quarta-feira, 31 de março de 2010

Deus não Vai se ajustar a Você!!

"Ainda hoje a minha queixa é de um revoltado, apesar de a minha mão reprimir o meu gemido. Ah! se eu soubesse onde o poderia achar! Então me chegaria ao seu tribunal. Exporia ante Ele a minha causa, encheria a minha boca de argumentos. Saberia as palavras que ele me respondesse, e entenderia o que me dissesse" (Jó 23.1-5).

Imagine isto: uma convocação de pessoas irritadas se reunindo numa montanha para ter uma sessão de queixas com Deus.
A primeira pessoa a apresentar o seu caso é Moisés. Ele agarra firmemente seu bordão e dá um passo autoritário à frente. Olha dramaticamente para a esquerda e depois seu olhar se desvia a direita. Faz uma pausa deliberada, cofiando a barba esvoaçante. Ele olha diretamente para Deus e estronda numa voz poderosa:"Deus, nós nos conhecemos muito bem. O Senhor fez um bom trabalho no Mar Vermelho e com o exército de Faraó. Mas, será que eu não poderia ter colocado pelo menos um pé na terra de Canaã? Tenho esta queixa contra o Senhor há milhares de anos e preciso desabafar. Minha experiência com o Senhor não tem sido totalmente agradável. Fui deliberadamente exaltado para depois ser humilhado. Tudo que fiz foi bater na rocha! Que mal a nisso!"

"Olhe" - Moisés continua, elevando a voz emocionado. "Desisti do conforto do Egito, como segundo em autoridade ao Faraó. Segui ao Senhor sem vacilar. Tudo o que obtive em troca foram 40 anos nos confins de um terrível deserto, outros 40 anos tratando com uma multidão de pessoas que se comportavam como mentecaptos mal agradecidos, e depois morri justamente 30 dias antes de todos os outros entrarem na Terra Prometida! Estou desgostoso. O Senhor simplesmente não é 'justo'!
Deus sorri reverentemente e em silêncio faz um aceno par o próximo da fila.

João Batista pigarreia nervosamente, lançando um olhar pra o papel amassado que guarda na mão. Ele começa, "Deus, sei que o Senhor é reto e santo, mas estou realmente aborrecido. Quanto mais penso, tanto mais me enraiveço. Deixe-me fazer uma pergunta: O Senhor já teve que comer gafanhotos? Eu tive - UFA! Além disso, o Senhor me obrigou a andar por morros e vales, gritando sobre o arrependimento com toda a força dos meus pulmões. E isso não é tudo. Depois de trabalhar tanto por sua causa, terminei numa cela da prisão e, a seguir sem cerimônia alguma minha cabeça foi cortada! Isso não é 'justo'! Acredito que me explorou para proveito próprio. É dessa forma que age? Se agrada em espremer as pessoas, tirando tudo delas e depois jogá-las fora? É isso que faz?"

Deus sorri brandamente e acena pra o outro indivíduo. Este se porta como um aristocrata. Seu nome é Jó. Ele passa levemente o dedo pelo nariz e fala, "Deus, sei que o Senhor tem tudo sobre controle. Mas, penso que é um 'desmancha-prazeres cósmico' . Deve ficar sentado em seu trono esperando que alguém esteja gozando a vida ao máximo, e então ri sinistramente e torce satisfeito as mãos. Posso ver isso claramente: o que faz é esmagar tudo o que essa pessoa tem. Não tente fugir agora; estou aqui para comprovar pessoalmente o fato de que esse é um dos seus passatempos favoritos".

Neste ponto todos concordam vigorosamente com a cabeça e resmungam afirmativamente.

Jó continua, "Fui vítima indefesa. Sem consultar-me o Senhor deu ao diabo permissão para me destruir. Perdi 7.000 ovelhas, 3.000 camelos, meu gado, jumento, servos, sete filhos e minhas três preciosas filhas. Isso não é tudo. Enquanto me sentava nas cinzas de minha casa queimada, cuidando de meus tumores, minha mulher me disse que eu havia perdido a integridade e que deveria blasfemar contra o Senhor e morrer. Deus, não consigo compreender como isso aconteceu comigo. O Senhor é 'injusto' em suas ações, não só comigo..."

