quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Sermão Puritano: Pregação que Transforma


Joseph Pipa

Nós aprendemos dos puritanos que é através do ensino e da pregação que a verdadeira reforma virá. Já vimos anteriormente alguma coisa dos métodos exegéticos e expositivos dos puritanos. Agora vamos nos concentrar na perspectiva que eles tinham sobre a aplicação do sermão. É exatamente nesta área da aplicação que o sermão têm mais a nos oferecer.
A igreja de hoje é em geral muito fraca na área da pregação aplicativa. Basicamente existem três extremos que podem ser percebidos:
1) Em primeiro lugar vemos os ortodoxos, particularmente os reformados, com certa freqüência dando uma palestra e, embora estejam dizendo a verdade e mesmo que seus sermões sejam bem verdadeiros, alguns deles não tratam muito com a questão da vida.
2) No evangelicalismo de hoje, geralmente dentro dos círculos carismáticos, existe o que eu chamo de um "blá-blá-blá" emocional que passa por cima das cabeças das pessoas, e a aplicação não brota da convicção que nasce da verdade, é mais emocional.
3) O que estamos vendo são sermões que apenas nos ensinam o que devemos fazer, são simplesmente guias do que devemos fazer: como ter um casamento bem sucedido, como usar o seu dinheiro de forma correta... e coisas assim.
Nenhum destes sermões que eu mencionei são tipos verdadeiramente bíblicos de pregação. Então vamos olhar para os puritanos e ver o que é um verdadeiro sermão aplicativo.
A) Importância da aplicação.
A aplicação era a segunda parte mais importante da pregação puritana. Já vimos o que nós chamamos de esquema triplo do sermão. Todo sermão puritano tinham três partes: (1) a doutrina que é o resumo das verdades encontradas no texto; (2) a demonstração que era o desenvolvimento daquela doutrina através de argumentos da Escritura e da persuasão; (3) e finalmente os usos. Quando os puritanos falavam sobre usos eles queriam se referir à forma prática pela qual estas verdades se aplicam na vida pessoal do indivíduo. Vocês lembram que a quinta marca do sermão puritano que nós já falamos anteriormente é que ele era transformador. Os puritanos nunca ficavam satisfeitos apenas em ensinar aquela verdade ao povo e deixar que ela ficasse ali pairando no ar. A paixão deles era que as pessoas sentadas nos bancos da igreja fossem transformadas pela verdade do Evangelho. No seu livro "O Surgimento do Puritanismo", o escritor Haller diz: "A tarefa do pastor puritano era examinar profundamente a consciência do pecador que estava abatido para sanar e curar os males da sua alma e enviá-lo, então, fortalecido e encorajado para que pudesse continuar sua batalha que dura toda a vida contra o pecado e Satanás".
Os puritanos, com esta perspectiva de pregação, não estavam dizendo nada novo. Não somente na sua teologia, mas também na sua pregação, eles estavam apenas desenvolvendo a obra de João Calvino. Calvino foi um grande teólogo, mas ele também foi um mestre e expositor. Ele mesmo disse que o sermão não seria verdadeiro se não aplicasse a verdade ao povo de Deus. Em certo sentido, Calvino se antecipa aos puritanos utilizando a palavra usos para se referir à parte aplicativa do sermão.
Existem dois livros sobre pregação calvinista que eu gostaria de recomendar a vocês. Um já não está mais sendo publicado em inglês e foi escrito por um teólogo francês, Pierre Marcel: "A Relevância da Pregação". É um livro pequeno, mas é o livro mais profundo que já li
sobre pregação. O segundo é escrito por T.H.L. Packer e também fala sobre a pregação de Calvino.
A ênfase puritana na aplicação do sermão se encontra no Diretório de Culto de Westminster, quando fala sobre a obra do pregador. Ele não deve ficar apenas em expor doutrinas gerais, mesmo que o faça de forma clara e bem demonstrada, mas deve aplicá-las de forma especial aos seus ouvintes. Mesmo que isto seja um trabalho de muita dificuldade e que exija muita prudência, zelo e meditação; mesmo que esta obra seja muito desagradável para o homem natural e corrupto, mesmo assim ele deve desenvolvê-la de tal maneira que os seus ouvintes sintam que a Palavra de Deus é viva e poderosa e pode discernir as intenções e os desejos do coração.
B) Tipos de aplicação.
Partindo da Escritura, os puritanos cuidadosamente distinguiam entre os tipos de aplicação a serem feitas. William Perkins desenvolveu algo importante partindo de II Tm. 3:16-17: "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para repreensão, para correção, para educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda a boa obra". Baseado nesta passagem William Perkins ensinava que havia dois tipos básicos de aplicação: a aplicação intelectual e a aplicação prática. A aplicação intelectual tinha dois aspectos: positivo e negativo. O lado positivo seria informar às pessoas acerca das verdades que elas deveriam crer. A isto ele chamava de doutrina, apesar de estar usando doutrina aqui de uma forma diferente. E em segundo lugar, o negativo, seria a refutação do erro. A aplicação prática também tinha dois aspectos: o positivo e o negativo. Instrução (positivo), que consistia em conforto e encorajamento e correção (negativo), que consistia na admoestação. De acordo com Perkins, de cada passagem da Escritura poderíamos derivar estes tipos de aplicação, e que era o objetivo do pregador aplicar o texto destas diversas formas e de acordo com a intenção do Espírito Santo naquela passagem.
Os autores da Confissão de Fé de Westminster desenvolveram estes tipos de aplicações de forma mais detalhada, e no Diretório de Culto eles desenvolvem seis tipos de aplicação. Quero me referir a cada um deles dando exemplos da Escritura, porque os pastores precisam estar fazendo tudo isso nos sermões que pregam.
1) O primeiro tipo de aplicação mencionado no manual de culto de Westminster é informar. Ou seja, aplicar alguma verdade do texto para que seja entendida pelas pessoas. À medida que o pastor está pregando em uma determinada passagem ele vai chamar a atenção dos seus ouvintes para uma doutrina que deve ser aceita e crida baseada naquela passagem da Escritura. Por exemplo, em João 4, quando Jesus conversa com a mulher samaritana. Ela pergunta no verso 20 onde deveria adorar. E a resposta do Senhor, no verso 21 é: "Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adoraram o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores". Quando você prega nesta passagem, uma das aplicações que pode ser feita é aquilo que Deus revela a respeito do culto verdadeiro. E o que Deus deseja é que as pessoas creiam que o verdadeiro culto tem que ser simples, espiritual, e controlado pela Palavra de Deus. Então você aplica esta verdade à sua compreensão, à sua mente, ao seu intelecto. Esta é a aplicação da informação.
2) A segunda era a aplicação em termos de refutação. Que consistia em corrigir pensamentos errôneos, ou a maneira errada de pensar. Temos um exemplo em Dt. 18. No fim deste capítulo Moisés dá as características do verdadeiro profeta, partindo do verso 19 de Deuteronômio 18: "De todo aquele que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, lhe pedirei contas. Porém o profeta que presumir falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe mandei falar, ou que falar em nome de outros deuses, este profeta será morto. Se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o Senhor não falou? sabe que quando este profeta falar, em nome do Senhor, e a palavra dele não se cumprir nem suceder, como profetizou, esta é a palavra que o Senhor não disse; com soberba a falou o tal profeta: não tenhas temor dele". Aqui Deus nos ensina que tudo o que o verdadeiro profeta fala, acontece. Portanto, aqui vemos que a maneira de julgar a profecia é que se ela não se cumpre, o profeta é falso. E como é que nós aplicamos esta verdade em termos de refutação? Existem muitos hoje nas igrejas que reivindicam ser profetas; eles reivindicam receber palavras especiais da parte de Deus, e predizem coisas, mas nenhum deles é infalível e nenhum deles teve tudo o que já falou cumprido. Portanto, a aplicação aqui em termo de refutação é que pessoas desta natureza são falsos profetas. E nós precisamos aplicar esta passagem para ajudar o nosso povo a compreender isto.
3) O terceiro tipo de aplicação é exortação, que consiste em exortar o povo a obedecer ou cumprir os deveres requeridos em uma passagem. Exemplo: Romanos 15:30-33: "Rogo-vos, pois irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor, para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judéia, e que este meu serviço em Jerusalém seja bem aceito pelos santos; a fim de que, ao visitar-vos, pela vontade de Deus, chegue à vossa presença com alegria, e possa recrear-me convosco. E o Deus da paz seja com todos vós. Amém!" A aplicação tipo exortação baseada nesta passagem seria desafiar os seus ouvinte a se dedicarem à oração particular e à oração corporativa. Eles estarão pecando se não o fizerem e devem servir a Deus fielmente desta forma, pela oração.
4) O quarto tipo de aplicação é admoestação ou repreensão pública. O propósito deste tipo de aplicação é sondar o coração dos ouvintes para trazê-los ao arrependimento e levá-los a se afastar do erro, do pecado. I Cor. 6:9-11 – "Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus". Pregando nesta passagem você terá de advertir os seus ouvintes do perigo em viver neste tipo de vida, nestes pecados. Você deverá impressioná-los com esta verdade: que se eles vivem em pecados como estes, estarão caminhando para a condenação; que devem odiar o pecado e abandoná-lo. Esta é a aplicação em termos de reprovação, de censura e admoestação pública.
5) O quinto tipo de aplicação é conforto ou consolação. E o propósito dessa aplicação é reanimar aqueles que estão abatidos com tristeza através da verdade da Escritura. Pode haver pessoas na sua igreja que não têm certeza de salvação, eles acham que talvez pecaram demais, e que Deus não os salvará. Mas você pode mostrar-lhes partindo de I Co. 6:11, que Paulo disse, "Tais fostes alguns de vós, mas vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados" e você então mostra ao seu povo que Deus salva todo tipo de pecador, que não existe ninguém que peque além da possibilidade de salvação. Mas talvez haja aqueles que estejam sofrendo debaixo de grande tristeza e angústia. Para estes você aplica por exemplo aquela promessa de I Tess. 4:13: "Não queremos, porém, irmãos que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança." E no verso 18: "Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras." Pregue sobre a segunda vinda de Cristo e você aplica esta passagem àqueles que perderam os seus entes queridos para que possam desfrutar o conforto da esperança da ressurreição.
6) O sexto tipo de aplicação mencionado no manual de culto de Westminster é o exame. Os puritanos davam ao seu povo na igreja marcas e padrões concretos da Escritura pelos quais ele deveriam se medir e se analisar, se examinar. Eles então chamavam as pessoas para se examinarem a si mesmas para ver se estavam realmente em Cristo, e para isto eles lhes forneciam as marcas características daquelas pessoas que verdadeiramente estão em Cristo. Você tem prazer em Cristo? Você deseja ser salvo do pecado? Você ama a Palavra de Deus? Você ama os irmãos? Se a resposta é sim, então você está em Cristo, porque só um crente experimenta estas coisas. Ou talvez você esteja pregando sobre o quarto mandamento, sobre o santificar o Dia do Senhor, e então faz a pergunta: Você está santificando o Dia do Senhor? Você vai a Is. 58:13, por exemplo, e lhes dá as marcas ou padrões pelos quais eles podem examinar o seu comportamento. Deve ler o versículo 13: "Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs". Aqui o puritano colocaria diante da congregação, marcas ou um padrão objetivo pelo qual o crente poderia se auto-examinar se de fato está cumprindo o quarto mandamento. Se ele parou de trabalhar normalmente com exceção dos trabalhos de misericórdia. O puritano repetia aplicações em cada sermão que pregava.
O que devemos fazer é decidir o que nosso povo precisa e usar três ou quatro tipos de aplicações no sermão que confrontem e que supram as necessidades da nossa congregação, mas assegurando-nos de que através do período normal da pregação você esteja utilizando no sermão alguns destes seis tipos de aplicação.
C) Descrição analítica da congregação.
Finalmente nós chegamos à terceira parte. Já falamos sobre a importância da aplicação e falamos sobre os tipos de aplicação. A terceira coisa que os puritanos faziam era uma descrição analítica dos tipos de pessoas presentes na sua audiência. Geralmente a nossa aplicação é ineficaz porque nós não estamos conscientes das diversas categorias de pessoas que estão presentes na nossa audiência. E os puritanos eram mestres em usar aqueles tipos de aplicação que foram mencionados para determinadas categorias de pessoas presentes na audiência.
Categorias dos ouvintes.
William Perkins, por exemplo, classifica os ouvintes em sete categorias. As quatro primeiras categorias se referem a não convertidos. E na evangelização, quer seja no púlpito ou pessoalmente, você deve ter sempre em mente estes quatro tipos de pessoas não convertidas.
1. O primeiro é aquele que é absolutamente ignorante e incapaz de ser ensinado. Dentro dessa categoria se encaixam aqueles que nada sabem ou sabem muito pouco a respeito de Deus e da Sua Palavra. Mas apesar disso ele é orgulhoso e está endurecido no seu pecado. Esta pessoa precisa passar por um período de preparação antes de poder receber a Palavra de Deus. Essa preparação se inicia quando o pregador faz com que a lei de Deus venha sobre a sua vida reprovando alguns dos pecados que possivelmente ele poderá estar cometendo. E, se então, começa a demonstrar que está agora numa posição que já pode ser ensinado, você começa de uma forma geral, a explicar a verdade da Escritura para ele. Se ele continua a demonstrar interesse, você então explica de forma bem clara e detalhada sobre Cristo e o Evangelho. Mas se permanece sem nenhuma vontade de aprender, "bata o pó dos pés", não jogue as Suas pérolas aos porcos.
2. O segundo tipo de descrente é aquele que é completamente ignorante, que não sabe de nada, mas pode ser instruído. Esta pessoa manifesta um certo quebrantamento, ela não está conscientemente e propositalmente se rebelando contra Deus, mas não conhece nada do cristianismo bíblico. Ela precisa ser instruída no ABC da Bíblia. Os puritanos acreditavam que o pecador tem que saber quem é Deus, quem Cristo é e o que Ele fez. É tolice chegar para uma pessoa, na nossa cultura, e dizer: "Deus lhe ama!" Ou perguntar: "Quem é Deus?" Ela irá dizer: "Eu não sei." Você precisa explicar para esta pessoa quem é Deus, e que se ela persistir nos seus pecados não estará sob o amor de Deus, mas sob a ira de Deus. Assim, colocamos diante dela as verdades básicas da religião bíblica e mostramos o caminho do Evangelho.
3. O terceiro tipo de descrente é aquele que teve algum conhecimento, mas não foi humilhado, quebrantado. Esse é um hipócrita que sabe tanto a respeito da Bíblia, mas o seu coração é altivo diante de Deus. A lei tem de ser trazida e aplicada sobre o coração desta pessoa. É necessário que se aplique a lei de Deus especificamente contra seus pecados para que ele venha a ficar entristecido pelo pecado. E em vez da tristeza geral do mundo ele deve ser levado àquela tristeza que vem de Deus em vista dos seus pecados. O que produz este tipo de sentimento é a lei de Deus quando nós a pregamos especificamente. Mas a pregação da cruz também pode quebrantar o coração de um pecador endurecido, pois fala do grande amor de Deus em dar o Seu único Filho para pagar os pecados do povo e mostra Cristo pendurado na cruz, condenado, julgado e sofrendo pelos pecados do Seu povo. E então você lhe pergunta: "Por que teve de ser assim? Por que Deus destruiria o seu próprio Filho? Por causa do horror do pecado!" Uma pessoa pode se quebrantar diante destas verdades. Nós devemos fazer a pessoa consciente da maldição da lei sobre o pecador: aquele que pecar certamente morrerá.
Jonathan Edwards era mestre em demonstrar às pessoas as realidades da ira de Deus e da condenação do inferno para que seus corações fossem quebrantados, para que eles pudessem correr e refugiar-se em Cristo. À medida que você percebe que o coração daquele que é endurecido, está começando a se quebrantar com profunda tristeza por causa do pecado, então, você traz para ele a consolação do Evangelho.
4. Isso nos leva ao quarto tipo de ouvinte não convertido. Aquele que está quebrantado, o pecador no pó e na cinza. Primeiro o pregador deve se certificar que ali está uma pessoa que está quebrantada pelo motivo certo, ou seja, tristeza pelo pecado. Aplicar ou oferecer o
Evangelho a uma pessoa que não está quebrantada pelo motivo certo e só contribuir para que ela fique ainda mais endurecida. Mas quando eles demonstram possuir o verdadeiro quebrantamento, então eles podem e devem ser assegurados da verdade, do conforto e das promessas do Evangelho.
Nas nossas congregações, domingo após domingo, sempre teremos na nossa audiência pessoas que se enquadram nestes quatro tipos mencionados. E as flechas do Evangelho que nós desferimos nos nossos sermões não devem ser atiradas por cima das cabeças como os soldados sírios. Estejamos sempre conscientes destes tipos de ouvintes nas igrejas. E você dirija as suas palavras a cada um deles como classes definidas de pessoas.
5. O quinto tipo de ouvinte é aquele que crê, é o crente novo, o novo convertido, que precisa ser instruído nas verdades básicas, fundamentais: justificação, santificação, perseverança, a lei de Deus como regra de conduta, e que periodicamente precisa também ser lembrado da ira de Deus contra o pecado. Porque em cada um de nós ainda permanece os resíduos do pecado. E é bom meditar sobre o ódio que Deus tem ao pecado, para que possamos fugir dele e procurar o Senhor Jesus para nossa santificação.
6. O sexto tipo de ouvinte é aquele que havia apostatado, decaído. Perkins dizia que a pessoa pode decair não somente na fé, mas também na prática. Aqueles que decaíram nas questões de fé são os que se deixaram envolver por doutrinas erradas. E, então, fazemos aquele tipo de aplicação tipo refutação para corrigir a sua forma errônea de pensar. E um dos efeitos de decair da fé, da doutrina correta, é perder a certeza de salvação. E quando pregamos devemos sempre lembrar que há pessoas no nosso auditório que perderam a certeza. Então lhes dirigimos o conforto do Evangelho, e mencionamos as características daqueles que são verdadeiramente regenerados. A segunda categoria daqueles que decaíram na prática, ou seja, aquelas pessoas que incorreram na quebra de algum mandamento ou estão cometendo algum pecado. Eu hoje em dia não me escandalizo mais quando descubro o que alguém na minha congregação está fazendo. O diabo é um inimigo poderoso e inteligente e ele pode fazer com que o justo caia em pecados hediondos, horríveis. Os pastores não devem ficar pensando que estas pessoas queridas que você ama e que sabe que andam com Deus, são isentas do pecado. Nos meus vinte e sete anos de ministério eu já vi presbíteros caírem em adultério, crianças serem violentadas; pessoas com pecados na área dos negócios, outros envolvidos com pornografia, pecados terríveis. Mesmo um santo homem como Davi pôde cair em pecados terríveis, e devemos no púlpito avisar e exortar estas pessoas e chamá-las ao arrependimento.
7. E a última categoria é a daqueles que Perkins chama de "misturados". I Jo. 2.12-14: "Filhinhos, eu vos escrevo porque os vossos pecados são perdoados, por causa do seu nome. Pais, eu vos escrevo porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens eu vos escrevo porque tendes vencido o maligno. Filhinhos, eu vos escrevi, porque conheceis o Pai. Pais eu vos escrevi, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens eu vos escrevi porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o maligno." Eu acredito que com esta classificação, "misturados", Perkins queria dizer que na nossa congregação nós vamos ter pessoas que são desde crianças na fé até aqueles que são já adultos em Cristo, maduros. Há aqueles que são crianças, bebês espirituais e há aqueles que são como jovens, fortes e corajosos, e aqueles mais antigos, que já andaram com Deus por um longo período. Na nossa pregação devemos levar em conta este tipo de audiência diversificada.
Falando agora sobre os tipos de ouvintes, vejamos a abordagem dos puritanos sobre a análise que o pastor fazia desses tipos na sua audiência. No Diretório de Culto de Westminster vemos que o pastor não precisa, toda vez que está pregando, ir até o fim para achar cada doutrina que está no seu texto, mas ele deve selecionar aquelas aplicações que acha que são mais apropriadas (através do convívio) para o seu rebanho. Em outras palavras, a forma pela qual o pastor puritano conhece e analisa a sua congregação é através do ministério pastoral de visitação, através do qual ele vem a conhecer as diversas necessidades da sua congregação. Estou convencido que ninguém pode ser um pregador eficaz sem um trabalho regular de visitação e convívio com o seu rebanho.
Agora vamos concluir falando alguma coisa sobre método e ajudas para o processo de aplicação.
1) Em primeiro lugar a aplicação tem de ser direta. Lemos no Diretório de Culto que o pastor deve fazer a aplicação de tal maneira que os seus ouvintes percebam que a Palavra de Deus é viva e poderosa; que é capaz de descobrir os intentos e desejos do coração, e que se
houver qualquer pessoa presente que seja descrente e sem conhecimento, os segredos do seu coração serão manifestos e aquela pessoa dará glória a Deus. Portanto, quando nós estamos pregando devemos fazer a aplicação de forma direta usando o pronome "você". Você
não pode deixar a sua aplicação simplesmente em termos gerais, você tem que ser específico, direto. E você também pode ser direto chamando ou nomeando os diversos tipos de ouvintes. Por exemplo você pode dizer: "Alguns de vocês aqui nesta manhã estão endurecidos nos seus pecados, vocês são altivos e arrogantes, e a Palavra de Deus condena você. Talvez haja alguns que estão com o coração quebrantado; você que está com o seu coração quebrantado, que está vendo a luz da santidade de Deus. Meus queridos amigos, vejam como Cristo abre os seus braços; Ele diz: venha a mim." É isso que eu quero dizer com aplicação direta.
2)Você precisa usar o contato com os olhos; você não pode ficar preso a um sermão escrito, ao seu esboço. Quando está pregando, você deve olhar a sua audiência nos olhos de tal forma que cada um pense que você está falando diretamente para ele. Você deve se esforçar
para ser direto na sua aplicação e faça uso eficaz de perguntas retóricas. Entendem o que eu quero dizer por pergunta retórica? É uma pergunta que faz com que o ouvinte responda a si mesmo, na sua própria cabeça. E alguma vez você pode fazer esta pergunta tão bem feita que até alguém vai abrir a boca e falar na igreja, mas a pergunta retórica faz com que o coração se envolva diretamente com a aplicação. Por exemplo: "Será que alguém que ama a Cristo faria um negócio deste? Você pensa que pode amar a Cristo e ao mesmo tempo deixar de vir ao culto?" Veja, então, como estas perguntas retóricas se apoderam da mente e do coração dos ouvintes e extrai deles uma resposta, uma reação.
2) Em terceiro lugar, na sua aplicação seja bem específico, não fique apenas em argumentos ou aplicações gerais. Quando se está aplicando a Palavra contra pecados específicos você vai fazer com que cada ouvinte pense especificamente a respeito da sua própria vida. Pode ser que ele ainda não esteja praticando os pecados que você está censurando, mas você vai fazê-los pensar sobre as suas próprias vidas. Freqüentemente quando eu prego e a pessoas vêm e me dizem: "Pastor, de fato Deus me mostrou essa ou aquela coisa errada na minha vida." E eu nem mencionei aquele tipo de coisa particular que o ouvinte citou, mas, porque eu fui específico na minha aplicação, eles foram específicos com o seu próprio coração.
4) Em quarto lugar a nossa aplicação deve fazer uso de argumentações com o propósito de dar às pessoas as razões pelas quais elas devem fazer aquilo que têm de fazer. Nós mencionamos as ameaças de Deus e as promessas de Deus para motivá-los. Jonathan Edwards era um mestre nesta área de dar às pessoas as motivações certas para levá-las à obediência. Relacionado com isto nós usamos argumentos, demonstrações que vêm reforçar o que estamos dizendo, e as razões pelas quais eles deviam cumprir seu dever ou abandonar determinado pecado. E, além disto, nós devíamos dedicar algum tempo para responder às possíveis objeções ou perguntas, antecipando assim as dúvidas que aqueles duvidosos teriam em seus corações. Use perguntas retóricas. Talvez alguns de vocês seja um exemplo. Poderia estar pensando alguma coisa, e o pregador continua e trata daquela possível pergunta ou objeção. Portanto, somos na aplicação, diretos; usamos perguntas retóricas, específicas; usamos argumentos; e finalmente em quinto lugar:
5) Devemos dar-lhes auxílio, ajuda. Não somente dizemos para eles que devem orar, mas dizemos como eles podem adquirir o hábito da oração. Não somente dizer que deixem de praticar tal pecado, mas devemos mostrar como fazê-lo.
6) Em sexto lugar, agora, devemos dar os padrões, marcas e sinais pelos quais os ouvintes podem se auto-analisar para que vejam se estão realmente em Cristo, se estão obedecendo a Deus como deveriam. Quando nós aplicamos a Palavra de Deus desta forma ela se torna poderosa e eficaz. É um trabalho difícil, vai exigir muito trabalho da parte do pastor, vai despertar muito ódio e oposição da parte da congregação, mas é o tipo de pregação determinado por Deus para transformar as pessoas. Eu quero exortar e encorajar a cada um dos pastores e pregadores. Que tomem o propósito que irão pregar a Palavra de Deus de tal maneira que venham a tratar diretamente com as pessoas da sua congregação. Amém!
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Por onde andam os puritanos?


