão - A lei de Moisés rege pelas obras e quem se submete à ela, é obrigado a viver por ela (Gal 3:12). Gálatas 4:21-26 descreve a diferença entre as obras da lei e a fé em Cristo. Uma é para servidão (a lei) e outra para liberdade (a promessa, Cristo). Pela assembléia em Jerusalém Paulo estabelece, quem está em Cristo é livre das obras da lei (Atos 15:1-10).
• Temporária - A lei tem as suas qualidades gloriosas (ver a seção "O Propósito da Lei de Moisés") mas, permanência não é uma delas (II Cor 3:11). Quando o propósito da lei fosse cumprido terminaria a sua existência (Gal 3:23-25). Por Cristo ser maior que a lei, ela foi abolida quando Cristo morreu (Lucas 23:45; Heb 6:19; 9:3; 10:20; Col 2:14-17; II Cor 3:16,17).
• Simbólica - A lei mostrava "as sombras das coisas futuras" (Col 2:17; Heb 10:1) que eram "celestiais" (Heb 8:4,5). O proveito do estudo da lei é pelo conteúdo dela mostrando as coisas futuras e celestiais (Cristo).
• Imperfeita - O que limitou a lei era a fraqueza do homem por causa do pecado (Rom 8:3,4). É neste entendimento que a lei é repreensível (Heb 8:7-13; Jer 31:33,34), imperfeita ou algo que se pode tornar velho. Se pode envelhecer ao ponto de precisar uma Nova Aliança, é imperfeita. A lei não pode fazer ninguém perfeita (Rom 3:20), mas, pela Nova Aliança (Cristo) vem a perfeição (Col 2:9-12). A imperfeição e a limitação da lei é entendida em que ela não pode tirar os pecados (Heb 10:4). O que é perfeito é Cristo (II Cor 5:21) e pela fé nEle vem a justificação (Gal 3:24; Rom 5:1,2; 8:1,2) e todas as bênçãos celestiais (Rom 4:13,14; 8:17; Efés 1:3).
• Terrena - A Lei cuidava do homem somente enquanto estava no mundo. Não dava esperança de receber galardões futuros (celestiais) ou de escapar a maldição eterna. Existia bênçãos enquanto obedecia ou maldição se desobedecia, mas, essas bênçãos ou maldições eram recebidas em vida na terra (Deut 28). Não trouxe vida ou morte eterna, mas, prometia condenação (II Cor 3:7-11). A lei não é da fé (Gal 3:12). A fé nos dá herança na salvação (Efés 2:8,9).
O Propósito da Lei de Moisés
• A Lei de Moisés mostra principalmente como Deus é santo (Rom 7:12 - Crisp). Ela reflete a santidade de Deus e que o homem que quer chegar a Deus deve ser obediente em tudo e limpo de toda imundícia. Nisso se entende a natureza santa de Quem deu a Lei de Moisés. Pela lei estipular um "Não" à qualquer coisa (Êx. 20:10, 13-17), a sua moralidade é vista. Os absolutos morais estão estabelecidos e conhecidos pela lei. Aquele que não responda favoravelmente a eles é condenado e aquele que responda favoravelmente é abençoado. Essa lei santa e moral de Deus é o que está escrito nos corações de todos os povos (Rom 2:14-16). Quando se considera o sofrimento que era necessário para Cristo padecer (Luc 9:22), as feridas reais que Cristo levou (João 19:1-30) e como Deus moeu o Seu Unigênito (Atos 2:23; 4:27,28) pode entender um pouco mais a santidade de Deus. Levou tal sacrifício para lavar o pecador ao ponto de chegar a Deus (João 14:6). A Lei, pela sombra dos bens futuros (o sacrifício de Cristo) revelava essa santidade de Deus (I Ped 1:16).
• Além de mostrar a santidade de Deus o propósito da Lei de Moisés era reger a nação de Israel civicamente (Deut 4:14; 5:1-3; Malaquias 4:4; Rom 9:4;). Até Sinai, Israel era misturada entre as outras nações e sujeitas às leis daquelas nações. Com o povo de Israel saindo do Egito, pela mão de Moisés, e caminhando para a sua terra prometida, Deus os preparou para ter as suas próprias leis civis como uma nação separada de todas as demais. Por isso a Lei de Moisés é nacional, secundaria, a servidão e terrena (Veja a seção: Natureza da Lei de Moisés). Ela era para governar Israel civicamente como uma nação teocrática (Êx. 20:2-7, "Eu sou o SENHOR teu Deus"). A lei moral e espiritual que existia antes de Moisés continuava pela Lei de Moisés e continua até hoje (Mar 12:28-34, "Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração ... e ... Amarás o teu próximo como a ti mesmo").
• A Lei de Moisés foi dada para o homem entender a iniquidade do pecado e restringi-lo do pecado (Rom 5:13,20; 7:12,13). A Lei de Moisés não foi dada para o homem justo. O homem justo já obedecia a lei de Deus que é espiritual e moral, e, assim, cumpria tudo o que uma lei civil podia pedir. Coincidentemente, quem cumpria a lei espiritual e moral também cumpria os princípios do evangelho do Novo Testamento. A Lei de Moisés foi dada para o homem injusto (I Tim 1:9-11; Gal 3:19). Qanto mais a Lei de Moisés for aplicada mais o homem se vê transgressor (Rom 7:13).
• A Lei de Moisés aponta ao Salvador, Jesus Cristo. O homem, pela lei, se viu pecador maligno (Rom 7:13-17), e, como pecador, deve se ver fraco e uma pessoa condenada necessitando um salvador. O Salvador a qual a lei aponta é Cristo (Gal 3:24,25; João 1:29; Heb 10:1-10). Qanto mais a Lei de Moisés condenava, mais é vista a graça de Deus em Jesus (Rom 5:20).
Portanto, não há perigo nenhum pregar a Lei de Moisés em todas os seus propósitos. A santidade de Deus será entendida, o equilíbrio das leis cívicas serão aceitas, a impiedade do pecado será estabelecida e a graça de Deus será fortemente declarada. O que não precisa ser feita é usar a lei pelo propósito da qual ela não foi entendida (nos justificar).
O Uso da Lei nos Dias Atuais
A Lei tem proveito para hoje?
Aquele que Deus é influi naquilo que Ele faz e deseja. Ele não pode agir contra o Seu próprio desejo ou natureza (Heb 6:17,18). Por Deus ser perfeito e eterno, Ele tem um eterno propósitoou decreto (Rom 8:28; Efés 3:11, "eterno propósito"). Deus não tem vários planos temporários mas um plano que Ele revela em maneiras diferentes pelos séculos. Também por Deus ser santo(I Sam 2;2; Isa 6:3), Seu propósito eterno é perfeito e santo. Por isso Deus não precisa de um plano de reserva pois o propósito (usado no singular) é perfeito. Pela vontade santa e eterna, Deus faz todas as coisas (Efés 1:11). Do começo da eternidade até o fim da eternidade todas as coisas que venham a acontecer são pela vontade de Deus. A santidade de Deus e a Sua qualidade de ser eterno indica que Deus nunca mudará (Mal 3:6). Por isso o Apóstolo Paulo escreve aos Romanos que "tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito" (Rom 15:4). Se a vontade de Deus não muda, o Seu eterno propósito é santo e perfeito, e, se as Escrituras Sagradas foram produzidas para o nosso ensino; então há uso da Lei de Moisés ainda nos dias atuais. As cerimonias, estatutos, julgamentos e princípios da Lei de Moisés são proveitosas e boas, se usadas "legitimamente" (I Tim 1:8).
Pela Lei de Moisés somos ensinados que Deus é soberano (Deut 6:4; Êx. 20:1,2). Por Deus ser o soberano criador Ele tem direito de ser adorado singularmente por todos (Apoc 4:11; Sal 86:9). Por Deus ser santo Ele tem merecimento de ser adorado como o Soberano (Apoc 15:4). Por Deus ser soberano Ele tem a dignidade e poder para ser temido por todos (Sal 89:7; Luc 12:5). A Lei de Moisés mostra que Deus é soberano (Êx. 20:1-3) e por isso é proveitosa a lei ainda hoje.
A Lei de Moisés nos instrui que o soberano Deus deseja serglorificado acima de tudo (Êx. 20:2-7). Deus é glorificado pela obediência rígida da sua lei (Num 20:12; Lev 10:1-3; Ecl 12:13). Se olhássemos à Lei de Moisés para entendermos que Deus é zeloso (Êx. 20:5; 34:14; Deut 4:23-26) seremos sábios. Essa sabedoria é pela instrução da Lei de Moisés e assim revela que a lei é benéfica para hoje.
Pela Lei de Moisés devemos ser conscientizados que Deus ésanto. Se Deus é santo, a Sua lei é também (Neemias 9:13; Rom 7:12). Pela santidade da lei, Moisés anima o povo a obedecer a lei e amar Deus como Soberano (Deut 4:8). O Salmista nos diz que a "lei do SENHOR é perfeita" e por isso guardar a lei traz "grande recompensa" (Sal 19:7-11). A santidade de Deus é razão suficiente a procurar proveito na Lei de Moisés ainda hoje.
Pela Lei de Moisés percebemos que o homem é impiamente pecaminoso. O proposto da lei é revelar ao homem que ele é pecador por transgredir o desejo do Deus soberano e santo. Sem uma lei, não há transgressão (Rom 7:8, "sem a lei estava morto o pecado") mas com este !conjunto de normas? (o significado da palavra !lei? segundo o dicionário Aurélio) o pecado é entendido em toda a sua malignidade (Rom 7:9,13; I Cor 15:56; Tiago 2:9). O homem que usa a lei para se conhecer, será convencido que ele é um transgressor diante de Deus. Este que usa a Lei de Moisés como um espelho entenderá que o Deus soberano e santo é justo em derramar toda a Sua santa ira sobre homem transgressor (João 3;36). Se a Lei de Moisés mostra o homem como ele é verdadeiramente conhecido diante de Deus (Sal 14:3,4; 53:2,3; Rom 3:10-23) e se o homem ainda é pecador nos dias atuais, a Lei de Moisés é proveitosa agora.
Pela Lei de Moisés entendemos a justiça de Deus. O delito, mesmo que seja mínimo, tem que ser retificado pois aquele que "tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos" (Tiago 2:10). Mesmo que haja perdão com Deus, a lei é clara que "ao culpado não tem por inocente" (Êx. 34:7; Naum 1:3). A santidade e a perfeição de Deus pede a condenação do pecado e o poder de Deus garante a aplicação dessa condenação. Sem a Lei de Moisés revelando a justiça de Deus, a própria ira de Deus derramada em Cristo e a razão do Evangelho têm menos sentido. Se a justiça de Deus não seja percebida, o pecador terá uma compreensão menos clara da sua impiedade. A Lei de Moisés ensina que somente pelo sangue existe remissão (Heb 9:22). Sem a observação exata requerida pela lei a alma pecadora seria "extirpada do seu povo" (Lev 7:20,21; 18:29; 20:18; Num 15:30). Pela Lei de Moisés revelar a justiça de Deus claramente e pelo homem ser ainda pecador, o proveito da Lm é evidente para os dias de hoje.
Pela Lei de Moisés entendemos a eqüidade nas leis civis. É verdade que a Lei de Moisés serviu para a nação de Israel literalmente (Deut 6:4, "Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único SENHOR"). Mas nem por isso a lei não é proveitosa para outras nações. Quando as leis civis tomam a Lei de Moisés como exemplo, a justiça reinará abertamente. Mais perto uma nação esteja aos princípios da Lei de Moisés menos tolerante às tolices em todos os níveis da sociedade fica. Ainda é uma verdade que a nação cujo Deus é o SENHOR, é bem aventurada (Sal 33:12). A lei pede amor uns aos outros (Rom 13:8-10; Gal 5:14; Tiago 2:8), salário justo para quem trabalha (I Cor 9:7-10), posição de submissão das mulheres diante dos homens (I Cor 14:34) e o respeito que filhos devem ter para com os pais (Efés 6:1-3). O tratamento da Lei de Moisés diante do criminal, o pobre, o desamparado, o surdo e o cego, a higiene, o casamento, os empregados, o comercio, etc., faz sentido para qualquer povo. A tendência do homem é se afastar de Deus em vez de reter os Seus princípios santos e assim trazer para ele em particular, e à sua sociedade em geral, o fruto da carne (Gal 5:19-21). A eqüidade civil que a Lei de Moisés promove faz com que ela seja proveitosa nos dias de hoje.
Pela Lei de Moisés compreendemos que Deus é gracioso. As lavagens, consagrações, holocaustos, ofertas e os princípios da lei tudo apontam à santidade de Deus e como um homem pecaminoso pode se aproximar a este Deus santo. A Lei de Moisés, pelas sombras e simbologia dela, apontava os "bens futuros" (Heb 10:1) que é o Cristo Jesus. A lei providenciou a remissão dos pecados assim mostrando a graça de Deus em fazer salvação. Mas a remissão que agrada Deus é somente pelo sangue (Heb 9:22). Por a lei apontar a Jesus João Batista, quando viu a Jesus, que vinha para ele, disse, "Eis o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo" (João 1:29). As Escrituras apontam exclusivamente a Cristo como sendo o sacrifício verdadeiro que as sombras da lei apontavam (Heb 9:23-28; I Ped 13-23). Enquanto a lei mostra a abundância do pecado no homem, ela também revela a graça de Deus que superabunda por Jesus Cristo (Rom 5:18-21). Por causa da Lei de Moisés revelar claramente a graça de Deus em Cristo ela é proveitosa em qualquer tempo.