Ao olhar a fila, Deus vê muitas pessoas cuja raiva está crescendo. João se queixa de seus "Benefícios da Previdência Social" no asilo de loucos na ilha de Patmos. Os outros discípulos estão reclamando sobre suas experiências desconcertantes com o martírio, Jeremias se queixa das condições do calabouço, onde ele ficava enterrado na lama praticamente até as orelhas.
Paulo tem uma longa lista de reclamações: Naufragou três vezes, não teve como se vestir, passou fome, foi amargamente perseguido, apedrejado, rejeitado pelo sistema religioso, encarcerado e finalmente cortaram o seu pescoço. José está extremamente reivoso por ter sido vendido como escravo, caluniado pela mulher do seu patrão, e atirado numa cela por anos... Seu único crime foi um sonho! O honesto e puro Estevãoainda tem lugares inchados e ferimentos por ter sido apedrejado até a morte.

Deus também não pode esquecer de Davi. Ele foi caçado como um animal raivoso pelo invejoso Saul. A seguir, depois de trinta minutos de pecado com Bete-Seba, Davi colheu literalmente o caos em sua família e no reino durante 40 anos. Cada um tem uma pasta cheia de "fatos" que justificam sua queixa básica contra Deus.

Em meio ao nosso sofrimento, nossas emoções se descontrolam. Essa é a razão de necessitarmos de um regime de impacto através da ajuda objetiva das Escrituras. Nós aqui, no séculoXXI só nos ajustamos a justiça de Deus tendo um conhecimento categórico sobre Ele. ( Você pode ver então a tragédia e o engano diabólico do 'evangelho da prosperidade?' ) - Ele é uma mentira e nos faz crer num Deus que é mera ficção. É importante também para nós compreender suas (deDeus) intenções a nosso respeito porque quando estamos sofrendo, no geral questionamos seus motivos e sua integridade.

Alguém talvez diga: "Mas Deus é tão misterioso, ninguém pode saber realmente quem Ele é"! Embora seja verdade que Deus é tão grande que nenhum pensamento humano pode contê-lo plenamente, temos, como seus filhos, capacidade de conhecê-lo. Nossa responsabilidade é colocar o conhecimento que temos sobre Deus em nossa mente e depois pedir ao Espírito Santo que o torne uma realidade viva tanto nos bons como nos maus momentos.

Os seguintes atributos de Deus estão prontos para serem bombardeados para o nosso tanque de pensamentos desde já. Preparado?

01. Deus sabe tudo (At 15.18)

02. Deus é santo (1Pe 1.15,16). Ele lhe dá o poder para andar na luz.

03. Deus é amor (1Jo 4.8). Ele está vitalmente interessado no nosso bem maior.

04. Deus é verdadeiro (Rm 3.4). Ele cumpre todos os acordos sem queixar-se as suas costas.

05. Deus não tem de dar contas a ninguém (Is 40.13-14). O que Deus faz por você não é devido a um sendo de obrigação.

06. Deus é Todo-Poderoso (Ap 19.6). Você pode sentri-se protegido pelo seu cuidado.

07. Deus é infinito e eterno (Sl 90.2) - Ele tem o ponto de vista perfeito com relação ao seu sofrimento.

08. Deus é invariável e imutável (Tg 1.17). Ele não é neurórico em sua atitude compassiva para com você.

09. Deus é Onipresente (Sl 139.1-24). Você não pode fugir da atuação dEle em sua vida.
10. Deus é reto e justo (Sl 19.9). Ele não faz acepção de pessoas.

11. Deus é o Rei do Universo (Ef 1.1-23). Ele tem tudo sob controle, inclusive a sua situação.

Nós muitas vezes desejamos que Deus se ajuste ao nosso modo de pensar. Quando esta é a abordagem, não leva muito tempo para compreendermos que estamos empenhados numa tarefa inútil. Se, porém, nos ajustarmos adequadamente aos pensamentos de Deus, nosso valor como seus servos aqui na terra irá aumentar aos olhos dEle. Podemos então deixar de lado nossos sofrimentos e levar o poder curativo da cruz de Cristo a outros que estão sofrendo. Nós nos ajustamos categoricamente ao modo de pensar de Deus.
Em resumo, Deus não vai se ajustar aos seus pontos de vista. Você pode tentar manipular a atenção dEle com choro, súplicas ou desvios. Mas depois de tudo ter sido dito e feito, você ainda terá de ajustar-se aos pensamentos de Deus, como revelados na Palavra.