Renata Oliveira
Em suas duas últimas edições, Enfoque vem tratando dos movimentos reformadores do século 16. A reportagem de capa de outubro discutiu a herança das idéias de Lutero e da repercussão dos movimentos calvinista e arminiano. Em novembro, a revista falou sobre os anabatistas e, agora, aborda a contribuição puritana. Muitos cristãos não fazem justiça ao conceito de puritano, normalmente associado àqueles tidos como santarrões, legalistas e intransigentes. A visão puritana nasceu na Inglaterra com o movimento reformador e tinha o objetivo de purificar à luz da Palavra de Deus todas as instâncias da vida do indivíduo, fosse no âmbito religioso, social, profissional ou familiar.
Os puritanos não eram uma igreja, mas se autodenominavam pastores e líderes protestantes preocupados com o resultado da Reforma. “Eles estavam apreensivos com o fato que várias igrejas, especialmente a Anglicana, não haviam se reformado completamente e mantinham no culto e nos costumes práticas católicas”, explica Augustus Nicodemos, chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, e pastor presbiteriano. Uma bandeira pela qual os puritanos muito lutaram foi o acesso à Bíblia — a tradução que eles fizeram da Bíblia ficou conhecida como King James Version. A ação foi considerada subversiva, e muitos puritanos tiveram de fugir, indo especialmente para a América do Norte.
A visão puritana discordava da dicotomia sagrado/profano, ou seja, sua vida religiosa era manifesta em qualquer lugar ou momento, não havendo diferenciação. Por isso, empreenderam mudanças tão profundas nas mais diferentes esferas da sociedade. De acordo com a tese de mestrado de Franklin Ferreira, professor no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, o número de escolas primárias dobrou na Inglaterra enquanto os puritanos estiveram no poder. Oliver Cromwell, o grande líder inglês puritano estudado nas escolas sob uma visão desvinculada de sua verdadeira fé, fundou ou reabriu inúmeras escolas primárias. Também foram os puritanos que, em 1636, fundaram a Universidade de Harvard, em Massachusetts, Estados Unidos. Para eles, espiritualidade e erudição andavam juntas e se completavam.