Já se julgou pecador culposo pela lei justa de Deus? Já clamou pela misericórdia de Deus? A Sua misericórdia é vista claramente no Seu filho Jesus Cristo. Pede perdão pelos seus pecados dependendo de Cristo como o sacrifício suficiente que Deus deu para todo pecador que se arrependa verdadeiramente. Não busque a sua própria justiça em qualquer outro plano, crença ou pessoa. Somente por Cristo temos a plena justiça de Deus (I Cor 3:11; II Cor 5:21).
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CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS SOBRE A LEI
A Vida Cristã e a Lei de Moisés
Há utilidade da Lei de Moisés para o crente que está esperando em Cristo para toda a sua justificação? A liberdade Cristã é libertinagem Cristã? Devemos ou não obediência à Lei de Moisés? Se passou a Lei de Moisés, existe uma lei para o crente nos dias atuais? Se não passou a Lei de Moisés devemos ainda respeitar a cerimonia que a lei pede?
Pela Palavra de Deus podemos afirmar que o crente não tem mais uma obrigação à Lei de Moisés. A Lei de Moisés era à nação de Israel e não ao gentil. A lei era simbólica e não o atual. A lei era temporária apontando ao eterno: Jesus Cristo. Cristo cumpriu a lei sendo aquele que a lei simbolizava e apontava (Gal 3:24,25). Pela fé em Cristo, e não pela lei, o crente tem a justiça de Deus (Rom 3:21-24; II Cor 5:21), paz com Deus (Rom 5:1,2), vida eterna (João 3:16; Rom 6:23; Efés 2:1), uma herança incorruptível (Rom 8:16,17; I Ped 1:3-9), bênçãos eternas (Efés 1:3) e capacidade de agradar a Deus nesta vida terrena (Fil. 4:13; Tito 2:12-14). A Lei de Moisés cumpriu o seu propósito.
Ao mesmo tempo que afirmamos que o crente não tem obrigação à Lei de Moisés, devemos entender que o Cristão tem uma lei sobre ele. O crente não está sem lei. Mesmo que Cristo é toda a justiça para o crente ainda há lei sobre o Cristão. A diferença está qual lei rege sobre o Cristão e não se tem ou não tem uma lei. O soberano Deus não muda (Malaquias 3:6; Tiago 1:17) e podemos saber que desde o princípio, mesmo antes do pecado, Deus estipulou a lei que regia (Gên. 1:26; 2:17). Depois que Cristo cumpriu a lei (Mat. 5:17; João 19:30), e nisso, desfez, a lei dos mandamentos (Efés 2:15), a "justiça da lei", que era incorporada na Lei de Moisés, agora rege no crente. O crente pratica essa "justiça da lei" (que é igual à "lei de Cristo" - I Cor 9:21) pelo Espírito que está nele (Rom 8:3-5). É o Espírito Santo que leva o crente à santidade e, por causa da presença dEle, o crente deve e pode deixar o pecado (Efés 4:17-32; Prov. 4:18; I João 2:1-7; 3:1-11).
Não há obrigação, ou servidão, nesta lei de Cristo. Todavia há uma boa lógica de bom senso que afirma que na presença da lei há uma racionalidade de amor que ensina o nosso dever espiritual (Rom 8:12-16;12:1-3;6:17,18; Col. 3:1-25). A importância desta "lei de Cristo" (I Cor 9:21) não é que ela é a nossa justificação diante de Deus, mas, que por ela, os Cristãos, andem em santificação diante dos homens para serem testemunhas para glória de Deus (Rom 6:22; 8:4; Mat. 5:13-16; Atos 1:8).
A LEI E A GRAÇA
João 1:17, "Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo."
Por causa de João 1:17 um pensamento surge que sugestiona a lei e a graça são dois sistemas separados e contrários ou contraditórios de um e outro. Há confusão sobre se antes do tempo de Cristo ministrar na terra existia a graça de Deus. A força da dúvida pode até sugestionar a salvação no Velho Testamento era pelas obras da Lei de Moisés e no Novo Testamento a salvação é pela fé em Cristo.
A verdade é que com Deus "não há mudança nem sombra de variação" (Tiago 1:17; Mal 3:6; Heb 1:11,12; 13:8). Em qualquer época, a verdade eterna é: se existe salvação existe a graça de Deus. Sem a graça de Deus não há salvação (Efés 2:8,9). Disso podemos entender, se houve salvação no Velho Testamento, houve graça também.
A graça que veio por Cristo não foi para destruir a lei ou os profetas, mas para a cumprir (Mat. 5:17). Pela fé em Cristo Jesus a lei é estabelecida porque a lei simbolizava a graça e apontava a Ele (Rom 3:21-31). O fim, quer dizer o alvo, propósito, finalidade ou objetivo ("fim" no grego # 5056, Strong?s), da lei era Cristo (Rom 10:4) e não contraria a Ele. A lei sempre estava no coração de Cristo e Ele a amava pois a Lei revela o desejo de Deus (Sal 40:6-8; Heb 10:3-12). A Lei de Moisés e a graça por Cristo não são opostos, mas, duas partes de um mesmo sistema (citação de Dr. McNichol por Pink, p. 3). A lei apontou a Cristo, e, Cristo cumpriu a lei (Gal 3:21-26).
Na verdade, o Velho Testamento é cheio de graça e o Novo Testamento é cheio de lei. A lei simbolizava a graça pela cerimonia dos holocaustos e oblações e Cristo é a graça de Deus da qual a lei simbolizava (Heb 10:1-10). A graça veio, não em oposição à lei, para oferecer outro plano, mas para satisfazer os requisitos da lei e mostrar por Quem as suas obrigações estão cumpridas. Por isso João 1:17 estabelece que a verdade (o atual a qual a lei apontava) veio por Jesus Cristo (Gill). O crente em Jesus Cristo cumpre tudo que a lei apresenta quando vive pelo Espírito para a honra de Deus por Cristo (Rom 8:4; Gal 5:16-18; 6:14-16).
A LETRA DA LEI E O ESPÍRITO DA LEI
Romanos 7:6, "Mas agora temos sido libertados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra."
II Cor 3:6, "O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica."
Como já tem sido estabelecido, Deus não muda (Tiago 1:17; Mal 3:6; Heb 1:11,12; 13:8). A intenção de Deus sempre é ser visto e amado como Deus. A primeira aliança, com Abraão (Gên. 17:7-9) tinha a finalidade de Deus ser posto por Deus entre o Teu povo. O SENHOR comunicou ao profeta Jeremias este mesmo desejo (Jer 9:23,24) assim revelando o intento de Deus ser amado e louvado como o único vivo e verdadeiro Deus (Deut 6:4,5; Mar 12:29,30; Isa 45:22-25). Quando Jesus ensinou os discípulos a orarem ensinou-os a amar e louvar o Senhor Deus (Mat.. 6:9-13). A própria vida de Jesus declara claramente como amar a Deus (João 5:30; 17:4).
Como temos estudado (veja as Limitações da Lei e O Propósito da Lei) a lei veio, entre outros aspectos, revelar ao homem o seu estado de pecador e que o pecado se fizesse excessivamente maligno, ou seja, a completa falta da glória de Deus (santidade) diante de um Deus Santo (Rom 7:7-13).
Se qualquer olhar à letra da lei (o que é escrito) como uma finalidade em si, quer dizer, crer que não existe uma intenção maior na lei além de ser obedecida exteriormente à risca, o espírito da lei (o que a lei intenta) será perdido e ficará desobediente à lei (Rom 2:25-29).
A Letra da Lei
A letra da lei (a cega obediência à todas as cerimonias) mata (II Cor 3:6) pois pelas obras da lei o pecado é conhecido e somos convencidos excessivamente malignos (Rom 7:6-13). Pela observação de tudo o que a lei diz (a letra) o pecado é conhecido (Rom 3:20) e entendemos a devida posição nossa sob a ira de Deus (Rom 4:15; João 3:36). A observação das obras da lei (a letra da lei) leva à maldição e nunca pode nos livrar dela (Gal 3:10,11).
O Espírito da Lei
O espírito da lei (a intenção da lei) é fé em Cristo (Gal 3:23-29) e pela fé Deus é glorificado com a adoração devida (João 4:23,24). O espírito da lei é a "justiça da lei" (Rom 2:26), a obediência da lei no coração (Rom 2:29) o qual Deus aprova. Pela fé em Cristo e pela nova criatura que vem por Ele (II Cor 5:17) os que entraram no espírito da lei são livres da letra da lei, pois, a letra já os matou e os conduziu a Cristo (Rom 8:2; Gal 2:20).
Os Crentes em Cristo
Os crentes, pela fé em Cristo, pelo Qual observam o espírito da lei, são determinados a circuncisão verdadeira (Fil. 3:3; Rom 2:25-29). Sirvam "em novidade de espírito" e não mais na "velhice da letra" (Rom 7:6; II Cor 3:6).
As cerimonias da lei (a letra) não estão mais em força sobre o crente, mas o intento da lei (o espírito) é, e, sempre será. Se os crentes não guardam as cerimonias exteriores da letra da lei (guardar o sábado, respeito da alimentação permitida e as outras milhares regras da lei) mas, de todo o coração amam Deus e seguem o espírito da lei que é a palavra e o exemplo de Cristo (dia do Senhor, submissão a Deus, ser santo) cumprirão o desejo eterno de Deus (João 4:24).
Os que andam em Cristo são da semente de Abraão quem, pela fé, ainda na incircuncisão, creu naquele que justifica o ímpio, Jesus Cristo (Rom 4:1-17). Como Abraão obedeceu o espírito da lei pela fé (para que seja da graça, v. 16) e foi justificado diante de Deus, hoje, os que crêem em Cristo pela fé (para que seja da graça, Efés 2:8,9) também são justificados diante de Deus.
Você está submissa à letra da lei (as obras) que mata e mostra a necessidade de ser salvo pela graça de Deus, ou, está já confiando no espírito da lei (a fé em Cristo para agradar a Deus) que vivifica (Rom 8:4-11)? A sua submissão a Deus de coração está vista pela sua testemunha pública de uma vida limpa pelo mundo afora? Eis o espírito da lei.
Conclusão
Pelo estudo da Lei de Moisés entendemos melhor o que significa a palavra !lei? e de quantos tipos existem na Bíblia. Estudamos as diferenças destas leis mencionadas na Bíblia para que o servo de Deus maneja melhor a Palavra de Deus. Até o decálogo foi comparado em relação a lei para compreender que ele, em si, não residia a totalidade da lei mas era parte da lei.
As limitações da Lei de Moisés são entendidas quando qualquer procura pela obediência rígida da lei a justiça de Deus. A justiça de Deus é somente pelo Cordeiro de Deus, o Jesus Cristo, o qual a lei aponta.
A natureza e o propósito da lei foram estudados para entender como a lei foi programada ser utilizada no tempo de Israel e quais razões que ela foi promulgada.
Mas nem pela lei ser programada e promulgada para a nação de Israel ela torna ser um ensinamento obsoleto. Por causa da vontade de Deus nunca ter mudada e pelo fato do homem ser sempre um pecador a Lei de Moisés tem muitas utilidades ainda nos dias atuais. A utilidade da Lei de Moisés é entendida quando se percebe as verdades eternas existentes nela. Ela declara fielmente a realidade da santidade e a justiça de Deus, a condenação de todos que tropeçam em um só ponto dela, e a salvação perfeita por Jesus Cristo. Ela também é útil nos dias atuais para reger as sociedades pelos princípios justos que ela contém.
Considerações especiais foram tratados na consideração da atitude do crente ao respeito da lei para que ele veja uma responsabilidade não às cerimonias da lei, mas, ao espírito da lei. Mesmo o crente não tendo uma obrigação à letra da Lei de Moisés ele tem responsabilidade ao espírito da lei. O espírito da lei é a lei de Cristo que o Espírito Santo rege no crente. Pelo estudo mais preciso da lei diferenciamos a letra da lei e o espírito da lei entendendo o fato de se o Judeu ou o gentil observa só a letra da lei a condenação eterna é declarada, mas, se Judeu ou o gentil observar o espírito da lei pela fé, há justiça.
Concluímos que nunca devemos racionar que mesmo que Moisés veio antes de Cristo que nunca existia graça na lei. A graça que a lei apontava realizou se perfeitamente em Cristo.
Que todo homem seja julgado por ela e que a graça de Deus por Jesus Cristo seja validamente vista pela Lei de Moisés. Se assim se faz, o propósito da Lei de Moisés será realidade e a vontade eterna de Deus feita.
Bibliografia
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CANRIGHT, D.M., Estudo "A Renuncia de Adventismo do Sétimo Dia" ("Seventh-day Adventism Renounced"), 1914, http://web2.airmail.net/billtod/ch17.txt
CLOUD, D. W, Enciclopédia da Bíblia e da Cristandade Caminho de Vida (Way of Life Encyclopedia of the Bible and Christianity, Ver 2.0, Oak Harbor, WA, http://wayoflife.org
CONCORDÂNCIA FIEL DO NOVO TESTAMENTO, Vol 1, Editor Fiel da Missão Evangélica Literária, S. J. dos Campos, São Paulo, 1994
CRISP, Ron, Estudos em Êxodo (Studies in Exodus), EUA, 1998
DICIONÁRIO AURÉLIO ELETRÓNICO, V. 2.0, um produto da Editora Nova Fronteira baseado no Novo Dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Junho, 1996
GILL, John, Comentário da Bible Inteira (Commentary of the Whole Bible), Online Bible
HODGE, Charles, Teologia Sistemática (Systematic Theology), Eerdmans Publishing, EUA, 1982
PINK, Arthur W., A Lei e o Santo (The Law and the Saint), Chapel Library (chapel@cheney.net), Pensacola, FL, EUA, s/d
STRONG, James, S.T.D., LL.D, Concordância Exaustiva da Bíblia (Exhaustive Concordance of the Bible, Abingdon, Nashville, EUA, 1981