Você talvez fumegue um pouco e aja insensatamente durante algum tempo, mas mais cedo ao mais tarde, depois do esgotamento total, terá de enfrentar o fato de que Ele não vai se mover. Ele está no controle. Ele é o Criador. Você sua criatura. Os cristãos humildes não tem problema com esta realidade, poque uma vez compreendida, eles entram numa esfera de maior liberdade, vida e amor dentro dos limites de sua herança espiritual.

http://www.josemarbessa.com/2010/03/deus-nao-vai-se-ajustar-voce.html

terça-feira, 23 de março de 2010

A Assembleia de Westminster e as principais ênfases puritanas


Os puritanos viveram com grande intensidade o Evangelho. Eles produziram a maior biblioteca teológica da história da igreja. Eram verdadeiros gigantes, tanto na teologia como na vida; tanto no conhecimento como na piedade.

Em 1643, o Parlamento Inglês, em guerra civil com o rei Carlos I, convocou a Assembléia de Westminster, composta por 151 teólogos do mais elevado cabedal teológico e espiritual. Reuniram-se na Abadia de Westminster, em Londres, até 1649. Eles escreveram os postulados doutrinários que deveriam ser ministrados às igrejas. Aquela magna assembléia debruçou sobre os temas mais relevantes da Bíblia e, em clima de profunda oração e fervor espiritual elaborou a Confissão de Fé de Westminster, os Catecismos Breve e Maior, o Diretório de Culto, a Forma de Governo e um Saltério. Esses documentos foram adotados pelas igrejas reformadas de quase todo o mundo. A Confissão de Fé e os Catecismos são os símbolos de fé da Igreja Presbiteriana do Brasil. Esses valiosos documentos são considerados a melhor síntese teológica já produzida na igreja cristã ao longo dos séculos.

A Assembléia realizou 1.163 sessões em 5 anos, 6 meses e 22 dias de reunião. As discussões tinham cunho elevado e alta erudição. Os participantes faziam jejum constantemente, humilhando-se diante de Deus. Tinham profunda reverência pela autoridade suprema das Escrituras. Por isso puderam, sob a iluminação do Espírito Santo, dar às gerações pósteras tão rico legado. Vejamos, agora, as principais ênfases puritanas:

1. Soberania de Deus - A soberania de Deus era fundamentada em três áreas distintas: a) princípio regulador puritano - "a glória de Deus": Eles casavam, trabalhavam, comiam, descansavam, escolhiam sua profissão, pregavam, criavam filhos, educavam, ganhavam dinheiro e investiam, tudo para glória de Deus; b) soberania na salvação - Eles pregavam que a salvação vem de Deus, é realizada e aplicada soberanamente por Deus; c) soberania nos acontecimentos - Tudo está sob o controle e o domínio de Deus. Eles descansavam em sua sábia e bondosa providência.

2. Centralidade da Bíblia - A ênfase puritana na centralidade da Bíblia preparou a igreja para os grandes embates que ela teve de enfrentar mais tarde com o racionalismo de um lado e o experiencialismo místico do outro.

3. Ênfase no Arrependimento, na Conversão e na Santificação - Eles pregavam a necessidade da profunda convicção de pecado, antes da conversão. Para eles, a santidade era a prova da justificação.

4. Vida Teocêntrica - O último conselho de Richard Baxter aos seus paroquianos foi: "Mantenham deleite constante em Deus". Toda a vida é de Deus. Toda vida é sagrada. O puritanismo resgatou um senso de totalidade à vida, em contraste com os mosteiros da Idade Média e com a posição pietista do século XVII.

5. Expectativa do Futuro sem Deixar de Agir no Presente - Eles eram otimistas. Não aplaudiam a desgraça. Não eram omissos. Eram práticos e dinâmicos. "A alma da religião é a parte prática." Fundaram universidades, criaram escolas e cultivaram forte espírito missionário.