PEREGRINOS
Outra prática nesse movimento foi a realização de ação social. Os puritanos organizaram muitas sociedades para que pudessem ajudar as pessoas a aprender uma vocação. “Diziam que quando alguém está varrendo um quarto, está ajudando o Reino de Deus, tanto quanto um grande pregador. Desta forma, os pobres começaram a sentir um novo senso de dignidade e a desenvolver os talentos que Deus havia lhes concedido”, explica Ferreira. Ele acrescenta ainda que os crimes praticados caíram tremendamente no período em que os puritanos estavam no poder. “Eles reestruturaram a economia de tal forma que a partir de então o pobre poderia participar”, completa.
Augustus Nicodemos acredita que, embora o movimento puritano não possa ser reproduzido, ainda influencia muitos líderes e denominações

Doutrinariamente, os puritanos mantinham a fé reformada, sobretudo no que diz respeito aos conceitos desenvolvidos por João Calvino e ao entendimento de que a Bíblia é o norteador da vida cristã. Segundo J. I. Parker, um dos maiores teólogos puritanos, “nenhum indivíduo devia fazer alguma coisa que a sua consciência, orientada pela Bíblia, não pudesse aprovar”.
A vida puritana consistia em ser alguém de um mundo vindouro enfrentando os desafios de um mundo presente. Essa visão está impressa no livro O peregrino (Mundo Cristão), de John Bunyon, que foi por muito tempo o livro cristão de ficção mais vendido em todo o mundo. Foram milhões de exemplares que chegaram a dezenas de nações, contando a história de Cristão, um homem temente a Deus que deixa tudo para seguir uma jornada com destino à Cidade Celestial. No caminho, ele encontra personagens com os sugestivos nomes de Evangelista, Adulação, Malícia e Vigilância, dentre outros.

HERANÇA
No Brasil, o movimento puritano chegou sobretudo assim, por meio de literatura. “Não creio que haja herdeiros do movimento puritano no Brasil, até porque o movimento estava ligado inseparavelmente a uma época, a uma cultura e a um lugar. Não há como reproduzir o movimento puritano dos séculos 16 e 17 no Brasil, embora tenha havido algumas tentativas. Contudo, podemos identificar um interesse crescente dentro do evangelicalismo brasileiro pela literatura produzida pelos puritanos, tanto antigos quanto mais recentes, como Martyn Lloyd-Jones, R. C. Sproul, John MacArthur, J. I. Packer”, explica Nicodemos. Ele ressalta a ocorrência crescente de encontros e congressos sobre a fé reformada em todo o Brasil como um indício de proximidade com a visão puritana.

O peregrino, de John Bunyon, é uma obra baseada nos princípios e valores defendidos pelos puritanos

A herança puritana, portanto, não está ligada a uma denominação, mas a um modo de viver o cristianismo. E essa influência atinge diferentes comunidades, sejam elas tradicionais ou pentecostais. Para Nicodemos, há quatro principais contribuições puritanas. A primeira seria um modelo histórico de um grupo cristão que “soube combinar piedade e erudição, coração e mente, cultura e devoção”. Em segundo lugar, eles mostraram a necessidade de insistir na renovação da Igreja, à luz da Palavra de Deus. O terceiro ponto diz respeito a uma espiritualidade sólida, que não despreza a mente e nem a intelectualidade, “uma excelente alternativa para o misticismo neopentecostal e para a espiritualidade católica que estão disseminadas no evangelicalismo brasileiro”, sugere Nicodemos. E, por fim, a capacidade de apresentar de maneira prática e popular os grandes pontos teológicos das Escrituras.

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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

SOMENTE AS ESCRITURAS - J.CALVINO


(As Institutas da Religião Cristã - Livro I, Capítulo 6)


Para que Alguém Possa Chegar a Deus, O Criador,
É Necessário Que Tenha A Escritura Por Guia e Mestra.




O Verdadeiro Conhecimento de Deus está na Bíblia.


Portanto, se bem que o fulgor que se projeta aos olhos de todos, no céu e na terra, retire totalmente toda base para a ingratidão dos homens - e ainda que Deus, para envolver o gênero humano na mesma culpa, mostre a todos esboçada nas criaturas, sua Divina Majestade -, é necessário, contudo, além disso, acrescentar outro recurso melhor, que nos dirija retamente ao próprio Criador do universo. Por isso, não foi em vão que Deus acrescentou a luz de Sua Palavra para fazer-Se conhecido para a salvação do homem. E considerou dignos deste privilégio a todos aqueles aos quais quis trazer, para perto de Si, mais aproximada e intimamente.

Ora, porque Deus via a mente de todos ser arrastada, de um lado para outro, por constante e imutável agitação - depois de escolher os judeus para Si, como povo especial -, cercou-os por todos os lados, para que não se extraviassem com os demais povos. E não é em vão que ele nos mantém, por meio do mesmo remédio, no puro conhecimento de Si próprio, porque, de outra forma, se desfariam bem rapidamente até mesmo os que parecem mais firmes do que os outros. É exatamente como acontece com pessoas idosas ou enfermas dos olhos, e a todos quantos sofre de visão embaraçada: se pusermos diante delas até mesmo um volume vistoso, ainda que reconheçam estar ali algo escrito, mal poderão, contudo, ajuntar duas palavras. Ajudadas, porém, com o auxílio de óculos, essas pessoas começarão a ler de maneira eficiente. Assim a Escritura, reunindo na nossa mente, o conhecimento de Deus - que, de outro modo, seria confuso fazendo desaparecer a escuridão -, mostra-nos, com clareza transparente, o Deus Verdadeiro.

Constitui, pois uma dádiva singular o fato de Deus - para instruir a igreja -, servir-Se não apenas de mestres mudos, mas, ainda, abrir sua boca sacrossanta para não simplesmente proclamar que se deve adorar a Deus, mas também, ao mesmo tempo, declarar que Ele é esse Deus a quem devemos adorar. E não ensina Ele meramente aos eleitos que devem obedecer a Deus, mas mostra-Se como Aquele a Quem eles devem obedecer. Este modo de agir Deus tem mantido para com sua igreja, desde o princípio, de modo que, afora essas evidências comuns, Ele aplicasse também a palavra que é a marca direta e segura para reconhecê-LO.

Nem é para se duvidar de que Adão, Noé, Abraão e os demais patriarcas - em função deste recurso - tenham conseguido mais íntimo conhecimento de Deus, fato que, de certo modo, os destingüe dos incrédulos. Não estou falando ainda da doutrina da fé, pela qual eles haviam sido iluminados para a esperança da vida eterna. Ora, para que pudessem eles passar, da morte para a vida, foi necessário que eles conhecessem a Deus não apenas como Criador, mas também como Redentor, pois eles chegaram a conhecer a Deus desses dois modos, seguramente, através da Palavra.

Ora, pela ordem, veio primeiro aquela modalidade de conhecimento mediante o qual lhes foi dado compreender quem é Deus, por meio de Quem o mundo foi criado e é governado. Em seguida, acrescentou-se, depois, a outra modalidade de conhecimento, interior, porque só esse conhecimento vivifica as almas mortas e só por ele se conhece a Deus não apenas como Criador do universo, Autor e Árbitro único de todas as coisas que existem, mas também na Pessoa do Mediador, como Redentor. Contudo, porque não tratei ainda da queda do mundo e da corrupção da natureza, não apresento ainda, aqui, o remédio.

Devem lembrar-se, portanto, os leitores de que não farei ainda considerações a respeito do pacto, mediante o qual Deus adotou, para Si, os filhos de Abraão, mas tratarei ainda daquela parte da doutrina pela qual os fiéis sempre foram apropriadamente separados das pessoas profanas, por aquela doutrina se fundamenta em Cristo (e, por isso, deve ser abordada na seção Cristológica); Agora, entretanto, só focalizarei como se deve aprender, da Escritura, que Deus como Criador, se distingue - por meio de marcas seguras - de toda a inventada multidão de deuses. Oportunamente depois, a própria seqüência dos fatos conduzirá ao estudo da redenção. Embora devamos derivar muitos testemunhos do Novo Testamento, e outros testemunhos da lei e dos profetas - onde se faz clara referência a Cristo -, sabemos que todos estes testemunhos visam mostrar que Deus, o Artífice do universo, se torna patente na Escritura e nela também se ensina o que devemos pensar a respeito de Deus, para que não busquemos, por caminhos tortuosos, alguma divindade incerta.


A Bíblia é a Palavra de Deus Escrita


Quer Deus Se tenha feito conhecido, aos patriarcas, através de visões ou oráculos, quer tenha dado a conhecer - mediante a obra e ministério de homens -, aquilo que, depois, transmitiria a pósteros pelas próprias mãos, está fora de dúvida que Deus gravou, no coração deles, a firme certeza da doutrina, de modo que fossem convencidos de que procedia de Deus o que haviam aprendido. Por isso Deus, pela Sua Palavra, tornou a fé segura para sempre, fazendo-a superior a toda mera opinião. Finalmente para que em perpétua continuidade de doutrina, a verdade permanecesse no mundo, sobrevivendo a todos os séculos, quis Deus que esses mesmos oráculos - que deixou em depósito com os Patriarcas -, fossem registrados como em públicos instrumentos. Com este propósito foi promulgada a Lei, à qual se acrescentaram, depois, como intérpretes, os Profetas.

Ora, se bem que foi múltiplo o uso da lei - como se verá no lugar mais adequado -, na verdade, foi dada especialmente a Moisés e a todos os profetas (a responsabilidade de) ensinar o modo de reconciliação entre Deus e os homens, fato que levou Paulo a dizer que Cristo é o fim da Lei (Rm.10:4). Contudo, torno a afirmar que, além da apropriada doutrina da fé e do arrependimento - que apresenta Cristo como Mediador -, a Escritura adorna, com sinais e marcas inconfundíveis, o Deus Único e Verdadeiro como Criador e Governador do mundo, para que Ele não seja confundido com a espúria multidão de deuses.

Portanto, por mais que ao homem sério convenha levar em conta as obras de Deus - um vez que foi ele colocado no belíssimo teatro do mundo para ser espectador da obra divina -, contudo, para ele poder aproveitá-la melhor, precisa dar ouvido à Palavra. Por isso, não é de admirar que os que nasceram nas trevas endureçam, mais e mais, a sua sensibilidade, visto que muito poucos se submetem docilmente à Palavra de Deus, de maneira a respeitar os seus limites; ao contrário, antes se gloriam em sua presunção.

Mas, para que a verdadeira religião resplandeça em nós, é preciso que ela seja o ponto de partida da doutrina celeste, pois não pode provar se quer o mais leve gosto da reta e sã doutrina, senão aquele que se tornar discípulo da Escritura. Pois o princípio do verdadeiro entendimento vem do fato de abraçarmos, reverentemente, o Deus testifica de Si mesmo na Escritura. Da obediência à Palavra de Deus nascem não somente a fé consumada e completa, em todos os seus aspectos, mas também todo reto conhecimento de Deus. E neste aspecto, fora de toda dúvida, Deus, com singular providência, levou em conta os mortais em todos os tempos.


A Bíblia é o Único Escudo que Nos Protege do Erro


De fato, se refletirmos quão acentuado é a tendência da mente humana para esquecer a Deus, quão grande é a inclinação dos homens para com toda espécie de erro e quão pronunciado é o gosto deles para forjar, a cada instante, novas fantasiosas religiões, poderemos perceber como foi necessário a autenticação escrita da doutrina celeste, para que ela não desaparecesse pelo esquecimento, nem se desfizesse pelo erro, nem fosse corrompida pela petulância dos homens.

Deste modo, como está sobejamente demonstrado, Deus providenciou o auxilio de Sua Palavra para todos aqueles aquém quis instruir de maneira eficaz, pois sabia ser insuficiente a impressão de Sua Imagem na estrutura do universo. Portanto, se desejamos, com seriedade, contemplar a Deus de forma genuína, precisamos trilhar a reta vereda indicada na Sua Palavra.

Importa irmos à Palavra na qual, de modo vivo e real, Deus Se apresenta a nós em função de Suas obras, ao mesmo tempo em que essas mesmas obras são apreciadas, não sendo o nosso julgamento corrompido, mas de acordo com a norma da verdade eterna. Se nos desviarmos da Palavra, como ainda há pouco frisei, mesmo que nos esforcemos com grande empenho - pelo fato de a corrida ser fora da pista - jamais conseguiremos atingir a meta. Devemos pensar que o esplendor da face divina, que até mesmo o Apóstolo Paulo reconhece ser inacessível (I Tm.6:16), é para nós um labirinto emaranhado, no qual só podemos entrar se, através dele, formos guiados pelo fio da Palavra. Por isso, é preferível andar mancando, ao longo deste caminho a correr velozmente fora dele!

É por isso que, não poucas vezes, nos Salmos 93, 96, 97 e outros, ensinando que devemos tirar do mundo as superstições, para que floresça a religião pura, Davi representa a Deus como Aquele que reina, dando a entender, pelo termo reinar, não o poder de que Deus está investido e que exerce no governo universal da natureza, mas significando a doutrina pela qual reivindica, para Si, a legítima soberania, visto que jamais se pode arrancar os erros do coração humano, enquanto nele não se implantar o verdadeiro conhecimento de Deus.