Autor: Pastor Calvin Gardner
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br
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http://www.palavraprudente.com.br/estudos/calvin_d/miscelania/cap08.html Acesso em 25/02/2011

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O Divino e o Humano no Calvinismo


Calvino cria na absoluta soberania de Deus. Como os outros Reformadores, ele cria também que o crente, em seu coração, é imediatamente ligado ao Deus soberano, como Ele se revelou em sua Palavra. Como já mostramos (em outro lugar), isto não significa que a atividade soberana de Deus, para Calvino, se mantenha numa relação de indiferença ou, possivelmente, de antítese para com aquilo que é humano e para com aquilo que pertence ao campo das realizações culturais humanas. Calvino entendia de tal modo a atividade de Deus, que não deixava lugar a um tal dualismo. O Deus que opera soberanamente no coração do homem, é o mesmo Deus que se revelou como o Criador do homem e dos valores de sua cultura.

Aquele que tem um profundo domínio da revelação que Deus fez de si mesmo, como Criador, compreenderá que o divino e o humano não devem ser concebidos como se fossem extremos contrários de um espectro, de modo que exaltar a um, seria, de per se, rebaixar o outro. Deus não é honrado quando se envilece a Sua criação, nem a criação é exaltada quando se envilece a Deus. A criação é expressão da vontade de Deus como Criador. À criação, em seu estado incólume, Deus chamou boa. Ele se revelou como estando ativamente interessado nela. Para glorificar a Deus não é preciso denegrir a criação: É apenas necessário pôr em prática, em relação à natureza, aquilo que responde à vontade criadora de Deus para ela.