6. Família para a Glória de Deus - A finalidade da família é estabelecer o Reino de Cristo em casa. Eles defendiam uma liderança firme, mas amorosa no lar. Os pais primavam para que seus filhos fossem mais filhos de Deus do que seus filhos. Treinavam os filhos por meio do exemplo. Enfatizavam o ensino, o trabalho e a disciplina. Jamais descuidavam do culto doméstico.

7. Vida Cristã Equilibrada - Podemos destacar o equilíbrio dos puritanos em cinco áreas distintas: a) ortodoxia e piedade: mente e coração; estudo profundo e intensa vida de oração; b) teólogos e homens de oração: conheciam as Escrituras e o poder de Deus; c) aceitação e rejeição ao mundo: o mundo é local de serviço a Deus, e lugar que pode desviar as pessoas do caminho eterno; d) aspecto ativo e contemplativo: eram grandes estudiosos, mas não deixavam a prática devocional por intermédio da oração e jejum; e) trabalho e lazer: todo o trabalho honesto é sagrado; ensinavam os filhos desde cedo a trabalhar.


Rev. Hernandes Dias Lopes

http://www.igeva.com.br/colunas/ler/revhernandesdiaslopes/776,A-ASSEMBLEIA-DE-WESTMINSTER-E-AS-PRINCIPAIS-ENFASES-PURITANAS.htm

sexta-feira, 19 de março de 2010

Joseph Alleine Reflete o Puritanismo


A figura do grande pastor puritano Joseph Alleine é emblemática. Se alguém deseja radiografar o movimento protestante ocorrido na Inglaterra no século XVII, o jovem pregador nascido em 08 de abril de 1634, em Devizes, Wiltshire ilustra o âmago e a pujança calvinista naquelas paragens. O fato revelador acerca de Joseph Alleine não diz respeito ao seu brilhantismo teológico como visto em John Owen, ou a casuística meticulosa de Richard Baxter, os quais foram heróis entre os puritanos. Entretanto, detalhes de sua vida impactam as mentes, de forma meteórica, para compreendermos aquele que, de acordo com muitos, é o maior avivamento já ocorrido na Igreja cristã desde os tempos apostólicos.

Primeiramente pode-se falar em assalto, urgência e avidez de espírito. Tal como ficou evidenciado no puritanismo, Joseph Alleine era jovem e com viço. Alleine viveu apenas 34 anos. Sua carreira foi veloz, seu chamado para o santo ministério dramático e seu zelo evangelístico implacável. À medida que se lê sua biografia, um "lamento heróico" ressoa por detrás das sucessivas enfermidades, derrotas e humilhações, impingidas pela perseguição religiosa. Ao mesmo tempo uma bravura inabalável, um cavaleiro salpicado de sangue mas de olhar sereno.

Depois podemos falar da piedade prática unida à excelência teológica. Sua rotina, como de muitos puritanos, era marcada pelo alvorecer aos pês do Senhor Deus. Eram quatro horas de oração aliadas pelo deleite nas doutrinas da graça, absorvidas através do arguto John Owen e pelo "invasor" da mente do apóstolo Paulo, Thomas Goodwin. Ambos foram professores de Alleine em Oxford e no Magdalen College, respectivamente.

Multimídia. Sim, Alleine e o puritanismo eram articulados! Cartas, livros, artigos, debates, as artes, o teatro, a política, a ciência, a educação: todos os setores da vida eram enfeixados na volúpia daqueles crentes para expandir o evangelho e reformar a sociedade. O alvo não era cristianizar mas influenciar a cultura, subvertê-la com uma cosmovisão apaixonada. Para tanto, não economizaram a pena e escreveram com abundância.

É da autoria de Alleine o famoso An Alarm to the Unconverted, publicado no Brasil pela editora PES, sob o título Um Guia Seguro para o Céu. Entre os leitores famosos "alarmados" figura Spurgeon, outro que bebeu na fonte puritana. O livro traz uma teologia de conversão segura, aforismos e silogismos devastadores, que explicam a necessidade premente da atuação exclusiva do Espírito Santo, para conceder um novo coração ao pecador. O nome de Alleine está envolvido também na fundação da Royal Society, a grande academia científica britânica.