A Revelação da Bíblia é Superior a Revelação da Criação


Por isso, onde o mesmo profeta afirma que os céus proclamam a glória de Deus, que o firmamento anuncia as obras das Suas mãos e que a regular seqüência dos dias e das noites apregoa a Sua majestade (Sl19:1-2), em seguida faz menção de Sua Palavra: "A Lei do Senhor" diz ele, "é perfeita e restaura as almas; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos simples; os mandamentos do Senhor são retos e alegram o coração; o preceito do Senhor é puro e ilumina os olhos" (Sl19:7-8). Ora, ainda que faça referência a outros usos da Lei, assinala ele, contudo, de modo geral, que Deus ainda que em vão convide a Si todos os povos, pela contemplação de Suas obras, oferece a Escritura como a única escola de Seus filhos.

Idêntica é a maneira como o Profeta fala no Sl.29, porque, depois de discursar a respeito da terrível voz de Deus - que sacode a terra com trovões, ventanias, chuvas, furacões e tempestades, fazendo tremer as montanhas e despedaçando os cedros - acrescenta, ao final, que no santuário de Deus se cantam louvores, visto que os incrédulos são surdos a todas as vozes de Deus, que ressoam nos ares! Da mesma maneira conclui ele outro Salmo, onde descreve as espantosas ondas do mar: "Confirmados foram os Teus testemunhos; a santidade é, para sempre, a formosura do Teu templo"(Sl.93:5). Daí vem também o que Cristo disse à mulher samaritana (Jo.4:22): que a gente dela e os outros povos adoravam o que desconheciam; que só os judeus prestavam culto ao Deus verdadeiro!

Ora, já que a mente humana, por causa da sua estupidez, não pode chegar até Deus, a menos que seja guiada e sustentada por Sua Sagrada Palavra, com exceção dos judeus (que eram guiados pela Palavra) todos os mortais - pelo fato de buscarem a Deus sem a Palavra -, tiveram de vagar na astultície e no erro!

http://www.ocalvinista.com/2009/12/somente-as-escrituras-jcalvino.html

Inflamados pela Verdade – João Calvino


Temos de ser inflamados para seguir a Deus aonde quer formos por Ele chamados. Sua Palavra tem de ter tal autoridade para conosco como ela merece, e, havendo-nos retirado deste mundo, temos de nos sentir arrebatados na busca da vida santificada. Porém, é mais que estranho que, embora a luz de Deus esteja brilhando mais radiantemente que nunca, haja uma lamentável' falta de zelo. Em resumo, é impossível negar que é para nossa grande vergonha, para não dizer temível condenação, que conhecemos tão bem a verdade de Deus e temos tão pouca coragem em defendê-la.

Acima de tudo, quando olhamos para os mártires do passado, nos envergonhamos de nossa covardia! Em sua maioria não eram pessoas muito versadas nas Santas Escrituras para poderem disputar cm todos os assuntos. Eles sabiam que havia um Deus, a quem convinham adorar eservir; que haviam sido remidos pelo sangue de Jesus Cristo a fim de colocarem a confiança de salvação nEle e em sua graça; e que todas as invenções dos homens, sendo mera inutilidade e lixo. eles deviam condenar todas as idolatrias e superstições. Numa palavra, sua teologia era, emsubstância, esta: Há um Deus que criou todo o mundo e nos declarou sua vontade por Moisés e pelos profetas, e, finalmente, por Jesus Cristo e seus apóstolos; e temos um Redentor exclusivo, que nos comprou por seu sangue e por cuja graça esperamos ser salvos. Todos os ídolos do mundo são amaldiçoados e merecem abominação.

Com um sistema abarcando nenhum outro ponto que não esses, eles foram corajosamente às chamas ou a qualquer outro tipo de morte. Não entravam de dois em dois ou de três em três, mas em tamanhos grupos, cujo número dos que caíram pelas mãos dos tiranos é quase infinito.

O que então deve ser feito para inspirar nosso peito com a verdadeira coragem? Temos, em primeiro lugar, de considerar quão preciosa é a confissão de nossa fé aos olhos de Deus. Pouco sabemos o quanto Deus preza isso, se nossa vida, que não é nada, é estimada mais altamente pornós. Quando isso se dá, manifestamos maravilhoso grau de estupidez. Não podemos salvar nossa vida à custa de nossa confissão sem reconhecermos que a mantemos em mais alta estima que a honra de Deus e a salvação de nossa alma.

Um pagão poderia dizer: "Foi coisa miserável salvar a vida deixando as únicas coisas que tornavam a vida desejável!" E, não obstante, tal indivíduo e outros como ele nunca souberam por que propósito os homens são colocados no mundo, e por que vivem aqui. Sabemos muito bem qual deve ser a principal meta de vida, isto é, glorificar a Deus, para que Ele seja nossa glória. Quando isso não é feito, ai de nós! Não podemos continuar vivendo por um único momento na terra sem amontoarmos outras maldições sobre nossas cabeças. Contudo, não estamos envergonhados de obter alguns dias para nos enlanguescer aqui embaixo, renunciando o Reino eterno ao nos separarmos dEle, por cuja energia somos sustentados em vida.

Mas como a perseguição sempre é severa e amarga, consideremos: Como e por quais meios os cristãos podem se fortalecer com paciência, para resolutamente exporem a vida pela verdade de Deus. O texto que lemos em voz alta, quando corretamente compreendido, é suficiente paranos induzir a agirmos assim. O apóstolo diz: ''Saiamos da cidade para o Senhor Jesus, levando seu vitupério". Em primeiro lugar, Ele nos lembra que, embora as espadas não sejam desembainhadas contra nós, nem o fogo aceso para nos queimar, não podemos ser verdadeiramente unidos ao Filho de Deus, enquanto estamos arraigados neste mundo. Portanto, um cristão, mesmo em repouso, sempre tem de ter um pé pronto a marchar para a batalha, e não só isso, mas tem de ter seus afetos retirados do mundo, ainda que o corpo esteja habitando aqui.

Enquanto isso, para consolar nossas enfermidades e mitigar a vexação e tristeza que a perseguição nos causa, é-nos oferecida uma boa recompensa. Sofrendo pela causa de Deus, estamos caminhando passo a passo após o Filho de Deus e o temos por nosso Guia. Fosse dito simplesmente que para sermos cristãos tivéssemos de corajosamente passar por todos os insultos do mundo, encontrar a morte em todo momento e da maneira que Deus se agradasse designar, teríamos aparentemente algum pretexto para replicar. É um caminho desconhecido para irmos na dúvida. Mas quando somos ordenados a seguir o Senhor Jesus, sua direção é muito boa e honrada para ser recusada.

Somos tão melindrosos quanto à disposição de suportar qualquer coisa? Então temos de renunciar a graça de Deus pela qual Ele nos chamou à esperança de salvação. Há duas coisas que não podem ser separadas — ser membro de Cristo e ser provado por muitas aflições. Quem dera fosse realmente fácil, mesmo para Deus, nos coroar imediatamente sem exigir que sustentássemos qualquer combate. Mas assim como é seu prazer que Cristo reine em meio aos seus inimigos, assim também é sua vontade que nós, sendo colocados no meio deles, soframos a opressão e violência que nos infligem até que "Ele nos liberte. Sei, de fato, que a carne esperneia quando deve ser levada a este ponto, mas não obstante a vontade de Deus tem de sobrepor-se.

Em tempos passados, muitas pessoas, para obter simples coroas de folhas, não recusavam o trabalho duro, a dor e a dificuldade. Até mesmo a morte não lhes era grande preço, e, ainda assim, cada um deles disputava uma corrida, não sabendo se iria ganhar ou perder o prêmio. Deus nos oferece a coroa imortal pela qual nos tornarmos participantes da sua glória.

Ele não quer dizer que devemos lutar a esmo, mas todos temos a promessa do prêmio pelo qual nos empenhamos. Temos algum motivo para nos recusarmos a lutar? Achamos que foi dito em vão: "Se morremos com Jesus, também com ele viveremos"? Nosso triunfo está preparado, e contudo fazemos tudo o que podemos para evitar o combate. para não deixar meios sem serem empregados que sejam adequados para nos estimular, Deus coloca diante de nós Promessas, de um lado, e Ameaças, do outro. Sentindo que as promessas não têm influência suficiente, fortaleçamo-nos acrescentando as ameaças. É verdade que devemos ser obstinados no extremo de não pôr mais fé nas promessas de Deus, quando o Senhor Jesus diz que Ele nos confessará como seus diante de seu Pai, contanto que o confessemos diante dos homens.

Mas se Deus não pode nos alcançar por meios gentis, não devemos ser meros obstáculos se suas ameaças também falham? Jesus convoca todos aqueles que, por medo da morte temporal, negam a verdade, a comparecerem no tribunal de seu Pai, e diz que então o corpo e a alma serão entregues à perdição. Em outra passagem, Ele afirma que negará todos o que o tiverem negado diante dos homens. Estas palavras, se não somos completamente impérvios para sentir, bem que podem fazer nossos cabelos se levantarem enfim!

É em vão alegarmos que piedade deve nos ser mostrada, já que nossas naturezas são tão delicadas; pois é dito, pelo contrário, que Moisés, tendo buscado a Deus pela fé, foi fortalecido para não se entregar sob tentação. Portanto, quando somos flexíveis e fáceis de dobrar, é sinal manifesto. Não estou dizendo que não temos zelo, nem firmeza, mas que não sabemos nada de Deus ou de seu Reino. Há dois pontos a considerar. O primeiro é que todo o Corpo da Igreja em geral sempre esteve, e até ao fim estará, sujeito a ser afligido pelos ímpios. Vendo como a Igreja de Deus é pisoteada nos dias atuais pelos orgulhosos indivíduos mundanos, como um late e outro morde, como torturam, como conspiram contra ela. como ela é assaltada incessantemente por cães raivosos e bestas selvagens, não nos esqueçamos de que a mesma coisa foi feita em todos os tempos passados.

Enquanto isso, o assunto de suas aflições sempre foi afortunado. Em todos os eventos, Deus fez com que, embora fosse oprimida por muitas calamidades, ela nunca tenha sido completamente esmagada; como está escrito: "Os ímpios com todos os seus esforços não tiveram sucesso no que intentaram". O apóstolo Paulo se gloria no fato e mostra que este é o curso que Deus, em misericórdia, sempre toma. Ele diz: "Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos" (2 Co 4.8-10).

Só menciono brevemente neste sermão para ir ao segundo ponto, que está mais a nosso propósito, que devemos tirar vantagem dos exemplos particulares dos mártires que foram antes de nós. Não são limitados a dois ou três, mas são, como diz o apóstolo, "uma tão grande nuvem". Com esta expressão, ele intima que o número é tão grande que deve ocupar toda nossa visão. Para não ser tedioso, mencionarei somente os judeus, que foram perseguidos pela verdadeira religião, não apenas sob a tirania do rei Antioco, mas também um pouco depois da sua morte. Não podemos alegar que o número dos sofredores foi pequeno, pois formava um grande exército de mártires. Não podemos dizer que consistia em profetas a quem Deus tinha separado das pessoas comuns, pois mulheres e criancinhas faziam parte do grupo. Não podemos dizer que eles escaparam por pouca coisa, porque foram torturados tão cruelmente quanto possível. Por conseguinte, ouvimos o que o apóstolo diz: "Uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição; e outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos a fio de espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra (Hb 11.35-38).


http://www.ocalvinista.com/2010/01/inflamados-pela-verdade-joao-calvino.html

A grande relevância dos ensinos de Calvino para nós hoje


Por: Augustus Nicodemus Lopes

A influência do movimento neopentecostal, surgido na década de sessenta, tem-se feito sentir de forma profunda nas denominações evangélicas históricas, e também dentro da Igreja Presbiteriana do Brasil. Não podemos tratar o movimento como um bloco monolítico, existem, dentro dele, diversas correntes e ramificações, o que faz com que generalizações tornem-se injustas. Mas, onde aparece com toda a liberdade, o neopentecostalismo manifesta a crença em novas revelações através de profecias e línguas, visões e sonhos, todos atribuídos ao Espírito Santo, e em alguns casos, práticas estranhas ao cristianismo histórico, que são atribuídas ao poder do Espírito Santo, como "cair" no Espírito, o "sopro" do Espírito, o "riso santo", característica principal do movimento conhecido como "a bênção de Toronto". Há pastores que pretendem ter controle sobre o Espírito Santo, que presumem concedê-lO pela imposição de mãos, lançá-IO sobre o povo, girando o paletó, soprando sobre eles, etc, como o conhecido carismático Benny Hinn. Estes super-pastores determinam até mesmo quando o Espírito vai curar ou agir, pois marcam com antecedência reuniões de cura e libertação, coisa que nem mesmo o Senhor Jesus e os apóstolos fizeram.

As denominações evangélicas (a presbiteriana incluída!) estão aturdidas, tomadas de surpresa por esses ensinos. Muitas de suas igrejas locais têm adotado, em maior ou menor medida, as doutrinas e práticas do neopentecostalismo. Poderíamos receber ajuda do ensino de Calvino, nesta hora?

Em que o ensino de Calvino nos ajuda hoje?