Aquele que tem profunda compreensão da revelação bíblica no que diz respeito à criação, compreenderá que o que está em discussão não é a mera ênfase sobre o que é divino ou o que é humano, mas se – quer seja... humano ou pertença à esfera da atividade humana -, tem sido levado a moldar-se à vontade de Deus, como está expressa em Sua lei. Ou seja, verá que o que está em discussão é se tais atividades respondem àquilo que Deus desejava para elas desde o começo.

É Claro que a doutrina reformada da imediata operação da graça de Deus através de Sua Palavra no coração humano levantou-se em oposição ao ponto de vista de que o humano é uma esfera semi-autônoma que antecede o divino e que, realizando obras pelos próprios poderes do indivíduo, serve como um preâmbulo necessário à operação da graça. Quando Lutero começou a expor sua doutrina da justificação só pela fé, o nominalista Guilherme de Occam (leia mais sobre ele no artigo A Navalha de Occam no Tópico TEXTOS FILOSÓFICOS), em cuja lógica ele tinha sido instruído por Trutvetter e Usingen – e a quem Lutero chamou seu professor (magister meus) -, já tinha criado um clima de pensamento incompatível com a idéia de que a natureza é o preâmbulo da graça. Occam rejeitou a idéia de que qualquer coisa fora do Evangelho pudesse servir para julgá-lo ou agir como uma plataforma adaptada à misericordiosa provisão de Deus e para a resposta de fé por parte do homem. Lutero orgulhava-se de pertencer à escola de Occam, a quem considerava o principal e o mais talentoso dos doutores escolásticos.

A posição nominalista pareceu ajustar-se, além disso, às suas doutrinas a respeito da graça. Os nominalistas ensinavam que Deus age diretamente, dirigindo-se ao homem com absoluta e soberana exigência, sem dar lugar ao exercício de poderes humanos naturais de juízo, discriminação ou escolha. Ensinavam que a graça divina não é concomitante, mesmo quando entendida como perfeição divina, com as obras humanas. Ensinavam que a graça divina opera imediatamente no coração do homem, indiferentemente ou, mesmo, em oposição à capacidade humana.

Não estou sugerindo que a compreensão de Lutero a respeito das doutrinas da graça tenha surgido ou, mesmo, tenha dependido deste ensino dos nominalistas. Sustento que o seu entendimento é fruto de sua leitura das Escrituras. A tradição nominalista, contudo, forneceu-lhe base para a sua crítica contra o ponto de vista de que a natureza é o preâmbulo da graça. Depois de descobertas estas doutrinas, no entanto, os ensinos nominalistas contribuíram para influenciar seu desenvolvimento teológico e para determinar sua concepção a respeito de como o Evangelho se relaciona com a cultura.

É reconhecido que o ponto de vista de Lutero a respeito do que é chamado “dois reinos” é profundamente influenciado pelo nominalismo. Para a esfera da natureza, ensinava ele, o conceito aristotélico do conhecimento, amplamente aceito, é suficiente. Para a religião, contudo, só a revelação é autoridade. Nesta área, a razão humana tem de submeter-se inteiramente à Palavra de Deus. A inteligência natural e sua lógica, limitadas ao finito como são, são prejudiciais à teologia porque não conduzem à fé, mas afastam dela.

A maneira pela qual esta tradição nominalista fazia distinção entre o divino e o humano, tem, na verdade, um ponto de contato com o emprego verbal concreto nas Escrituras, pois elas falam, freqüentemente, da atividade de Deus e da atividade do homem de tal maneira, que os coloca em posição diametralmente oposta um contra o outro. É possível, por isso, adotar essa maneira de as Escrituras colocarem a questão, sem penetrar a verdade que está por trás dela. Isto, ao que parece, era o que ocorria com o modo como os nominalistas entendiam o ensino bíblico a respeito de Deus e do homem, pois pensavam eles em termos de confronto entre graça e natureza. Era inevitável que esta tradição (nominalista) influenciasse a maneira pela qual Lutero desenvolveu sua teologia e concebeu a relação entre Cristianismo e cultura.

Lutero, corretamente, afirma a doutrina evangélica da imediata operação da graça soberana de Deus, através da Palavra. No pensamento de Lutero, contudo, há uma marcante distinção ente a esfera íntima do divino, atividade espiritual, e a esfera exterior das práticas seculares. Na linha da posição nominalista, esta esfera exterior, em contraste com a esfera íntima, é considerada como formal e convencional. Pelo menos em relação ao campo espiritual, ela é colocada em posição de indiferença. A atividade cultural humana, que pertence a esta esfera externa, é aceitável, contanto que seus padrões não sejam aplicados à esfera espiritual. Não há, porém, nenhuma conexão íntima ente ela e este campo espiritual. A atividade espiritual influencia a cultural, para empregar uma metáfora, somente quando se agita e se derrama dentro dela. Em comparação com a atividade espiritual, a atividade cultural humana deve ser tolerada.

Dentro deste contexto, não causa surpresa o fato de Melanchthon – ao descobrir que na posição de Lutero não havia nenhum ponto íntimo de ligação no contato com a cultura e voltado para os fundamentos da teologia, em seu programa prático da reforma universitária -, inclinar-se mais e mais para uma posição não crítica de aceitação daquilo que vinha a ele a partir do meio secular. Acomodou sua posição mais e mais à posição de Aristóteles que, segundo dizia, tinha desenvolvido a única filosofia científica. Certo, com relação às reformas da doutrina da graça, em sua convicção pessoal, Melanchthon, não obstante, acomodou-se à cultura secular, de um modo que era impossível a Calvino.

No pensamento de Calvino, não encontramos um tal dualismo. Para ele, na verdade, não há esfera de atividade humana relativamente autônoma, que preceda a operação da graça de Deus. Além do mais, não há limite para a soberania divina, quando ela opera no coração humano. No pensamento de Calvino, contudo, estas posturas combinam com a profunda compreensão de doutrina bíblica da criação. Deus é o Criador soberano absoluto e sustentador de todas as coisas. Nada existe que Ele não tenha criado e que não esteja sujeito à Sua vontade criadora. Todas as coisas, inclusive as que parecem mais triviais, são reveladoras da Sua soberania. Além do mais, Sua vontade criadora soberana abrange aquilo que é humano e aquilo que pertence à esfera das realizações humanas, naturalmente as da história e do desenvolvimento cultural. Tudo está sujeito à Sua vontade como vem expressa na Sua lei.

Em Calvino, portanto, não encontramos uma simples e global distinção entre Deus e homem, entre aquilo que é divino e aquilo que é atividade humana, noções que equivalem a cálculo matemático. Na verdade, pode-se respeitar a plenitude da distinção bíblica ente o Criador e Sua criatura. No entanto, é um profundo discernimento desta verdadeira doutrina bíblica que leva o indivíduo a evitar o uso dos termos “Deus” e “homem”, em sentido global (em bloco), modo simples e absoluto contra o qual estamos fazendo advertência. Esta cilada pode ser evitada se, com Calvino, pensarmos dentro da criação, sob o horizonte da revelação de Deus, em termos da expressão da vontade de Deus Criador, em Sua lei.

Calvino compreendeu que tudo o que se conforma com a vontade de Deus, como está expressa na criação, tem a aprovação de Deus. Quando responde ao propósito criador de Deus, o homem responde àquilo que está de acordo com a sua natureza, àquilo que Deus, na criação, declarou bom. Por isso, Calvino pôde aceitar com entusiasmo o programa da ciência natural, de pôr às claras os segredos do universo de Deus. Deste modo, também pôde ele aceitar livremente as realizações do gênio humano, que contribuíam para a humanização do homem. Concedia que estas coisas não tinham sentido separadas da religião; porém, na verdade, eram plenas de sentido com ela. Eram preciosos dons de Deus concedidos (ao homem) pelo Espírito Santo.

Para dizer a verdade, a humanidade está depravada em seu coração por causa do pecado, e a cultura não se desenvolveu sem severas distorções. A depravação, contudo, é contrária à natureza, não é natural. Aquilo que não responde à vontade criadora de Deus, que não está verdadeiramente de acordo com Sua lei, é uma expressão da anti-naturalidade que entrou no mundo por causa do pecado. Esta deformação, contudo, não obstante ser grande, não é tal que tenha separado o mundo e sua cultura do propósito e plano de Deus. Nem é tal que o mundo não manifeste mais a glória de Deus. As boas dádivas de Deus são largamente distribuídas, sem qualquer favor especial, aos da família da fé. A verdade, que está presente pela influência do Espírito Santo, deve ser abraçada, portanto, onde quer que seja encontrada. A despeito da depravação do coração do homem, Deus tem, por Sua graça comum, conservado resíduos candentes daquilo que responde à Sua vontade criadora. Por isso, é possível entender que haja mesmo brilhantes realizações do espírito humano entre os que têm, em seus corações, pouco ou nenhum lugar para os ensinos da Palavra de Deus.

O ponto de vista de Calvino a respeito da relação entre Deus e o homem parece estar compendiado em sua famosa afirmação, feita no começo de sua Instituta, de que há uma correlação entre o conhecimento que o homem tem de Deus e o conhecimento que tem de si mesmo (Dei notitiam et nostri res esse coiunctas). Isto significa que o homem só se conhece à luz de Deus e de Sua revelação, com o corolário implícito de que, se se conhece verdadeiramente, conhece verdadeiramente também a Deus. Não é muito extrair desta correlação o pensamento de que o homem, estando verdadeiramente relacionado com Deus para piedade, estará verdadeiramente relacionado consigo mesmo, e estando relacionado consigo mesmo pela piedade, estará verdadeiramente relacionado com Deus.

