segunda-feira, 16 de agosto de 2010

“LÍNGUAS” É UMA EVIDÊNCIA DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO?


O entendimento de que “línguas” é um sinal do batismo com Espírito Santo vem da leitura superficial, isolada, fora de contexto, especialmente sem ver por total o contexto e da má compreensão do propósito literário de Lucas ao escrever Atos dos apóstolos. PALMA, um pentecostal, argumenta que mesmo que Atos pertença ao genro histórico, ele “é mais do que a História da igreja primitiva”, é Lucas usando “a História como um meio para apresentar sua teologia” (p.11.2002). STUART E FEE, comentando sobre como interpretar Atos, descreve duas preocupações básicas para entender esse livro: “histórica (o que realmente estava acontecendo na vida igreja?) e teológica/hermenêutica (O que isso significou e o que significa para nós hoje?)”.
Baseando-se nisso, Lucas, historicamente, tinha como um dos propósitos demonstrar o avanço missionário da igreja no poder do Espírito Santo, desde Jerusalém, Judéia, Samaria,e até os confins da terra (At 1.8).
Teologicamente, no Pentecostes (At 2. 1- 11), a preocupação de Lucas foi revelar que a visitação histórica do Espírito Santo foi comprovada por meio de sinais visíveis, além de, chamar a atenção de pessoas de todas as nações presentes ali naquela festa judaica. Em Samaria, ele desejava esclarecer a igreja judaica que Deus também aceitava os samaritanos em seu plano de salvação; isso pode ser visto tanto na questão histórica de ambos os povos não se darem bem, quanto na atitude da igreja de enviar dois de seus proeminentes apóstolos (At 8.14) e também, no fato deles só evangelizarem os samaritanos após terem comprovado que Deus os aceitava, dando a esses, de forma aparentemente visível, o dom do Espírito (At 8.17-18,25); em Cesaréia, a manifestação visível, por meio de línguas, tinha o propósito de desvendar a intenção de Deus em quebrar à barreira entre judeus e gentios, e percebe-se isso, quando os crentes judeus ficam admirados porque sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo, e então, Pedro diz: “Pode alguém (...), recusar água para estes que também receberam como nós o Espírito de Deus?” (At 10.45, 47) ; também, em seguida, a igreja judaica reclama que Pedro entrou em casa de gentios (At 11.1-3) ; porém, após o relato dele sobre o que Deus fez (v.v. , 4-17), “(...) apaziguaram-se e, glorificavam a Deus, dizendo: até ao gentios deu Deus o arrependimento para a vida” (v.18) – (SOUZA,2002, p. 31-54); em Èfeso, a intenção de conceder o dom de línguas e o dom de profecia era convencer aqueles 12 discípulos, que não ouviram falar da descida do Espírito, que esse já havia descido, e “(...) o caminho mais seguro de convencer a estes efésios de que o Pentecostes havia ocorrido era dar-lhes dois dons especiais do Espírito Santo”.
Mas, ainda fica uma pergunta: qual o sentido dessas passagens para nós hoje? Não, seria ensinar a manifestação do Espírito por meio do dom de línguas? Parece que não. Porque o propósito dele era demonstrar a descida histórica do Espírito, descrever o objetivo de Deus em unir judeus, samaritanos e gentios, e esclarecer que havia um grupo em Éfeso necessitado de ser convencido a respeito da descida do Espírito Santo.
A pergunta é: depois de termos o Novo Testamento em nossas mãos, precisamos de outro instrumento para nos convencer da atuação do Espírito em nosso meio? Não estaríamos com isso dizendo, que a Bíblia é insuficiente para crermos que o Espírito está em nós? (ver I Co 3.16; 6.19; 12.13, Rm 8.9, Ef 1.13).
Uma das lições, dessas passagens, para a igreja de hoje, não é ensinar uma descida do Espírito Santo distinta da salvação, e sim, que precisamos perceber que desde o pentecostes Ele age em sua igreja e uma de suas tarefas é unir o seu povo, e não dividi-lo, como muito dos supostos movimentos atuais em nome dele.
Assim, quando estudamos o dom a luz de seu contexto, é muito difícil admitir uma compreensão diferente: O DOM DE LÍNGUAS É A CAPACIDADE DE FALAR IDIOMAS HUMANOS PELO PODER DO ESPÍRITO SANTO.

BIBLIOGRAFIA

.PALMA, Anthony. O Batismo no ESPÍRITO SANTO E COM FOGO. Rio de Janeiro: CPAD, 2002;
.STUART, Douglas; FEE, Gordon D. Manual de Exegese Bíblica. Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Vida Nova, 2008;
SOUZA, Roberto Alves de. A doutrina do ESPÍRITO SANTO – Deus presente sempre. Rio de Janeiro: Juerp, 2002;
.HOEKEMA, Anthony. (Tradução: SILVA, Anamim Lopes). ...E AS LÍNGUAS. www.morgismo.com/ in e-book/ Coletânea de Conhecimento. Vol. 1.

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