Em primeiro lugar, o ensino de Calvino sobre o testemunho interno do Espírito vem lembrar à Igreja que, nestes tempos difíceis, ela deve buscar de Deus a íntima iluminação do Espírito para compreender e aplicar as Escrituras à sua vida e missão. Corremos o risco de pensar que Calvino, em sua luta contra os excessos dos "Entusiastas", caiu no extremo do academicismo frio. Balke nos relata o que de fato ocorreu:
"Calvino, o teólogo do Espírito Santo, queria guardar-se contra o fanatismo, sem porém impedir a liberdade do Espírito." ¹

Como Calvino, devemos nos guardar dos excessos de hoje, ao mesmo tempo em que, submetendo-nos à liberdade do Espírito, procuramos a Sua iluminação. Todavia, para isso, é necessário arrependimento e saneamento da vida das igrejas focais, dos conselhos, concílios, organizações e instituições eclesiásticas que compõem a IPB. É preciso nos voltarmos a Deus em oração, suplicando a iluminaçãodo Espírito, como bem orienta a Carta Pastoral da Igreja Presbiteriana do Brasil sobre o Espírito Santo:
Ao mesmo tempo em que orienta a Igreja a guardar-se de uma interpretação das Escrituras que parte dos princípios hermenêuticos equivocados da experiência neopentecostal, a Igreja também adverte contra uma interpretação intelectualizada e árida das Escrituras, que se esqueceda necessidadeda iluminação do Espírito para sua compreensão e de que Deus promete ensinar àqueles que procuram andar em santidade e retidão (Sal. 119:18, 33-34; Luc. 24:44-45). ²

Em segundo lugar, Calvino nos desafia a examinar todas as manifestações espirituais pelo crivo da Palavra de Deus, quanto à natureza, ao propósito, e ao modo dessas manifestações. Essa prática está pressupondo corretamente o ensino bíblico de que o Espírito Santo não Se contradiz. As Escrituras foram inspiradas por Ele. Embora o Espírito aja de formas distintas em épocas distintas, jamais o faz em contradição ao que nos revelou na Palavra. Deveríamos estar abertos para o fato de que o Espírito tem enfatizado aspectos diferentes da Palavra em épocas diferentes - porém, jamais indo além dela ou contra ela.

Em terceiro lugar, o ensino de Calvino nos alerta contra os que pretendem ter total controle sobre o Espírito, que pretendem dispensar o batismo do Espírito pela imposição de mãos, que "ensinam" aos crentes imaturos e incautos a falar em línguas. Alerta-nos a rejeitar todo ensino, movimento, culto, liturgia, onde a Palavra de Deus não receba a devida proeminência. Se o Espírito fala pela Palavra, a Palavra deve ser o centro.

Muitos presbiterianos consideram-se calvinistas e reformados, mas quantos realmente percebem as implicações do ensino calvinista reformado sobre a obra do Espírito para as práticas neopentecostais que são aceitas em muitas das nossas igrejas? Calvino foi, de fato, um homem do Espírito Santo, que guiado por Ele, tornou-se o principal instrumento de Deus para a Reforma do século XVI, movimento que, na realidade, foi um dos maiores avivamentos espirituais ocorridos na Igreja Cristã, após o período apostólico. Todos nós queremos um avivamento espiritual, da mesma magnitude. Calvino, que viveu e ministrou em meio àquela tremenda manifestação de poder divino, não teve receio de ofender o Espírito por inquirir, de forma profunda e meticulosa, sobre a genuinidade dos fenômenos que sempre acompanham os grandes movimentos espirituais da história. Se por um lado não devemos ter medo do que o Espírito possa fazer, por outro, devemos temer a obra espúria dos espíritos enganadores, corno também o nosso próprio coração enganoso.

E por fim, vale a pena mencionarmos que "a era do Espírito Santo", como é conhecida em muitos meios neopentecostais, iniciou-se, não em 1906, com a reunião na rua Azuza, nos Estados Unidos, mas desde o dia de Pentecoste. As evidências bíblicas são numerosas. Em seu sermão no dia de Pentecoste, o apóstolo Pedro declarou que a descida do Espírito estava inaugurando os últimos dias (Atos 2:16-21). Os demais apóstolos ensinaram, semelhantemente, que os últimos dias, a dispensação anterior ao dia do julgamento final, já havia chegado (1 Cor. 7:29; 1 João 2:18).

Enfatizo esse ponto pois alguns poderiam argumentar que estamos vivendo hoje na "era do Espírito", e que Calvino viveu antes dessa época. Os que assim acreditam, afirmam que hoje o Espírito está agindo de uma forma muito mais intensa, e mesmo, diferente, da época da Reforma, e que, portanto, o que Calvino experimentou e ensinou está, num certo sentido, ultrapassado.

Entretanto, as Escrituras nos ensinam que a Igreja já está vivendo os últimos dias, a dispensação do Espírito, desde o período apostólico. Calvino viveu e ensinou em plena época do Espírito, tanto quanto nós hoje vivemos e labutamos. O ensino de Calvino, por ser bíblico, pode nos servir de balizamento, indicando-nos o estreito caminho do equilíbrio, entre uma vida de piedade e uma mente firmada nas antigas doutrinas da graça.
Notas:
1 - Balke, Calvin and the Anabaptist Radicals, 326.
2 - "O Espírito Santo Hoje - Os Dons de Línguas e Profecia", em Carias Pastorais (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1995). O documento foi elaborado pela Comissão Permanente de Doutrina da IPB.

Autor: Rev. Augustus Nicodemus Lopes
Fonte: Livro Calvino, o Teólogo do Espírito Santo - Seu ensino sobre o Espírito Santo e a Palavra de Deus. Editora PES - Publicações Evangélicas Selecionadas
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via: bereianos.blogspot.com

A Igreja versus o Mundo


Por: John MacArthur Jr.

"Irmãos, não vos maravilheis se o mundo vos odeia". (1Jo 3.13)

Por que os evangélicos tentam tão deses¬peradamente cortejar o favor do mundo? As igrejas planejam seus cultos de adoração para servir aos "sem-igreja". Os produtores cristãos imitam a coqueluche mundana do momento em termos de música e entretenimento. Os pregadores se sentem aterrorizados de que a ofensa do evangelho possa fazer alguém se voltar contra eles; então deliberadamente omitem partes da mensagem que o mundo pode não se agradar.
O movimento evangélico parece ter sido sabotado por legiões de falsos especialistas mundanos que estão empenhados em tentar fazer o melhor que podem para convencer o mundo de que a igreja pode ser tão inclusiva, pluralista e de mente aberta quanto a mais politicamente correta pessoa mundana.
A busca pela aprovação do mundo é nada mais, nada menos que adultério espiritual. Na verdade, isto é precisamente a imagem que o apóstolo Tiago usou para descrevê-la. Ele escreveu, "Infiéis [NKN: "adúlteros e adúlteras"], não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus" (Tg 4.4).
Existe e sempre existiu uma incompati¬bilidade fundamental, irreconciliável entre a igreja e o mundo. O pensamento cristão é totalmente desarmônico com todas as filosofias da História. A fé genuína em Cristo implica numa negação de todo valor mundano. A verdade bíblica contradiz todas as religiões do mundo.
O próprio Cristianismo é, portanto, virtualmente contrário a tudo o que este mundo admira. Jesus disse a seus discípulos, "Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fosseis do mundo, o mun¬do amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhei, por isso, o mundo vos odeia" (Jo 15.18,19). Observe que o nosso Senhor considerou como certo que o mundo desprezaria a igreja. Longe de ensinar a seus discípulos a que tenta sem ganhar o favor do mundo, reinventando o evangelho para se adequar às suas preferências, Jesus expressamente advertiu que a busca pelas aclamações mundanas é uma característica dos falsos profetas: "Ai de vós, quando todos vos louvarem' Porque assim procederam seus pais com os falsos profetas" (Lc 626).
Ele foi mais longe, "Não pode o mundo odiar-vos, mas a mim me odeia, porque eu dou testemunho a seu respeito de que as suas obras são más" (Jo 7.7). Em outras palavras, o desprezo do mundo pelo Cristianismo deriva de motivos morais, não intelectuais: "O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras" (Jo 3.19,20). É por esta razão que, não importa quão dramaticamente a opinião do mundo possa vir a variar, a verdade cristã não será jamais popular ao mundo.
Contudo, virtualmente em toda época da história da igreja, tem havido gente na igreja que está convencida de que a melhor maneira de ganhar o mundo é satisfazer os seus gostos. Tal tipo de abordagem tem sempre sido em de¬trimento da mensagem do evangelho. As únicas vezes que igreja causou impacto significativo sobre o mundo foi quando o povo de Deus permaneceu firme, se recusou a compactuar e ousadamente proclamou a verdade apesar da hostilidade do mundo. Quando os cristãos se des¬viam da tarefa de confrontar os enganos do mundo com as impopulares verdades bíblicas, a igreja invariavelmente perde sua influência e impotente se mescla ao mundo. Tanto as Escrituras quanto a História atestam esse fato.