Segundo meu modo de entender a questão, a idéia de Calvino a respeito da correlação entre o nosso conhecimento de Deus e o nosso conhecimento de nós mesmos abriu o caminho para ele se deparar com aquilo que, para ele, deve ter sido o maior problema, isto é, o problema da relação entre a educação humanística que ele recebeu, e pela qual continuava tendo grande respeito, e as verdades do Evangelho, que ele abraçou em sua conversão. Essa relação expressava um ponto de vista no qual o perigo de tomar “Deus” e “homem”, o “divino” e o “humano”, em bloco, já tinha sido superado. Seu ponto de vista permitia-lhe, de uma forma verdadeiramente compatível com o ensino das Escrituras, assegurar um lugar pleno à humanidade do homem e às realizações culturais, sem detrair um mínimo da honra e da glória de Deus.

Calvino considerou a humanidade do homem em sua profundidade. De fato, esse modo profundo de compreender o homem não se inspirou na idéia de humanidade universal, tal como a do Renascimento, onde se pensava que o homem fosse uma personalidade autônoma, a fonte criadora de seus próprios valores; ao invés disso, resultou da revelação de Deus no que se refere ao Seu propósito na criação, aos efeitos deformadores do pecado e à provisão de Deus para a redenção do homem e de seu mundo. Para Calvino, tornou-se possível relacionar a idéia de humanidade à antítese religiosa retratada na Escritura. O caminho foi aberto pela idéia de que o homem se torna humano em sua relação com Deus. O homem, em si mesmo, é verdadeiramente homem quando responde àquilo que constitui o modo de ser de sua natureza, àquilo para o que foi criado. Deste modo é possível constatar que o humanum é realizado não no isolamento autônomo do homem em relação a Deus, mas na sua relação com Ele. A autonomia humana pecaminosa, longe de ser o caminho para a auto-realização humana, é, em si mesma, uma distorção daquilo que é humano.

Contra esta posição, é claro que o que está em discussão não é uma ênfase simples, relativa ou a ausência de ênfase a respeito do homem e dos produtos da atividade humana. O ponto em questão é se naquilo que o homem faz e no modo como se concebe a si mesmo está de acordo com o que Deus planejou para ele desde o começo, em Sua soberana vontade criadora. Segue-se, deste fato, que qualquer idéia de homem ou de atividade humana, ou dos produtos dessa atividade, deve ser examinada quanto às suas raízes religiosas. Procura o homem expressar sua humanidade segundo a lei de Deus? Está ele pronto a reconhecer a inaturalidade ligada a tudo o que é humano e a toda realização humana, por causa do pecado? Está ele preparado para depender – em tudo o que se relaciona com ele mesmo e com suas atividades -, da graça redentora de Cristo e de seu poder restaurador?

A partir desta perspectiva, percebemos agora que podemos trazer à luz, de forma mais efetiva, quão humanístico é o pensamento de Calvino. Sua posição, no que se refere aos interesses da glória de Deus e do Evangelho de Jesus Cristo, não exige que ninguém negue ou mesmo, deprecie aquilo que é humano. Na realidade, a humanidade do homem pode ser exaltada sem que se avilte a honra de Deus. O interesse naquilo que é humanum e naquilo que a ele se refere só se torna humanismo no sentido pejorativo, quando defende o ponto de vista de que o centro de gravidade do homem, como se existisse, reside nele mesmo, numa presumida autonomia vis-à-vis com o seu Criador. Esta espécie de humanismo, como fizemos notar, surgiu durante a Renascença e floresceu no tempo do Iluminismo. Contra esta espécie de humanismo Calvino reagiu vigorosamente, visto que seus expoentes estavam tentando, por todos os meios à sua disposição, fazer abortar a causa da Reforma.

http://www.ocalvinista.com/2009/12/o-divino-e-o-humano-no-calvinismo.html Acesso em 25/02/2011

Calvinismo - Sobre a Base da Religião - A. Kuyper


A posição do Calvinismo é diametralmente oposta a tudo isto. Ele não nega que a religião tem igualmente seu lado humano e subjetivo; não discute o fato de que a religião é promovida, encorajada e fortalecida por nossa disposição de buscar ajuda em tempo de necessidade e consagração espiritual diante de paixões sensuais; porém, sustenta que isto inverte a própria ordem das coisas para buscar, nestes motivos acidentais, a essência e o verdadeiro propósito da religião. O Calvinismo valoriza tudo isto como frutos que são produzidos pela religião, ou como âncoras que lhe dão apoio, mas rejeita honrá-los como a razão de sua existência. Certamente, a religião, como tal, produz também uma bênção para o homem, mas ela não existe por causa do homem. Não é Deus quem existe por causa de sua criação; a criação existe por causa de Deus. Pois, como diz a Escritura, ele tem criado todas as coisas para si mesmo.

Por esta razão, Deus mesmo imprimiu uma expressão religiosa no conjunto da natureza inconsciente, - nas plantas, nos animais e também nas crianças. “Toda a terra está cheia de sua glória”. “Grande é o teu nome, Deus, em toda a terra”. “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos”. “Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor”. Fogo e saraiva, neve e vapor, e ventos procelosos – todos louvam a Deus. Mas, do mesmo modo como a criação toda alcança seu ponto culminante no homem, assim também a religião encontra sua clara expressão somente no homem que é feito à imagem de Deus, e isto não porque o homem a busque, mas porque o próprio Deus implantou na natureza do homem a verdadeira expressão religiosa essencial, por meio da “semente da religião” (semen religionis), como Calvino a define, semeada em nosso coração humano. [1]


O próprio Deus fez o homem religioso por meio do sensus divinitatis, isto é, o senso do Divino, que ele faz tocar as cordas da harpa de sua alma. Um ruído de necessidade interrompe a harmonia pura desta melodia divina, mas somente em conseqüência do pecado. Em sua forma original, em sua condição natural, a religião é exclusivamente um sentimento de admiração e adoração que eleva e une, não uma sensação de dependência que separa e deprime. Do mesmo modo como o hino dos Serafins ao redor do trono é um clamor ininterrupto de“Santo, Santo, Santo!”, assim também a religião do homem sobre esta terra deveria consistir em um ecoar da glória de Deus, como nosso Criador e Inspirador.

O ponto de partida de todo motivo na religião é Deus e não o homem. O homem é o instrumento e o meio, somente Deus é o alvo aqui, o ponto de partida e o ponto de chegada, a fonte da qual as águas fluem e, ao mesmo tempo, o oceano para o qual elas finalmente retornam. Ser irreligioso é abandonar o propósito mais alto de nossa existência, e por outro lado não cobiçar outra existência senão a vivida para Deus, não ansiar por nada exceto a vontade de Deus, e estar totalmente absorvido na glória do nome do Senhor, isto é a essência e o cerne de toda verdadeira religião. “Santificado seja o teu nome. Venha teu reino. Seja feita tua vontade”, é a tripla petição, que dá expressão à verdadeira religião. Nossa senha deve ser - “Buscai primeiro o reino de Deus”, e depois disto, pense em suas próprias necessidades. Primeiro permanece a confissão da absoluta soberania do Deus Trino; pois dele, através dele, e para ele são todas as coisas. E por isso, nossa oração continua a mais profunda expressão de toda vida religiosa.

Esta é a concepção fundamental da religião mantida pelo Calvinismo, e até agora, ninguém jamais encontrou uma concepção superior, pois nenhuma concepção superior pode ser encontrada. O pensamento fundamental do Calvinismo, ao mesmo tempo o pensamento fundamental da Bíblia e do próprio Cristianismo, conduz, no campo da religião, à realização do mais alto ideal. A Filosofia da religião em nosso próprio século, em seus vôos mais ousados, não tem jamais atingido um ponto de vista superior nem uma concepção mais ideal.

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[1] Institutas de Calvino, tradução inglesa de Edinburgo, Vol. I, Livro I, Capítulo 3: “Que existe ali na mente humana e certamente por instinto natural, algum senso de deidade, nós sustentamos estar além de discussão ...” Capítulo 4, Parágrafo 1. “Mas embora a experiência testifique que uma semente da religião esta divinamente semeada em todos, apenas um numa centena é encontrado que a nutre em seu coração, e nenhum em quem ela chegou a maturidade, até agora ela é de fruto submisso a sua estação. Em nenhuma parte do mundo pode ser encontrada genuína bondade.”
http://www.ocalvinista.com/2009/12/calvinismo-sobre-base-da-religiao.html Acesso em 25/02/2011

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O Paradoxo Pentecostal



Há cerca de um século, o mundo protestante se viu invadido por um movimento avivalista que recebeu o nome de movimento pentecostal. Este recebeu tal título por supostamente basear-se nos fatos acontecidos no célebre dia de pentecostes que ocorreu após a ascensão de Cristo aos céus, e que é detalhadamente explicado no capítulo 2 do livro de Atos dos Apóstolos. Segundo seus propagadores todo crente deveria buscar a mesma experiência vivida pelos apóstolos nesse dia, ou seja, segundo eles todos devem falar em línguas (alguns também chamam línguas estranhas). E ainda, segundo suas idéias, isso se dá o nome de batismo com Espírito Santo. Todo crente deve, segundo a doutrina pentecostal buscar essa experiência. Como já dissemos, praticamente um século se passou e muitos, extremamente mal instruídos e preparados não se aperceberam de que o referido texto não fala em batismo. Que essa experiência só se repetiu mais duas vezes, em cumprimento a uma profecia de Jesus. E que falar em línguas é um dom do Espírito Santo, como o são outros oito descritos em I Coríntios 12. Outros líderes, entretanto, mesmo sabendo do engano, seguiram com a doutrina equivocada, mesmo porque já era tarde para reparar o equívoco. Afinal, como explicar para os milhares de membros das denominações pentecostais que eles foram ensinados errado até agora? Seria como se um padre viesse a público e dissesse: não adorem Maria, foi tudo um engano! imagine o caos.


Teólogos renomados, no afã de defender suas fileiras chegaram ao cúmulo de afirmar que só quem fosse batizado com o Espírito Santo, ou seja, falasse em "línguas estranhas", poderia estar à frente do trabalho do Senhor. Coitados. Esqueceram Lutero, Calvino, Spurgeon e Martin Luther King, só para citar os óbvios, que nunca falaram nenhuma língua estranha e tocaram a obra cheios da unção de Deus.

Com o advento do pentecostalismo passou a se ver nas igrejas algumas coisas nunca vistas antes. O que antes era um culto racional tornou-se um centro de emocionalismo exacerbado, onde na grande maioria dos casos as pessoas quase nunca conseguem ouvir a pregação da Palavra de Deus. A coisa chegou ao ponto de pastores recriminarem irmãos que não choram na hora do culto. O barulho alcançou decibéis muitas vezes insuportáveis, e é de se imaginar nesses momentos como Jesus ou Paulo pregavam. Alguém poderia imaginar o Rei dos Reis pulando e correndo enquanto pregava o evangelho da salvação? Ou mesmo Paulo de Tarso pulando em um pé só ou atirando-se ao solo urrando ou gemendo? Mesmo Lutero, será que entraria por essa linha? Essa modificação homilética chegou com o pentecostalismo, que confundiu pregações avivadas, como as de Wesley, com barulho emotivo e vazio. Eis a primeira contribuição prática do movimento. Passagens com Eclesiastes 5:1,2; Habacuque 2:20; Romanos 12:1 e I Coríntios 14:40, perderam completamente o sentido, sendo sumariamente ignoradas.

Com o tempo a coisa foi piorando. Além da exigência infundada de que as pessoas deveriam buscar a todo custo algo que elas já teriam (o batismo com o Espírito Santo), os cultos passaram a ser classificados. Culto frio: onde se prega a Palavra de Deus de forma clara e fiel, sem invenções ou arroubos. Culto quente: onde as pessoas gritam, pulam e se descabelam. Sobem nas cadeiras, saem correndo pela igreja, sacodem uns aos outros e coisa pior. A lista é grande. Lembrando sempre: estas coisas se dão dentro da Casa de Oração do Senhor dos Exércitos. A Palavra de Deus foi perdendo terreno aos poucos. As visões, profecias, arrebatamentos e outros sinais, além das línguas passaram a ser componentes indispensáveis para que um culto fosse considerado com !unção?

Além disso, surgiu uma teologia estranha à Bíblia acerca de vestes, que logo se tornou uma imposição farisaica, e que persiste até hoje.

Interessantíssimo é ver que igrejas da mesma denominação, associação ou convenção, que são regidas pelo mesmo estatuto ou regimento interno, não pregam a mesma coisa. Em uma igreja mulher é obrigada a usar saia. Em outra pode usar calça. Em algumas, brincos são permitidos, em outras são vistos como coisas de satanás. Mas final, não são os líderes mensageiros de Deus? Terá Deus duas palavras? Acredito que não. Algo está errado. Depois de anos e anos de perseguição, as denominações pentecostais estão sendo desmascaradas nesse ponto. E como ficam os crentes de décadas passadas, que foram sumariamente perseguidos por seus líderes nessa questão, e que hoje vêem as coisas mudadas? Será que há trinta anos Deus proibiu uma coisa e hoje esse mesmo Deus liberou-a? Ou será que na verdade não era a voz de Deus que estava falando, e sim a voz do homem?

Observe uma igreja tradicional (por exemplo, uma Presbiteriana ou uma Batista) e veja quantas vezes ela mudou sua declaração doutrinária. Agora veja as igrejas pentecostais e analise a mesma coisa. Estão muito diferentes de quando foram fundadas. Que doutrina é essa?

A partir da metade do século XX algo começou a mudar. Igrejas tradicionais começaram a embarcar nesta onda. O que antes era restrito às denominações pentecostais espalhou-se no meio reformado de raiz. E o que aconteceu? Rachas atrás de rachas. Uma pergunta: Deus se alegra com divisões? E o que o movimento pentecostal mais trouxe ao Brasil? Isso mesmo: divisões. Só para citar um exemplo, a maior igreja pentecostal de Brasil surgiu de uma divisão, quando dois missionários suecos causaram um racha em uma igreja tradicional em Belém (PA) e levaram consigo 19 membros da igreja alheia. Foi isso que Deus os mandou fazer no Brasil? Até onde sabemos missionários andam em busca de almas perdidas, e não daquelas que já estão convertidas.

Quando o movimento invadiu o meio tradicional foi um Deus-nos-acuda! As divisões foram inevitáveis. E então começou um processo chamado tiro no pé. O raciocínio é simples. Assustados com o crescimento vertiginoso das denominações pentecostais, pastores tradicionais se sentiram diminuídos, e passaram a entender que, se cresciam os avivados, é porque o movimento devia estar correto. Tolinhos. As religiões que mais crescem no mundo são o islamismo, o mormonismo e as Testemunhas de Jeová. Estão eles certos porque crescem muito? E a igreja evangélica que mais rápido se expande no Brasil é a IURD. Vamos adotar suas práticas estranhas ao evangelho por isso? Esse foi o erro da igreja tradicional. E que vem persistindo.

Mas o mais engraçado, é que quando os tradicionais se tornaram pentecostais, em alguns aspectos acabaram se tornando ainda mais exagerados em suas celebrações. O culto santo, racional e reverente de adoração a Deus tornou-se, com o perdão da palavra, uma baderna generalizada. Abraçaram práticas descabidas como quebra de maldições hereditárias e intervenções territoriais completamente equivocadas, unção de objetos e outras coisas. E ai de quem disser o contrário. É frio, incrédulo, tradicional e outros rótulos menos dignos. Está quase desviado. Simplesmente porque só quer ouvir a Palavra de Deus.

Chegamos ao século XXI com uma situação que seria constrangedora não fosse tão ridícula. Os pentecostais querendo regular a bagunça que criaram. Basta ler os livros da nova geração de pastores e teólogos oriundos do movimento para ver suas preocupações. Basta dar uma olhada em títulos como "O Evangelho que Paulo Não Pregaria" e "Erros que todos os Pregadores Devem Evitar." Orientam contra profecias, visões, exageros, pregações teatrais, arrebatamentos, anjos, etc. De repente estão ávidos por Palavra, ensino, estudos, seminários, faculdades teológicas. Só esquecem de dizer uma coisa: Perdão.

Também não tocam na questão das línguas estranhas, que eles transformaram em dogmas. Aí também já seria demais. A igreja foi fundada sobre esta pedra. Retirá-la seria fatal.

E hoje o quadro hilário é esse. Os tradicionais querendo cada vez mais ser pentecostais, porque querem suas igrejas cheias a qualquer custo, esquecendo-se das palavras do próprio Cristo em Lucas 12:32 (Não temais, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino). E os pentecostais querendo a todo custo trazer um pouco da reverência tradicional para dentro de suas igrejas, sendo que foram eles mesmos os responsáveis por sua retirada. É pra rir ou pra chorar?

Autor: Missionário Neto Curvina

Fonte: www.PalavraPrudente.com.br

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Fanatismo e Êxtase, da Ignorância ao Misticismo



por
Raniere Menezes

Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos. Mateus 24:24
Não é raro encontrar pessoas que se dizem crentes relatarem testemunhos “sobrenaturais”, “sinais e maravilhas”, “mistérios”, etc. Vigílias onde coisas estranhas acontecem, gente que vê folhas de árvores douradas, prateadas, brilhantes, reluzentes ou pegando fogo. Falar em vocábulos estranhos e “sentir” Deus enviando Sua Palavra são coisas mais do que “normais” para vários grupos evangélicos. Cultos onde pessoas choram, riem, batem palmas, caem, convulsionam, e tudo de forma descontrolada.
Igreja evangélica, hoje, é sinônimo de concentrações de pessoas e múltiplas manifestações físicas, gente que marcha como soldado de um lado para o outro, gente que fica rodopiando e gesticulando como animais, ruídos estranhos, experiências de “sair” do corpo e voar por cima das outras pessoas, visões de anjos e pétalas de rosas caindo do céu, visões de entidades monstruosas, viagens ao céu, viagens ao inferno, enfim, fanatismo e êxtase.
É inútil relatar tantas esquisitices. O que importa dizer é que essa religiosidade mística é predominante no Brasil, e de uns anos para cá, sorrateiramente isso tem influenciado o comportamento de muitos protestantes históricos, que agora, querem ser chamados de “RENOVADOS”. Até a IPB – Igreja Presbiteriana do Brasil – que possuía o símbolo da sarça (a antiga sarça emblema da Igreja da Escócia) inseriu há um tempo uma “pomba” no centro da sarça por causa dessa influência pentecostalizada. Este fato é apenas um pequeno exemplo do poder de interferência dos chamados carismáticos sobre as igrejas históricas. Não são poucas as igrejas históricas que vem sofrendo ascendência mística.
Em geral, a religiosidade evangélica de hoje está abraçada a uma espécie de neopaganismo. O conceito do panteísmo ganhou nova roupagem. Deus agora “é fácil”. A Bíblia não é mais a única regra de fé e prática como diziam os antigos cristãos. Quanto maior a ignorância bíblica, mais forte o misticismo.
Hoje se fala muito em “culto festivo” – Princípio Regulador de Culto, nem falar! -, parece um bem intencionado discurso, mas de onde vem toda essa “festividade”? Alguns querem justificar seus cultos “renovados e festeiros” reportando-se ao povo judeu em suas peregrinações, mas uma exegese superficial logo demonstra que o judaísmo nunca teve liturgia de culto festiva, nem no templo nem na sinagoga – peregrinação não é culto! - Liturgia festeira é coisa da cultura africana e indígena. E não precisa ser antropólogo para saber disso.
As pessoas querem transcender. A busca da embriaguez mística é o objetivo dos cultos. Falar em linguagem estranha, ter visões e “profetizar”, ser arrebatado em espírito, “voar”, etc. Essas coisas têm muito mais semelhança com o misticismo afro-indígena. Não há qualquer tradição judaico-cristã nessa contemplação do incompreensível.
O uso racional da cabeça em conhecer algo está sendo substituído por um mergulho de cabeça nas experiências. Muita gente não está interessada em CONHECER os atributos de Deus e Sua vontade, mas “tocar” no Seu trono, nas Suas vestes, “experimentar” a liturgia dos anjos. É preferível experimentar uma força subjetiva, uma energia, e não ficar aprisionado no mundo racional que ouve algo inteligível. A fórmula “mágica” é esvaziar o púlpito de todo conteúdo doutrinário objetivo e encher as pessoas de revelações subjetivas e emocionais. Temos adoradores com paralisia intelectual!