E a mensagem cristã simplesmente não pode ser torcida para se conformar com a instabilidade da opinião do mundo. A verdade bíblica é fixa e constante, não sujeita a mudança ou adaptação. A opinião do mundo, por outro lado, está sempre em fluxo constante. Os vários modismos e filosofias mudam radicalmente e regularmente de geração para geração. A única coisa que permanece constante no mundo é seu ódio por Cristo e seu evangelho.
Ao que tudo indica, o mundo não abraçará por muito tempo qualquer das ideologias que estão atualmente em voga. Se a História servir como indicador, quando nossos netos se tomarem adultos a opinião do mundo terá sido dominada por um sistema completamente novo de crenças e um conjunto de valores totalmente diferente. A geração de amanhã renunciará a todas os modismos e filosofias de hoje, mas urna coisa permanecerá imutável: até que o Senhor mesmo volte, seja qual for a ideologia que ganhe popularidade no mundo, ela será tão hostil às verdades bíblicas corno o foram todas as precedentes.
Modernismo
Pense no que aconteceu no século passado, por exemplo. Cem anos atrás a igreja estava ameaçada pelo modernismo. Modernismo era urna cosmovisão baseada na noção de que somente a ciência podia explicar a realidade. O modernista, com efeito, começou com a pressu¬posição de que nada sobrenatural é real.
Deveria ter ficado instantaneamente óbvio que o modernismo e o Cristianismo eram incom-patíveis no nível mais básico. Se nada sobrena¬tural era real, então grande parte da Bíblia seria falsa e sem autoridade; a encarnação de Cristo seria um mito (anulando a autoridade de Cristo também); e todos os elementos sobrenaturais do Cristianismo, incluindo o próprio Deus, teriam de ser totalmente redefinidos em termos naturalistas. O modernismo foi anticristão até à sua medula.
Não obstante, a igreja visível no começo do século 20 ficou cheia de gente que estava con-vencida de que modernismo e Cristianismo podiam e deviam ser conciliados. Eles insistiam que se a igreja não acompanhasse o passo com dos tempos, abraçando o modernismo, o Cristianismo não sobreviveria ao século 20. A igreja se tornaria paulatinamente irrelevante para o povo mo¬derno, eles diziam, e logo desapareceria. Assim sendo, eles inventaram um "evangelho social" desprovido do verdadeiro evangelho da salvação.
Naturalmente, o Cristianismo bíblico sobreviveu o século 20 muito bem, obrigado. Nos lugares onde os cristãos permaneceram comprometidos com a verdade e autoridade das Escrituras, a igreja floresceu, mas, ironicamente, aquelas igrejas e denominações que abraçaram o modernismo foram as que se tornaram pouco a pouco irrelevantes e desapareceram antes do fim do século. Muitos edifícios de pedra, grandiosos, mas quase vazios, dão testemunho da fatalidade da conformação com o modernismo.
Pós-Modernismo
O modernismo é agora considerado como um modo de pensar do passado. A cosmovisão dominante tanto no círculo secular quanto no acadêmico atualmente é chamada de pós-moder¬nismo. Os pós-modernistas têm repudiado a confiança absoluta dos modernistas na ciência como único caminho para a verdade. Na realidade os pós-modernistas perderam completamente o interesse pela "verdade", insistindo que não existe tal coisa como verdade absoluta ou universal.
O modernismo era de fato asneira e preci¬sava ser abandonado, mas o pós-modernismo é um passo trágico na direção errada. Ao contrário do modernismo, que estava ainda preocupado com a possibilidade de convicções básicas, crenças e ideologias serem objetivamente verdadeiras ou falsas, o pós-modernismo simplesmente nega que qualquer verdade possa ser objetivamente conhecida.
Para o pós-modernista a realidade é o que o indivíduo imagina que seja. Isso significa que o que é "verdadeiro" é determinado subjetivamente por cada um, e não existe tal coisa como a chamada verdade objetiva, com autoridade que governa ou se aplica universalmente a toda humanidade. O pós-modernista acredita naturalmente que não faz sentido debater se a opinião A é superior à opinião B. No final de contas, se a realidade é meramente uma invenção da mente humana a perspectiva de verdade de uma pessoa é afinal tão boa quanto a de outra.
Tendo desistido de conhecer a verdade objetiva, o pós-modernista se ocupa em lugar disso, com a busca para "entender" o ponto de vista da outra pessoa. Então as palavras "verdade" e "compreensão" tomam significados radicalmente novos. Ironicamente, "compreensão" requer que primeiro de tudo desacreditemos na possibilidade de conhecer qualquer verdade afinal. E "verdade" se torna nada mais do que uma opinião pessoal, geralmente melhor guardada para si mesmo.
Essa é uma exigência essencial, não negociável que o pós-modernismo faz a todo mundo: nós não devemos pensar que conhecemos qualquer verdade objetiva. Os pós-modernistas freqüentemente sugerem que toda opinião deveria receber igual respeito. E, portanto, numa visão superficial, o pós-modernismo parece movido por uma preocupação pela mente aberta para se chegar à harmonia e tolerância. Tudo soa muito caridoso e altruísta, mas o que realmente sublinha o sistema de crenças pós-modernistas é uma intolerância total por toda cosmovisão que faça alegações de qualquer verdade universal ¬particularmente o Cristianismo bíblico.
Em outras palavras, o pós-modernismo começa com uma pressuposição que é irreconciliável com a verdade objetiva, divinamente revelada nas Escrituras. Da mesma forma que o modernismo, o pós-modernismo é fundamental e diametralmente oposto ao evangelho de Jesus Cristo.
Pós-Modernismo e a Igreja
Não obstante, a igreja atualmente está cheia de gente que advoga idéias pós-modernistas. Alguns deles fazem isso consciente e deliberadamente, mas a maioria o faz sem querer (Tendo embebido demasiado do espírito dos tempos, eles estão simplesmente regurgitando opiniões do mundo). O movimento evangélico como um todo, ainda se recuperando de sua longa batalha contra o modernismo, não está preparado para um adversário novo e diferente. Muitos cristãos, portanto, não reconheceram ainda o perigo extremo colocado pelo pensamento pós-modernista.
A influência pós-modernista claramente já infecta a igreja. Os evangélicos estão baixando o tom da sua mensagem para que as rígidas alegações de verdades do evangelho não soem tão desagradáveis aos ouvidos pós-modernos. Muitos evitam fazer afirmações inequívocas de que a Bíblia é verdadeira e todos os outros sistemas religiosos do mundo são falsos. Alguns que se intitulam cristãos foram ainda mais longe, determinadamente negando a exclusividade de Cristo e abertamente questionando sua alegação de ser ele o único caminho para Deus.
A mensagem bíblica é clara. Jesus disse, "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14.6). O apóstolo Pedro proclamou a uma audiência hostil, " ... não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" (At 4.12). O apóstolo João escreveu, " . quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus" (Jo 3.36). Repetidas vezes as Escrituras enfatizam que Jesus Cristo é a única esperança de salvação para o mundo. " ... há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem" (1Tm 2.5). Somente Cristo pode expiar pecados e, portanto, somente Cristo pode dar salvação. " ... o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. “Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida" (1Jo 5.11,12).
Essas verdades são contrárias à doutrina central do pós-modernismo. Elas fazem alegações de verdade exclusivas, universais, declarando ser Cristo o único caminho para o céu e errôneos todos os outros sistemas de crença. Isto é o que as Escrituras ensinam. É o que a igreja verdadeira tem proclamado ao longo de toda sua história. É a mensagem do Cristianismo. E simplesmente não pode ser ajustado para acomodar as sensibilidades pós-modernas. Em vez disso, muitos cristãos simplesmente vão passando por cima das alega¬ções exclusivas de Cristo, debaixo de um silêncio constrangedor. Pior ainda, alguns na igreja — incluindo alguns dos mais conhecidos lideres evan¬gélicos — começaram a sugerir que talvez o povo possa ser salvo fora do conhecimento de Cristo.
Os cristãos não podem capitular ao pós ¬modernismo sem sacrificar a essência da nossa fé. A alegação da Bíblia de que Cristo é o único caminho da salvação está certamente em desarmonia com a noção pós-moderna de "tolerância", mas é, no final de contas, exatamente o que a Bíblia claramente ensina. E a Bíblia, não a opinião pós-moderna, é a autoridade suprema para o cristão. Somente a Bíblia deve determinar o que nós cremos e proclamar isso ao mundo. Nós não podemos abrir mão disso, não importa quanto o mundo pós-modernista reclame que nossas crenças fazem de nós pessoas "intolerantes".
Tolerância Intolerante
A veneração da tolerância pelo pós-modernista é uma característica óbvia, mas essa versão da "tolerância" é, na verdade, uma dis¬torção perigosa da verdadeira virtude. Aliás, tole¬rância nunca é mencionada na Bíblia como uma virtude, exceto no sentido de paciência, longanimidade e mansidão (ver Ef 4.2). De fato, a noção contemporânea de tolerância é um conceito pateticamente fraco comparado ao amor que as Escrituras ordenam aos cristãos que mostrem aos seus inimigos. Jesus disse, "amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam" (Lc 6.27,28; confira os versículos 29-36).
Quando nossos avós falaram de tolerância como uma virtude, eles tinham isso em mente. A palavra então significava respeitar as pessoas e tratá-las com bondade mesmo quando acreditamos que elas estão erradas, mas a noção pós moderna de tolerância significa que nós nunca devemos considerar a opinião de ninguém como errada. A tolerância bíblica é para as pessoas; a tolerância pós-moderna é para idéias.
Aceitar toda crença como igualmente válida dificilmente é uma virtude real, mas é praticamente o único tipo de virtude que o pós-mo¬dernismo conhece. As virtudes tradicionais (incluindo humildade, domínio próprio e castidade) são abertamente zombadas e até mesmo consideradas como transgressões, no mundo do pós-modernismo.
Previsivelmente a beatificação da tolerância pós-moderna tem tido seus efeitos desastrosos sobre a verdadeira virtude em nossa sociedade. Nestes tempos de tolerância, o que era proibido passou a ser encorajado. O que era tido como imoral é agora festejado. Infidelidade marital e divórcio foram normalizados. Impureza é o lugar comum. Aborto, homossexualidade e perversões morais de todos os tipos são aclamados por grandes grupos e entusiasticamente promovidos pela mídia popular. A noção pós-moderna de tolerância está sistematicamente virando virtude genuína na cabeça deles.
Praticamente a única coisa a ser rejeitada pela sociedade como maligna é a noção simplória e politicamente incorreta que o estilo de vida, religião, ou perspectiva diferente de outra pessoa é incorreto. Uma exceção notável àquela regra se destaca claramente: os pós-modernistas aceitam a intolerância se for contra aqueles que alegam conhecer a verdade, particularmente os cristãos bíblicos. De fato, aqueles que se proclamam os advogados líderes de tolerância atualmente são freqüentemente os oponentes mais declarados do Cristianismo evangélico.
Basta dar uma olhada na Internet, por exemplo, e veja o que está sendo dito pelos autoestilizados campeões de tolerância religiosa. O que você vai encontrar é uma grande quantidade de intolerância pelo Cristianismo bíblico. Na verdade, alguns dos materiais mais amargos anticristãos na Internet podem ser encontrados em sites supostamente promovendo a tolerância religiosa!
Por que isso? Por que o Cristianismo bíblico autêntico depara com tal feroz oposição de pessoas que pensam ser modelos de tolerância? É porque as alegações de verdade das Escrituras e particularmente as alegações de Jesus de ser o único caminho para Deus — são diametralmente opostos às pressuposições fundamentais da mente pós-moderna. A mensagem cristã representa um golpe fatal à cosmovisão pós-modernista.
Mas se os cristãos se deixam enganar ou são intimidados a suavizar as alegações diretas de Cristo e a alargar o caminho estreito, a igreja não fará qualquer progresso contra o pós-modernismo. Nós precisamos recuperar a distinção do evangelho. Precisamos reconquistar nossa confiança no poder da verdade de Deus. E nós precisamos proclamar com ousadia que Cristo é a única verdadeira esperança para o povo deste mundo.
Isso pode não ser o que o povo quer ouvir neste tempo pseudo-tolerante do pós-modernismo, mas é verdade assim mesmo. E precisamente porque é verdade e o evangelho de Cristo é a única esperança para um mundo perdido é que é ainda mais urgente levantarmos acima de todas as vozes de confusão no mundo e dizer desta forma.
O restante deste livro irá examinar seis conceitos chaves que explicam a distinção do Cristianismo. São princípios que totalmente con¬tradizem a sabedoria convencional do pós-modernismo, mas eles são componentes essenciais de uma cosmovisão bíblica. Esses seis princípios, definidos por seis palavras-chave, se elevam uns sobre os outros e se interligam de tal modo que permanecem em pé ou caem juntos. Eles nos dão a estrutura necessária para o pensamento, para entendermos o mundo à nossa volta e para ministrarmos neste tempo pós-moderno.
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Autor: John MacArthur Jr.
Fonte: Princípios para uma Cosmovisão Bíblica, Capítulo 1, Ed. Cultura Cristã.
Via: [ Eleitos de Deus ]
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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O SEGREDO DO CARÁTER PURITANO


Por causa da propensão ao mal presente na natureza humana, os puritanos estavam bem cientes do engodamento do pecado. John Owen enxergou três estágios no engano do pecado.


(1) - Primeiro, a perspectiva se perde na vileza do pecado e na maravilha da graça de Deus. A tendência do pecado é sempre diminuir a seriedade do pecado. A verdade bíblica perde sua empunhadura na imaginação e é reduzida a simples conteúdo cognitivo. À medida que as sendibilidades espirituais são entorpecidas, o cristão perde aquele "prazer santo" que já foi motivo primeiro em sua vida.


(2) - Em segundo lugar, quando as inclinações não estão firmemente direcionadas às coisas de Deus, a atração do pecado faz sua aparição na imaginação. À medida que o pecado é contemplado sem o correspondente senso de desgosto, ele capta a imaginação e a torna positivamente desejável. A imaginação "rola" o prazer do pecado, "tal qual o rolar da comida, feito pela língua, para agradar o paladar".


(3) - Em terceiro lugar, a vontade anui ou que parece ser bom à mente e cria racionalizações pra justificar o pecado que está sendo contemplado. As emoções são alteradas e inflamadas pelas representaçõe vívidas do prazer do pecado, enquanto as convicções da consciência são aliciadas. Se essa "corrente de engano" não for quebrada, ela conduzirá a atitudes e ações pecaminosas. "Mas tarde, após o pecado residente ter criado um padrão de hábito, o ciclo pode ocorrer tão rapidamente que não haverá mais quaisquer consciência dos "estágios", do "conferenciar e do seduzir". Em lugar disso, o comportamento acontecerá rapidamente e com pouca advertência".Nesse sentido, Thomas Brooks adverte contra o engano do pecado quando ele aparece por intermédio das cores da virtude. Em sua descrição acerca do efeito produzido pelo desmascarar do pecado, a eloqüência de Brooks condiz com a importância do evente e capta a o intensidade que é a marca registrada do puritanismo:

"Ah, almas! Quando te deitares sobre o leito de morte, e compareceres diante do tribunal, o pecado será desmascarado, suas veste serão retiradas, aí ele terá a aparência de mais vil, imundo, e terrível que o próprio inferno; dessa forma, aquilo que outrora aparntava er doce agora parecerá tremendamente amargo, e aquilo que aparentava ser mais prazeroso parecerá tão desprezível, tão assustador à alma. Ah! a vergonha, a dor, o fel, o amargor, o horror, o inferno que a realidade do pecado, quando despido, despertará nas pobres almas! O pecado certamente se demonstrará mau e amargo para a alma, quando suas veste forem arrancadas... até temos pecado, Satanás é um parasita: quando pecamos, ele se torna um tirano"

Brooks também adverte que dar preferência a um pecado menor impele o diabo a nos tentar a cometermos um pecado maior. "O pecado possui natureza usurpadora; ele rasteja, deslizando pelos degraus da alma, passo a passo". Com isso, Owen concordou, apresentando o pecado como uma força existente dentro do coração humano:

"Primeiro ele cobiça, mexendo e movimentando invenções imoderadas na mente; deseja, por meio dos apetites e dos interesses, propondo-os à vontade. Mas não pára por aí, pois não pode parar; ele insta, pressiona e persegue seus propósitos com determinação, força e vigor, luta, contende e guerreia para obter seu fim e propósito"

Dessa forma grande parte do aconselhamento puritano concentrava-se no problema do pecado por causa da sua extensão penetrante, seu caráter enganador e sua natureza pervertida. Reconhecendo o engano residente em cada coração, os conselheiros puritanos sabiam que aquilo que as pessoas menos queriam ouvir era o que elas mais precisavam ouvir. Por conseguinte, a solução que os pastores puritanos ofereceram aos dilemas criados pelo domínio do pecado foi o princípio da mortificação.

Mortificação significa matar as obras do corpo (Rm 8.13). Mortificar sognifica tirar toda a força, o vigor e o poder do pecado, de modo que ele não possa agir por conta própria ou se impor na vida do crente. Isto inclui não apenas o fruto do pecado nos padrões de conduta exterior, mas também a reiz do pecado nas motivações e desejos interiores.

Em seu desenvolvimento do conceito de mortificação, Owen explica primeiro o que o conceito não é, antes de descrever o que ele é. Mortificação não significa eliminar o pecado a tal ponto nesta vida que esse deixa de se constituir problema. Embora, esse seja o alvo da santificação, ele não pode ser alcançado na vida presente por causa da presença do pecado que em nós habita ( Rm 7.14-25). Em segundo lugar, mortificação não significa alcançar um grau de civilidade ou conformidade à moralidade exterior, pois tal "pode parecer para o próprio homem e para os outros que são bastante mortificados, quando, quem sabe, seus corações sejam um fosso permanente de todo tipo de abominações" Em terceiro lugar, a mortificação não significa substituir um pecado por outro, pois todo pecado é digno de morte. Por fim, vitórias ocasionais sobre o pecado não contituem mortificação do princípio do pecado.

O delinear de Owen daquilo que está presente na mortificação foi muito bem resumido por Fergson:


"Ao contrário, a mortificação envolve o enfraquecimento habitual do pecado, e o constante lutar contra ele, com certa medida de sucesso. A batalha precisa ser perpétua, pois cada manifestação do pecado contém as sementes do domínio ímpio do pecado, e inclina-se sempre para o mesmo fim. Existe uma crucificação universal necessária da carne por meio da qual o peado é enfraquecido"


O segredo do caráter puritano pode ser encontrado na atitude para com a vida cristã na constante batalha espiritual contra o pecado. Isso difere bastate da quantidade de seminários a respeito de batalha espiritual que estão sendo oferecidos hoje, em que o cristão aprendem a lutar contra forças demoníacas ao seu redor. Os puritanos não lutavam contra demônios, mas contra si mesmos, por conseguinte adquiriam certa maestria sobre si mesmos, produzindo piedade e vida.


Fonte: josemarbessa.blogspot.com

domingo, 17 de janeiro de 2010

A Visão Puritana do Pecado


Os Puritanos, como um corpo, manifestaram uma percepção aguda da santidade, retidão, aversão ao pecado e severidade no juízo contra ele, que é uma das marcas do grande, gracioso, onisciente e onipresente Deus da Bíblia. Seu perspicaz discernimento da capacidade que o pecado tem para penetrar, causar repulsa e matar, brotou diretamente deste profundo senso de santidade na pessoa de Deus.

Sua sensibilidade ao pecado como uma força interior, divergente e astuta, que tiraniza o não-convertido e tormenta os santos foi extraordinária. Eles continuaram sendo os mestres do Cristianismo do passado neste campo particular de entendimento.

Viam o pecado como uma energia pervertida dentro das pessoas, que as escraviza. Levando-as a desafiar a Deus, ter um comportamento de satisfação própria, e algo que, por meio da distração, engano e oposição direta, enfraquece e derruba seus intentos de retidão. Tinham o pecado com o equivalente moral de um lobo em pele de ovelha, apresentando-se a nós constantemente como algo bom e desejável e necessário, nisso corrompendo a nossa consciência para que perdêssemos o senso de sua culpabilidade e o tratássemos como um amigo em vez de um inimigo.

C. S. Lewis, em seu livro The Great Divorce (O Grande Divórcio), descreve um homem com um camaleão nos ombros , que representa a lascívia. O camaleão murmura em seu ouvido sobre o quanto a lascívia é essencial para o seu bem-estar contínuo. Quando o anjo pergunta: “Devo matá-lo?”, a primeira reação do homem é dizer: “Não”. (Alguém lembra-se da oração de Agostinho: “Dê-me a castidade, mas não agora”.

Os puritanos teriam aplaudido o camaleão de Lewis como uma projeção perfeita do modo como o pecado assume suas diversas formas de expressão na vida do cristão. A teologia puritana afirma que o pecado foi destronado, mas não destruído ainda na vida do cristão. Agora o pecado encarrega-se, como o fazia, de buscar restabelecer o domínio que perdeu. Seu poder apresenta-se tanto nos maus hábitos, que muitas vezes estão profundamente enraizados e ligados às fraquezas humanas temperamentais, quanto nos repentinos assaltos e ataques frontais a áreas onde acredita-se estar invulnerável.

O pecado em si nunca perde a força. O máximo que acontece é que, com o avanço da idade, os altos e baixos da saúde e a mudança das circunstâncias pessoais, o pecado anterior encontra formas diferentes de expressão. Mas independente da ocasião em que ele se manifeste ou da forma que assuma, o cristão não tem apenas a responsabilidade de resisti-lo, mas de atacá-lo e procurar faze-lo até a morte – em outras palavras, mortificá-lo, no sentido bíblico dessa palavra (Rm 8.13; Cl 3.5).

O ensino puritano sobre a mortificação da carne que nos tenta é completo e exaustivo. Inclui as disciplinas da auto-humilhação, do auto-exame, do preparar-se contra todos os pecados existentes nos eu sistema espiritual como uma preliminar para enfrentar qualquer um deles, evitando situações que acendam o fogo do pecado, vigiando para não se tornar uma de suas vítimas antes de perceber sua aproximação e orando especificamente ao Senhor Jesus para aplicar o poder mortal de sua cruz ao vício específico que tenta engendrar um contra-ataque.

Como escreveu o maior mestre puritano, John Owen: “Exercite a fé em Cristo para a MORTIFICAÇÃO de seus pecados. O sangue de Cristo é o remédio mais eficaz para a alma que tem a doença do pecado. Viva esta verdade, e morrerá como um conquistador; pela boa providência de Deus, viverá pra ver os desejos de sua carne mortos aos seus pés”.

Os Puritanos sempre foram mal recebidos pela crítica. Sua ênfase na guerra contínua do cristão até a morte contra o pecado “constante” (habitual” foi rejeitada como sendo um ensino maniqueísta ( a negação da bondade da natureza humana criada ), mórbido (a negação da alegria do comportamento natural) e moralmente irreal.

Mas de acordo com os fatos, tudo isso é correto, e a idéia de que todos os santos puritanos apenas pensavam em combater o pecado está completamente equivocada. O amor a Deus, a alegria da segurança, a mente espiritual, a sinceridade e o espírito público, a aceitação plácida da vontade de Deus, o caminho da persistência no oração e o poder da esperança da glória estão entre os muitos temas que são bem elaborados no ensino puritano sobre a santidade.

Nem todos batem na mesma tecla. No entanto, é verdade que a insistência em detectar, resistir e vencer os grilhões do pecado aparece em toda parte de sua teologia. Esta ênfase impediu muitos no passado de ver que a santidade no ensino puritano é fundamentalmente um alegre questão de paz, alegria, adoração, comunhão e crescimento.

O assunto sério que trata do auto-exame e do sofrimento, do interior e do exterior, na luta contra o pecado é apenas um lado da questão. Mas em uma época em que a ignorância, o espírito secular, a fraqueza moral e o pecado evidentes são tão comuns entre os cristãos são tão comuns, quanto o são hoje, sem dúvida esta lado rígido do puritanismo – O LADO QUE NOS FORÇA A PERCEBER a nossa pecaminosidade e os nossos pecados – É O QUE MAIS TEM A NOS ENSINAR.

fonte: josemarbessa.blogspot.com

sábado, 16 de janeiro de 2010

Por que Precisamos dos Puritanos?

J. I. Packer

O hipismo é conhecido como esporte de reis. O esporte do “atiralama”, porém, possui mais ampla adesão. Ridicularizar os Puritanos,em particular, há muito é passatempo popular nos dois lados do Atlântico,e a imagem que a maioria das pessoas tem do Puritanismo ainda contém bastante da deformadora sujeira que necessita ser raspada. “Puritano”, como um nome, era, de fato, lama desde o começo. Cunhado cedo, nos anos 1560, sempre foi um palavra satírica e ofensiva, subentendendo mau humor, censura, presunção e certa medida de hipocrisia, acima e além da sua implicação básica de descontentamento, motivado pela religião, para com aquilo que era visto como a laodicense e comprometedora Igreja da Inglaterra, de Elizabeth. Mais tarde, a palavra ganhou a conotação política adicional de ser contra a monarquia Stuart e a favor de algum tipo de republicanismo; sua primeira referência, no entanto, ainda era ao que se via como um forma estranha, furiosa e feia de religião protestante. Na Inglaterra, o sentimento antipuritano disparou no tempo da Restauração e tem fluído livremente desde então; na América do Norte edificou-se lentamente, após os dias de Jonathan Edwards, para atingir seu zênite há cem anos atrás na Nova Inglaterra pós-Puritana. No último meio século, porém, estudiosos têm limpado a lama meticulosamente.

E, como os afrescos de Michelangelo na Capela Sistina têm cores pouco familiares depois que os restauradores removeram o verniz escuro, assim a imagem convencional dos Puritanos foi radicalmente recuperada, ao menos para os informados. (Aliás, o conhecimento hoje viaja devagar em certas regiões.) Ensinados por Perry Miller, William Haller, Marshall Knappen, Percy Scholes, Edmund Morgan e uma série de pesquisadores mais recentes, pessoas bem informadas agora reconhecem que os Puritanos típicos não eram homens selvagens, ferozes e monstruosos fanáticos religiosos, e extremistas sociais, mas sóbrios, conscienciosos, cidadãos de cultura, pessoas de princípio, decididas e disciplinadas, excepcionais nas virtudes domésticas e sem grandes defeitos, exceto a tendência de usar muitas palavras ao dizer qualquer coisa importante, a Deus ou ao homem. Afinal está sendo consertado o engano.

Mas, mesmo assim, a sugestão de que necessitamos dos Puritanos — nós, ocidentais do final do século vinte, com toda nossa sofisticação e maestria de técnica tanto no campo secular como no sagrado — poderá erguer algumas sobrancelhas. Resiste a crença de que os Puritanos, mesmo se fossem de fato cidadãos responsáveis, eram ao mesmo tempo cômicos e patéticos, sendo ingênuos e supersticiosos, super-escrupulosos, mestres em detalhes e incapazes ou relutantes em relaxarem. Pergunta-se: O que estes zelotes nos poderiam dar do que precisamos? A resposta é, em uma palavra, maturidade. A maturidade é uma composição de sabedoria, boa vontade, maleabilidade e criatividade. Os Puritanos exemplificavam a maturidade; nós não. Um líder bem viajado, um americano nativo, declarou que o protestantismo norte-americano— centrado no homem, manipulativo, orientado pelo sucesso, auto-indulgente e sentimental como é, patentemente — mede cinco mil quilômetros de largura e um centímetro de profundidade. Somos anões espirituais. Os Puritanos, em contraste, como um corpo eram gigantes. Eram grandes almas servindo a um grande Deus.

Neles, a paixão sóbria e a terna compaixão combinavam. Visionários e práticos, idealistas e também realistas, dirigidos por objetivos e metódicos, eram grandes crentes, grandes esperançosos, grandes realizadores e grandes sofredores. Mas seus sofrimentos, de ambos os lados do oceano (na velha Inglaterra pelas autoridades e na Nova Inglaterra pelo clima), os temperaram e amadureceram até que ganharam uma estatura nada menos do que heróica. Conforto e luxo, tais como nossa afluência hoje nos traz, não levam à maturidade; dureza e luta, sim, e as batalhas dos Puritanos contra os desertos evangélico e climático onde Deus os colocou produziram uma virilidade de caráter, inviolável e invencível, erguendo-se acima de desânimo e temores, para os quais os verdadeiros precedentes e modelos são homens como Moisés e Neemias, Pedro, depois do Pentecoste, e o apóstolo Paulo.

A guerra espiritual fez dos Puritanos o que eles foram. Eles aceitaram o antagonismo como seu chamado, vendo a si mesmos como os soldados peregrinos do seu Senhor, exatamente como na alegoria de Bunyan, sem esperarem poder avançar um só passo sem oposição de uma espécie ou outra. John Geree, no seu folheto “O Caráter de um Velho Puritano Inglês ou Inconformista” (1646), afirma: “Toda sua vida ele a tinha como uma guerra onde Cristo era seu capitão; suas armas: orações e lágrimas. A cruz, seu estandarte; e sua palavra [lema], Vincit qui patitur [o que sofre, conquista]”.

Os Puritanos perderam, em certa medida, toda batalha pública em que lutaram. Aqueles que ficaram na Inglaterra não mudaram a igreja da Inglaterra como esperavam fazer, nem reavivaram mais do que uma minoria dos seus partidários e eventualmente foram conduzidos para fora do anglicanismo por meio de calculada pressão sobre suas consciências. Aqueles que atravessaram o Atlântico falharam em estabelecer Nova Jerusalém na Nova Inglaterra; durante os primeiros cinqüenta anos suas pequenas colônias mal sobreviveram, segurando-se por um fio. Mas a vitória moral e a espiritual que os Puritanos conquistaram permanecendo dóceis, pacíficos, pacientes, obedientes e esperançosos sob contínuas e aparentemente intoleráveis pressões e frustrações, dão-lhes lugar de alta honra no “hall” de fama dos crentes, onde Hebreus 11 é a primeira galeria. Foi desta constante experiência de forno que forjou-se sua maturidade, e sua sabedoria relativa ao discipulado foi refinada. George Whitefield, o evangelista, escreveu sobre eles como se segue:
Ministros nunca escrevem ou pregam tão bem como quando debaixo da cruz; o Espírito de Cristo e de glória paira então sobre eles. Foi isto sem dúvida que fez dos Puritanos... as lâmpadas ardentes e brilhantes. Quando expulsos pelo sombrio Ato Bartolomeu (o Ato de Uniformidade de 1662) e removidos dos seus respectivos cargos para irem pregar em celeiros e nos campos, nas rodovias e sebes, eles escreveram e pregaram como homens de autoridade. Embora mortos, pelos seus escritos eles ainda falam; uma unção peculiar lhes atende nesta mesma hora... Estas palavras vêm do prefácio de uma reedição dos trabalhos de Bunyan que surgiu em 1767; mas a unção continua, a autoridade ainda é sentida, e a amadurecida sabedoria permanece empolgante, como todos os modernos leitores do Puritanismo cedo descobrem por si mesmos. Através do legado desta literatura, os Puritanos podem nos ajudar hoje na direção da maturidade que eles conheceram e que precisamos. De que maneiras podemos fazer isto? Deixe-me sugerir alguns pontos específicos. Primeiro, há lições para nós na integração das suas vidas diárias. Como seu cristianismo era totalmente abrangente, assim o seu viver era uma unidade. Hoje, chamaríamos o seu estilo de vida de “holístico”: toda conscientização, atividade e prazer, todo “emprego das criaturas” e desenvolvimento de poderes pessoais e criatividade, integravam- se na única finalidade de honrar a Deus, apreciando todos os seus dons e tomando tudo em “santidade ao Senhor’’. Para eles não havia disjunção entre o sagrado e o secular; toda a criação, até onde conheciam, era sagrada, e todas as atividades, de qualquer tipo, deviam ser santificadas, ou seja, feitas para a glória de Deus. Assim, no seu ardor elevado aos céus, os Puritanos tornaram- se homens e mulheres de ordem, sóbrios e simples, de oração, decididos, práticos. Viam a vida como um todo, integravam a contemplação com a ação, culto com trabalho, labor com descanso, amor a Deus com amor ao próximo e a si mesmo, a identidade pessoal com a social e um amplo espectro de responsabilidades relacionadas umas com as outras, de forma totalmente consciente e pensada.