No lugar de se invocar a Santíssima Trindade e humilhar-se em Sua presença, os invocadores apelam à presença de um Deus por demais imanente, como se fosse um de nós, e invocam e evocam muito mais os anjos e os demônios. Acham que podem achegar-se a Deus como bem entendem.
O movimento carismático ou pentecostal é uma forma moderna de misticismo, porque é fundamentado não na doutrina dos apóstolos, mas num conceito de fé irracional e irreal. O movimento é atraente porque muitas pessoas não querem CONHECER as Escrituras, mas querem “algo mais” (e de preferência: rápido e fácil). John MacArthur Jr., teólogo contemporâneo, crítico ferrenho do misticismo, observou de forma cuidadosa que existe uma intolerância teológica quanto ao ensino bíblico por parte dos evangélicos pentecostalizados. Escreveu ele: “As experiências místicas não se alinham com a verdade bíblica, elas afastam as pessoas da verdade de Cristo. As pessoas começam a buscar experiências paranormais, fenômenos sobrenaturais e revelações especiais – como se nossos recursos em Cristo não fossem o bastante” (...) “Os sentimentos se tornam mais importantes do que a própria Bíblia”.
O crescimento numérico dos evangélicos no Brasil é algo significativo. E existe uma estatística bem interessante e curiosa sobre um determinado segmento: o que cresceu não foi tanto o número de protestantes históricos, mas o número de pentecostais que pulou de 8,1 milhões em 1991, para 17,6 milhões em 2000. Atualmente os pentecostais representam quase 68% dos evangélicos. Ora, é exatamente esse movimento que tem influenciado quase todas as alas do protestantismo. A influência vem daí, e eles [os pentecostais] são influenciados por líderes despreparados, emergentes e místicos. Um novo xamã ressuscitou no Brasil. Se conseguimos vestir calções de futebol nos índios e também ensinamos a usar a Internet, eles agora estão de “terno e gravata” influenciando a teologia.
Em várias localidades a diferença entre uma igreja evangélica renovada (que se diz mais séria) e uma igreja pentecostalizada está somente nos decibéis. Seus vizinhos que o digam. O que é que se pode esperar de um encontro emotivo onde o culto é uma válvula de escape? Gente fraca é presa fácil das falsas promessas do misticismo.
No início do século passado os protestantes brasileiros acusavam os católicos romanos de sincretismo religioso com os elementos da religiosidade africana. Eles também foram criticados por sua religiosidade popular sincretista com os espíritas, e também com traços cúlticos da religiosidade indígena. Mas hoje os canhões mudaram de alvo, podemos dizer que, literalmente, o tiro saiu pela culatra. Hoje temos o império pós-modernista-da-igreja-evangélica-tupiniquim-do-reino-dividido-afro-kardecista.


O Brasil é um país místico, obcecado pelo “espiritual”. A baixa cultura acadêmica retira o alicerce escriturístico sem pedir licença, e por falta de filtro, muitos estão sendo explorados por lobos vorazes. E o Cristianismo genuíno sofre porque é uma religião da Bíblia; é uma experiência que passa pela compreensão do que é COMPREENSÍVEL.
O misticismo nos arraiais evangélicos é usado também para a intimidação “espiritual” para rebaixar os neófitos. Não é incomum que certos líderes experientes, pessoas que dizem ter sonhos, visões ou experiências transcendentais menosprezarem os inexperientes, e desenvolverem uma competição carnal e orgulhosa. Isso não tem nada de espiritual! E todos sabemos disso.
Estamos mais do que nunca mundanizados e paganizados. Que os pentescostais, que se dizem “tradicionais”, não venham com desculpas, dizendo que não são como outros grupos pentecostais e neo-pentecostais, quando na verdade estão substituindo o “sabonete ungido” por “óleo ungido”. Os católicos romanos sempre tiveram suas novenas, hoje os evangélicos tupiniquins têm “correntes de oração”. Isso não é misticismo?
Não precisamos estudar antropologia para saber que “culto de libertação” é religiosidade pagã. Antigamente, no tempo em que éramos protestantes, ouvia-se os salmos metrificados, hoje se ouve louvorzão “mantrificado” (neologismo derivado de “mantra” – palavra, som monossilábico ou verso usado de forma repetitiva e musicada proporcionando um estado contemplativo-místico). Os chamados “levitas” modernos encantam seus ouvintes por horas, até deixá-los “soltos” e leves.
As grandes doutrinas da graça, chão firme e sólido para a caminhada cristã, são substituídas por diálogos retóricos agressivos sobre os males da existência. Hoje ouvimos muito mais discursos sobre sofrimentos, dores, doenças, filhos, solidão, separação, desemprego, marginalidade, vícios, prostituição, brigas, traições, “encostos”, libertação, poder, prosperidade, miséria material, do que: Autoridade das Escrituras, o Ser de Deus, os Decretos Soberanos de Deus, obediência ao Criador, o louvor de Sua Providência, sobre a Corrupção da natureza humana, a exigência da Justiça de Deus, do Pacto Eterno de Deus com Seu povo eleito, da cruz de Cristo, dos ofícios do Senhor Jesus Cristo, da Justificação pela fé, da Regeneração, da Adoção, da Santificação, da Fé Salvadora, da vida cristã de arrependimento, da certeza da graça e da salvação, da Lei de Deus, do Dia do Senhor e do Princípio Regulador de Culto, da Ressurreição, do Juízo e da ira de Deus, enfim, das Doutrinas (com “d” maiúsculo) cristãs históricas.
Muitos pregadores ruidosos gostam de vociferar o lema: “abaixo os dogmas! Abaixo os dogmas!” (mas, o que é mesmo dogma?, alguém pergunta. “Sei, lá!” é a resposta). Acredito que temos um problema diante de nós que poucos ou ninguém quer mexer. As doutrinas cristãs que realmente alimentam o rebanho de Cristo não vêm em forma de revelação extra-bíblica, elas precisam ser sistematizadas, racionalizadas e discursadas. E a maioria dos evangélicos (e por que não dizer dos brasileiros) é analfabeta funcional, ou seja, sabe soletrar e ler, mas não entende o conteúdo. Portanto é muito mais fácil “conectar-se” com Deus de forma intuitiva, sem ter de ouvir ou estudar doutrina. Muitos cristãos estão marchando em êxtase numa busca do extraordinário, e sob seus pés não se encontra Satanás, mas as Escrituras estão sendo pisoteadas!
O Pr. Isaías Lobão P. Jr., fez algumas observações interessante ao resenhar o livro de John Stott, Crer é também pensar (publicado aqui no site), eis um trecho: “No primeiro capítulo, Cristianismo de Mente Vazia, Stott desafia a tendência anti-intelectual de muitos crentes. Baseados na filosofia secular do pragmatismo, muitos crentes abandonam a doutrina em busca da prática. Stott critica esses crentes afirmando que toda boa doutrina é sempre acompanhada de um ensino prático. Ele cita três grupos que fazem isto: os católicos (e acrescento, muitos evangélicos) que ritualizam sua relação com Deus, mecanizando sua relação com Deus. O segundo grupo, os cristãos radicais que concentram suas energias na ação social e na preocupação ecumênica. Se bem que este grupo seja (ainda) pequeno no evangelicalismo brasileiro, é uma postura bastante comum entre os crentes britânicos. Sua luta social esconde uma ignorância e desprezo pela doutrina. O terceiro grupo alistado por Stott, são os crentes pentecostais. (esses nós temos de sobra!). A busca incessante dos pentecostais por experiências com Deus, os leva, geralmente, a colocar o subjetivismo e o emocionalismo acima da doutrina bíblica”. Que podemos dizer? A tendência anti-intelectualista necessariamente exclui uma reforma genuína. Uma nova reforma não virá através dos manipuladores de emoções.
Mais um dado surpreendente (que não surpreende mais), uma matéria do Jornal Nacional que foi ao ar dia 26/11/04, mostrou um índice alarmante de reprovação da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil. – Os estudantes de Direito brasileiros bateram todos os recordes de incapacidade: reprovação de 91,5% (Isso mesmo: quase 100%!!!). Ou seja, 18 mil bacharéis em Direito não estão em condições mínimas para ingressar no mercado de trabalho! Isto reflete o nível de educação no Brasil de forma conclusiva.
“Surpreende e aborrece”, disse o presidente da OAB de São Paulo, Sr. D’urso. Vale a pena transliterar um trecho da reportagem: “Justiça seja feita: segundo especialistas na preparação de candidatos, o problema não está apenas no ensino superior. Faculdade fraca atrapalha, mas para muitos aspirantes a advogado O MAIOR OBSTÁCULO É MESMO A LÍNGUA PORTUGUESA, diz a diretora de curso especializado, Rosângela Santos de Jesus Romano Matos: ‘Os alunos são tecnicamente muito bem preparados, mas quando chega a hora da prova ele não consegue passar pro papel todo o conteúdo técnico.’” Ora, se os nossos estudantes das ciências jurídicas e sociais estão desse jeito, que diremos dos estudantes de teologia de muitos seminários que mais se assemelham a um curso profissionalizante de baixa classificação? Como iremos ter uma nova reforma religiosa sem uma reforma educacional? Não se pode viver o cristianismo sem apologética, e isto requer discurso e recurso.
O CACP – Centro Apologético Cristão de Pesquisa – descreveu a etimologia da palavra “apologia” nesses termos: “Apologia dentro do contexto evangélico-eclesiástico, é a habilidade de responder com provas adequadas e sólidas a fé cristã perante as demais religiões. Já que o cristianismo é uma religião de fatos, ou como bem expressou certo apologista: ‘é uma religião que apela aos fatos da história’, ela se serve de tais meios para fundamentar seus argumentos.
“A apologia é parte inseparável da teologia, sendo que aquela, serve-se desta, para desenvolver um plano lógico e sistemático nas questões argumentativas concernentes á fé cristã.
“O cristianismo é uma religião que por sua natureza exclui quaisquer outros credos como verdadeiros, a não ser ele mesmo. Por isso, ele entra em choque com as demais religiões existentes, que são sem exceções, produtos das idéias dos homens, que na ânsia de sua procura pelo sagrado, por Deus, aliena-se nas suas próprias imaginações, resultado da depravação total da qual está sujeita a humanidade sem Deus. (...)
“Neste choque de crenças a apologia se torna indispensável. Ela nasce forçosamente como uma resposta ao ataque à sã doutrina que muitas vezes se apresenta sob diversas faces.
“Quase todas as epístolas foram escritas visando à defesa da fé cristã (no sentido de corrigir erros doutrinários) contra os ataques de fora, e muitas vezes de dentro da própria igreja.” (Paulo Cristiano). Como defender a fé sem SOLA SCRIPTURA? Como fundamentaremos argumentações sem as mínimas condições que a língua pátria exige?
A Reforma Protestante desencadeada na Alemanha não só precisou de Lutero, mas de Melanchton. Este teólogo era muito mais do que um reformador, era um educador. Sua obra como “ministro” da educação passou a ser sinônimo do seu nome. – “Pelo menos 56 cidades alemãs procuraram a sua ajuda na reforma de suas escolas. Ele ajudou a reformar oito universidades e a fundar outras quatro. Escreveu numerosos livros didáticos para uso nas escolas e mais tarde foi chamado o Instrutor da Alemanha” (fonte: Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã). – Precisamos de uma reforma não só teológica, mas educacional. Pois o misticismo é contrário ao conhecimento das Escrituras. E este é o problema que poucos ou ninguém quer mexer.
A Reforma foi um movimento altamente literário e o protestantismo genuíno é uma experiência literária. O movimento evangelical contemporâneo está na contramão da história da Igreja cristã. A ênfase hoje está em buscar respostas fora do que já foi dito nas Escrituras, em sinais e prodígios. Muitos só crêem quando vêem grandes milagres! Contrariando estas palavras:
Então, Jesus lhe disse: Se, porventura, não virdes sinais e prodígios, de modo nenhum crereis. Rogou-lhe o oficial: Senhor, desce, antes que meu filho morra. Vai, disse-lhe Jesus; teu filho vive. O homem creu na palavra de Jesus e partiu. (João 4.48-50).
Não sei até onde os pesquisadores fizeram suas elucubrações, mas acredito que boa parte da nossa miscelânea evangélica tupiniquim se dá por esses motivos:
1. Influência de elementos paganizados do catolicismo romano;
2. Influência de elementos litúrgicos afro-indígenas;
3. Influência da renovação carismática, subseqüentemente dos pentecostais – A origem do movimento é anti-intelectual;
4. Analfabetismo total e funcional da nação;
5. Maioria feminina. – As mulheres são mais suscetíveis ao misticismo. Embora não liderem (em grande parte, ainda) são as maiores sustentadoras dos trabalhos.
6. A busca de uma identidade e posicionamento social. – Pessoas pobres e simples saem do anonimato e conquistam um status de poder e influência “espiritualistas”.
7. A busca por soluções imediatas.
Admito que são muitos os fatores que contribuem para uma mentalidade mística, mas de uma forma ou de outra, essas são as bases do misticismo evangélico brasileiro. Pessoas que sentem um intenso desejo de relacionar-se imediatamente com o divino. Experiências intuitivas e extáticas nunca foram novidades na religiosidade popular. Mas no fundo, no fundo, o que há no misticismo é um escape para fugir da obediência da Palavra de Deus. Contudo, o conhecimento de Deus não permite atalhos! Não haverá reforma genuína enquanto o pentecostalismo (seja chamado de “carismáticos” ou “renovados”) não for corajosamente combatido!