Nessa minuciosidade eram extremos, diga-se, muito mais rigorosos do que somos, mas ao misturar toda a variedade de deveres cristãos expostos na Escritura eram extremamente equilibrados. Viviam com “método” (diríamos, com uma regra de vida), planejando e dividindo seu tempo com cuidado, nem tanto para afastar as coisas ruins como para ter certeza de incluir todas as coisas boas e importantes — sabedoria necessária, tanto naquela época como agora, para pessoas ocupadas! Nós hoje que tendemos a viver vidas sem planejamento, ao acaso, em uma série de compartimentos incomunicantes e que, portanto, nos sentimos sufocados e distraídos a maior parte do tempo, poderíamos aprender muito com os Puritanos nesse ponto. Em segundo lugar, há lições para nós na qualidade de sua experiência espiritual. Na comunhão dos Puritanos com Deus, assim como Jesus era central, a Sagrada Escritura era suprema. Pela Escritura, como a Palavra de instrução de Deus sobre relacionamento divino-humano, buscavam viver, e aqui também eram conscienciosamente metódicos. Reconhecendo- se como criaturas de pensamento, afeição e vontade, e sabendo que o caminho de Deus até o coração (a vontade) é via cabeça humana (a mente), os Puritanos praticavam meditação, discursiva e sistemática, em toda a amplitude da verdade bíblica, conforme a viam aplicando- se a eles mesmos. A meditação Puritana na Escritura se modelava pelo sermão Puritano; na meditação o Puritano buscaria sondar e desafiar seu coração, guiar suas afeições para odiar o pecado, amar a justiça e encorajar a si mesmo com as promessas de Deus, assim como pregadores Puritanos o fariam do púlpito.

Esta piedade racional, resoluta e apaixonada era consciente sem tomar- se obsessiva, dirigida pela lei sem cair no legalismo, e expressiva da liberdade cristã sem vergonhosos deslizes para a licenciosidade. Os Puritanos sabiam que a Escritura é a regra inalterada da santidade, e eles nunca se permitiram esquecer disto. Conhecendo também a desonestidade e a falsidade dos corações humanos decaídos, cultivavam humildade e auto-suspeita como atitudes constantes, examinando-se regularmente em busca dos pontos ocultos e males internos furtivos. Por isso não poderiam ser chamados de mórbidos ou introspectivos; pelo contrário, descobriram a disciplina do autoexame pela Escritura (não é o mesmo que introspecção, notemos), seguida da disciplina da confissão e do abandono do pecado e renovação da gratidão a Cristo pela sua misericórdia perdoadora como fonte de grande gozo e paz interiores. Hoje nós que sabemos à nossa custa que temos mentes não esclarecidas, afeições incontroladas e vontades instáveis no que se refere a servir a Deus e que freqüentemente nos vemos subjugados por um romanticismo emocional, irracional, disfarçado de superespiritualidade, nos beneficiaríamos muito do exemplo dos Puritanos neste ponto também. Em terceiro lugar, há lições para nós na sua paixão pela ação eficaz.
Embora os Puritanos, como o resto da raça humana, tivessem seus sonhos do que poderiam e deveriam ser, não eram definitivamente o tipo de gente que denominaríamos “sonhadores”! Não tinham tempo para o ócio do preguiçoso ou da pessoa passiva que deixa para os outros o mudar o mundo. Foram homens de ação no modelo puro reformado — ativistas de cruzada sem qualquer autoconfiança; trabalhadores para Deus que dependiam sumamente de que Deus trabalhasse neles e através deles e que sempre davam a Deus a glória por qualquer coisa que faziam, e que em retrospecto lhes parecia correta; homens bem dotados que oravam com afinco para que Deus os capacitasse a usar seus poderes, não para a auto-exibição, mas para a glória dEle. Nenhum deles queria ser revolucionário na igreja ou no Estado, embora alguns relutantemente tenham-se tornado tal; todos eles, entretanto, desejavam ser agentes eficazes de mudança para Deus onde quer que se exigisse mudança. Assim Cromwell e seu exército fizeram longas e fortes orações antes de cada batalha, e pregadores pronunciaram extensas e fortes orações particulares sempre antes de se aventurarem no púlpito, e leigos proferiram longas e fortes orações antes de enfrentarem qualquer assunto de importância (casamento, negócios, investimentos maiores ou qualquer outra coisa).

Hoje, porém, os cristãos ocidentais se vêem em geral sem paixão, passivos, e, teme-se, sem oração. Cultivando um sistema que envolve a piedade pessoal num casulo pietista, deixam os assuntos públicos seguirem seu próprio curso e nem esperam, nem, na maioria, buscam influenciar além do seu próprio círculo cristão. Enquanto os Puritanos oraram e lutaram por uma Inglaterra e uma Nova Inglaterra santas — sentindo que onde o privilégio é negligenciado e a infidelidade reina, o juízo nacional está sob ameaça — os cristãos modernos alegremente se acomodam com a convencional respeitabilidade social e, tendo feito assim, não olham além. Claro, é óbvio que a esta altura também os Puritanos têm muita coisa para nos ensinar. Em quarto lugar, há lições para nós no seu programa para a estabilidade da família. Não seria demais dizer que os Puritanos criaram a família cristã no mundo de língua inglesa. A ética Puritana do casamento consistia em primeiro se procurar um parceiro não por quem se fosse perdidamente apaixonado no momento, mas a quem se pudesse amar continuamente como seu melhor amigo por toda a vida e proceder com a ajuda de Deus a fazer exatamente isso. A ética Puritana de criação de filhos era treinar as crianças no caminho em que deveriam seguir, cuidar dos seus corpos e almas juntos e educá-los para a vida adulta sóbria, santa e socialmente útil. A ética Puritana da vida no lar baseava-se em manter a ordem, a cortesia e o culto em família. Boa vontade, paciência, consistência e uma atitude encorajadora eram vistas como as virtudes domésticas essenciais. Numa era de desconfortos rotineiros, medicina rudimentar sem anestésicos, freqüentes lutos (a maioria das famílias perdia tantos filhos quantos criava), uma média de longevidade um pouco abaixo dos trinta e dificuldade econômica para quase todos, salvo príncipes mercantes e pequenos proprietários fidalgos, a vida familiar era uma escola para o caráter em todos os sentidos.

A fortaleza com que os Puritanos resistiam à bem conhecida tentação de aliviar a pressão do mundo através da violência no lar e lutavam para honrar a Deus apesar de tudo, merece grande elogio. Em casa os Puritanos mostravam-se maduros, aceitando as dificuldades e decepções realisticamente como vindas de Deus e recusando-se a desanimar ou amargurar- se com qualquer uma delas. Também era em casa, em primeira instância, que o leigo Puritano praticava o evangelismo e ministério. “Ele esforçou-se para tornar sua família numa igreja”, escreveu Geree, “.. .lutando para que os que nascessem nela, pudessem nascer novamente em Deus.” Numa era em que a vida em família tornou-se árida mesmo entre os cristãos, com cônjuges covardes tomando o curso da separação em vez do trabalho no seu relacionamento, e pais narcisistas estragando seus filhos materialmente enquanto os negligenciam espiritualmente, há, mais uma vez, muito o que se aprender com os caminhos bem diferentes dos Puritanos.

Em quinto lugar, há lições para se aprender com o seu senso de valor humano. Crendo num grande Deus (o Deus da Escritura, não diminuído nem domesticado), eles ganharam um vívido senso da grandeza das questões morais, da eternidade e da alma humana. O sentimento de Hamlet “Que obra é o homem!” é um sentimento muito Puritano; a maravilha da individualidade humana era algo que sentiam pungentemente. Embora, sob a influência da sua herança medieval, que lhes dizia que o erro não tem direitos, não conseguissem em todos os casos respeitar aqueles que se diferenciavam deles publicamente, sua apreciação pela dignidade humana como criatura feita para ser amiga de Deus era intensa, e também o era seu senso da beleza e nobreza da santidade humana. Atualmente, no formigueiro urbano coletivo onde vive a maioria de nós, o senso da significação eterna individual se acha muito desgastado, e o espírito Puritano é neste ponto um corretivo do qual podemos nos beneficiar imensamente.
Em sexto lugar, há lições para se aprender com o ideal de renovação da igreja com os Puritanos. Na verdade, “renovação” não era uma palavra que eles usavam; eles falavam apenas de “reformação” e “reforma”, palavras que sugerem às nossas mentes do século vinte uma preocupação que se limita ao aspecto exterior da ortodoxia, ordem, formas de culto e códigos disciplinares da igreja. Mas quando os Puritanos pregaram publicaram e oraram pela “reformação”, tinham em mente nada menos do que isso, mas de fato muito mais. Na página de título da edição original de The Reformed Pastor (traduzido para o português sob o título “O Pastor Aprovado” — PES) de Richard Baxter, a palavra “Reformado” foi impressa com um tipo de letra bem maior do que as outras; e não se precisa ler muito para descobrir que, para Baxter, um pastor “Reformado” não era alguém que fazia campanha pelo calvinismo, mas alguém cujo ministério como pregador, professor, catequista e modelo para o seu povo demonstrasse ser ele, como se diria, “reavivado” ou “renovado”.

A essência deste tipo de “reforma” era um enriquecimento da compreensão da verdade de Deus, um despertar das afeições dirigidas a Deus, um aumento do ardor da devoção e mais amor, alegria e firmeza de objetivo cristão no chamado e na vida de cada um. Nesta mesma linha, o ideal para a igreja era que através de clérigos “reformados” cada congregação na sua totalidade viesse a tornar-se “reformada” — trazida, sim, pela graça de Deus a um estado que chamaríamos de reavivamento sem desordem, de forma a tornar-se verdadeira e completamente convertida, teologicamente ortodoxa e saudável, espiritualmente alerta e esperançosa, em termos de caráter, sábia e madura, eticamente empreendedora e obediente, humilde mas alegremente certa de sua salvação. Este era em geral o alvo que o ministério pastoral Puritano visava, tanto em paróquias inglesas quanto nas igrejas “reunidas” do tipo congregacional que se multiplicaram em meados do século dezessete. A preocupação dos Puritanos pelo despertamento espiritual em comunidades se nos escapa até certo ponto por seu institucionalismo. Tendemos a pensar no ardor de reavivamento como sempre impondo-se sobre a ordem estabelecida, enquanto os Puritanos visualizavam a “reforma” a nível congregacional vindo em estilo disciplinado através de pregação, catequismo e fiel trabalho espiritual da parte do pastor.
O clericalismo, com sua supressão da iniciativa leiga, era sem dúvida uma limitação Puritana, que voltou-se contra eles quando o ciúme leigo finalmente veio à tona com o exército de Cromwell, no quacrismo e no vasto submundo sectarista dos tempos da Comunidade Britânica. O outro lado da moeda, porém, era a nobreza do perfil do pastor que os Puritanos desenvolveram — pregador do evangelho e professor da Bíblia, pastor e médico de almas, catequista e conselheiro, treinador e disciplinador, tudo em um só. Dos ideais e objetivos Puritanos para a vida da igreja, os quais eram inquestionável e permanentemente certos, e dos seus padrões para o clero, os quais eram desafiadora e inquisitivamente elevados, ainda há muito que os cristãos modernos podem e devem levar a sério. Estas são apenas algumas das maneiras mais óbvias como os Puritanos nos podem ajudar nestes dias. Em conclusão, elogiaria os capítulos do Professor Ryken [autor de Santos no Mundo], que estas observações introduzem, como uma detalhada apresentação da perspectiva Puritana. Tendo lido vastamente a recente erudição Puritana, ele sabe o que está dizendo.
Ele sabe, como o sabem a maioria dos estudantes modernos, que o Puritanismo como uma atitude distinguidora começou com William Tyndale, contemporâneo de Lutero, uma geração antes de ser cunhada a palavra “Puritano”, e foi até o final do século dezessete, várias décadas depois que o termo “Puritano” havia caído do uso comum. Ele sabe que na formação do Puritanismo entrou o biblicismo reformador de Tyndale, a piedade de coração que rompeu a superfície com John Bradford, a paixão pela competência pastoral exemplificada por John Hooper, Edward Dering, e Richard Greenham, entre outros, a visão da Escritura como o “princípio regulador” de culto e ordem ministerial que incendiou Thomas Cartwright, o abrangente interesse ético que atingiu seu apogeu na monumental Christian Directory, de Richard Baxter, e a preocupação em popularizar e tomar prático, sem perder a profundidade, tão evidente em William Perkins e que tão poderosamente influenciou seus sucessores. O Dr. Ryken também sabe que, além de ser um movimento pela reforma da igreja, renovação pastoral, e reavivamento espiritual, o Puritanismo era uma visão de mundo, uma filosofia cristã total, em termos intelectuais, um medievalismo protestantizado e atualizado, e em termos de espiritualidade um tipo de monasticismo fora do claustro e dos votos monásticos. Sua apresentação da visão e do estilo de vida Puritanos é perspicaz e exata. Esta obra [Santos no Mundo] deveria conquistar novo respeito pelos Puritanos e criar um novo interesse em explorar a grande massa de literatura teológica e devocional que eles nos deixaram, para descobrir as profundidades da sua percepção bíblica e espiritual. Se tiver este efeito, eu pessoalmente, que devo mais aos escritos Puritanos do que a qualquer outra teologia que tenha lido, ficarei transbordante de alegria.
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