O SOLA SCRIPTURA foi um dos pilares da Reforma do Século XVI, experiências místicas não podem determinar a fé verdadeira. DEUS NOS DEU AS ESCRITURAS, NÃO HÁ OUTRA AUTORIDADE. A BÍBLIA É INFALÍVEL, INSPIRADA E SUFICIENTE. A base comum (e inerrante) de conhecimento nunca poderá ser uma revelação extra-bíblica. Muitos evangélicos, embora admitam a infabilidade das Escrituras, com suas práticas dizem que a Bíblia não é suficiente! A base da sua fé é a experiência, e a Suficiência das Escrituras é desprezada. A palavra de Cristo não é suficiente para esses “fanáticos, iludidos, desmiolados, imbecis, tratantes e cães danados” – (adjetivos que Calvino costumava chamar os místicos).
A livre interpretação da Bíblia é uma marca protestante, de maneira nenhuma podemos nem queremos proibir ninguém de interpretar as Escrituras por si mesmo. Há necessidade de uma boa hermenêutica e exegese? Há. Mas não podemos fazer como a igreja romana que proibiu a livre interpretação da Bíblia alegando que os leigos interpretariam mal. E a Confissão de Fé de Westminster, uma confissão genuinamente protestante, não perde isso de vista:
A seção VII do capítulo I – Da Escritura Sagrada – assevera: Na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos; contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação, em um ou outro passo da Escritura são tão claramente expostas e explicadas, que não só os doutos, mas ainda os indoutos, no devido USO DOS MEIOS ORDINÁRIOS, podem alcançar uma suficiente compreensão delas. Ref. II Pedro 3:16; Sal. 119:105, 130; Atos 17:11. Observe bem: “...os indoutos”... “...podem alcançar uma suficiente compreensão delas”. Porém, o ponto essencial em questão é que NÃO ESTÁ HAVENDO USO DEVIDO DOS MEIOS ORDINÁRIOS, que supõem princípios de interpretação lógica e racional. Este é o problema! Protestantismo é uma religião do Livro.
Nós somos criaturas racionais, criados para agir inteligentemente. Temos intelecto; vontade, emoções e mente. John Owen, um homem erudito e piedoso, bem disse que o homem foi criado para conhecer o bem por intermédio de sua mente, sem descartar a emoção (esta, em seu devido lugar, deseja e apega-se ao bem conhecido). A emoção nos impulsiona, mas não antes da verdade adquirida através da Palavra de Deus. Disse Owen: “As emoções talvez sejam o leme do navio, mas a mente é que deve pilotar; e a carta marítima a ser seguida é a verdade revelada por Deus” [na Sua Palavra escrita]. E como bem resumiu, ainda disse: “O intelecto é o olho da alma”. Daí podermos dizer que o misticismo é cego! É um movimento anti-revelacional!
A BÍBLIA É TUDO O QUE PRECISAMOS, NADA MAIS É NECESSÁRIO! Não precisamos de novas revelações, sonhos, visões, anjos, êxtase, vozes ou reações físicas. O SOLA SCRIPTURA é suficiente! “O Cristianismo fundamenta-se na Revelação. Nosso conhecimento de Deus abrange aquilo que Lhe aprouve nos revelar a respeito de Sua Pessoa. Todos os esforços humanos destinados a conhecê-Lo levam à falsas religiões ou misticismo. Ou somos submissos à Sua Revelação ou à nossa imaginação” (Bruce Bickel). Podemos afirmar que a fonte de conhecimento da linha carismática-pentecostal não é Deus! Ou então temos de concordar que Deus nos dá um conhecimento direto pela excitação dos sentimentos, independentemente do ensino de Sua Palavra.
Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos. (Lc 16.29)
“O conhecimento é indispensável à vida e ao serviço cristãos. Se não usamos a mente que Deus nos deu, condenamo-nos à superficialidade espiritual, impedindo-nos de alcançar muitas riquezas da graça de Deus. Ao mesmo tempo, o conhecimento nos é dado para ser usado, para nos levar a cultuar melhor a Deus, nos conduzir a uma fé maior, a uma santidade mais profunda, a um melhor serviço. Não é de menos conhecimento que precisamos, mas sim de mais conhecimento, desde que o apliquemos em nossa vida”. (John Stott).
Escreveu Heber C. de Campos: “Tudo o que a igreja deve crer sobre Deus e seu relacionamento com os homens, está registrado nas Santas Escrituras que foram escritas, na sua grande maioria, pelos profetas do Antigo Testamento e pelos apóstolos do Novo Testamento”.
Finalmente é sempre bom ouvirmos repetidas vezes a exortação pastoral de MacArthur Jr., “Se algum dia alguém o perturbar dizendo que você precisa dessa ou daquela experiência mística ou espiritual, NÃO ACREDITE. O Espírito de Deus, agindo por meio de Sua Palavra é suficiente para torná-lo totalmente maduro em Cristo”.
À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva. (Is 8.20)
Que Deus tenha misericórdia da ignorância de tantos que se dizem cristãos, e que abra os olhos daqueles que, em Sua Igreja, estão se afastando de Suas verdades, levando-os de volta à pureza e simplicidade devidas a Cristo. Que eles venham a entender que NÃO HÁ OUTRO FUNDAMENTO senão dos apóstolos e profetas.

Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito. (Ef 2.20-22).
Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho... (Hb 1.1,2 a).
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