Guetos seguros e igreja despedaçada. Não! Jamais! Os puritanos igualmente como Alleine não aturavam uma visão de igreja que abrigasse, simultaneamente em seu seio, partidos seguros no meio da apostasia. O sonho da eclesiologia reformada, una e católica pulsava no coração de todos eles. Por isso sua luta era pela reforma da Igreja, trazer a pureza à sua forma de governo, definir sua doutrina e adoração. Muitos se chocam quando tomam conhecimento das lutas travadas por estes homens, referindo-se a elas como inglórias e tolas. Contudo desconhecem o contexto histórico, deixando de considerar o peso imposto a eles para observarem certos ritos e práticas da igreja anglicana. Joseph Alleine era dissidente e estava entre os 2000 pastores proibidos de pregar no ato de Uniformidade de 1662.

Romantismo. Aquele que estuda o puritanismo percebe flagrantemente o zelo pelas esposas e a família. O aspecto bucólico tanto na vida de Alleine e nos demais puritanos, são as horas de descanso e refrigério ao lado das esposas. Eles eram grandes amantes. Theodosia, a mulher de Alleine, além da piedade muitos testemunharam a sua grande beleza e virtude na vida conjugal.

A trajetória de Alleine sintetiza o puritanismo de forma categórica, essencialmente por ser algo provocado pela obra do Espírito Santo. Alguém já disse uma vez "que os que mais realizam obras para o Senhor são os mesmos que crêem na absoluta soberania de Deus a despeito de toda ênfase moderna no livre-abítrio do homem". Este é o fato óbvio do movimento não-organizado entre estes homens, mulheres e crianças inglesas. Os puritanos estavam apercebidos disso e causaram celeuma.

Autoria da matéria- Wellington Costa

confira a biografia Joseph Alleine: his Companions and Times, do pastor batista Charles Stanford

http://www.wellingtoncosta.blogspot.com/

quinta-feira, 18 de março de 2010

Apreciando o Caráter do Puritanismo


Examinando grande parte dos livros e afirmações a respeito dos puritanos — até pelos evangélicos — percebemos que seus autores tendem a ser criticados pela imprensa. De fato, o título “puritano” foi criado originalmente como um pejorativo, e muitos ainda o vêem assim em nossos dias. Em um sentido, não é difícil identificar erros, falhas e incoerências naqueles que levavam este nome, nos séculos XVI e XVII, bem como naqueles que são os descendentes espirituais deles. No entanto, focalizar-se nisso equivaleria a ignorar as realizações incríveis destes homens em muitos aspectos da vida.

J. I. Packer entendeu o significado e a relevância dos puritanos, ao compará-los com as sequóias do Norte da Califórnia: “Assim como as sequóias são atraentes aos olhos, porque sobrepujam o topo das outras árvores, assim também a santidade e a firmeza dos grandes puritanos resplandecem como um farol, sobrepujando a estatura da maioria dos crentes, em muitas épocas e, especialmente, nesta época de coletivismo urbano angustiante, quando os crentes do Ocidente sentem-se e, às vezes, assemelham-se a formigas em um formigueiro e marionetes em atividade... Nesta situação, o ensino e o exemplo dos puritanos têm muito a dizer-nos”.

Isso nos deixa admirados. Qual era, então, o caráter do puritanismo, que lhe deu tão amplo alcance e importância duradoura? Podemos selecionar cinco das principais características dignas de consideração:
1.A OPINIÃO DELES A RESPEITO DE DEUS
Tudo em que os puritanos criam originava-se de sua opinião a respeito de Deus. (Isso também a verdade no que concerne aos seus precursores na Reforma, tanto na Europa como na Inglaterra.) Isto é ilustrado pelo fato de que o primeiro apelido depreciativo vinculado a esses homens foi “os precisos” ou “os precisionistas”.

Quando um nobre perguntou a Richard Rogers (um ministro em Wetherfield, Essex) o que o tornava tão preciso, ele respondeu: “Senhor, eu sirvo a um Deus preciso”.

Veja o que está errado em muitas igrejas hoje: os crentes aceitam um ponto de vista sobre Deus que tem sido distorcido em nome do cristianismo popular. Nos anos 1950, J. B. Phillips expressou isso em um livrete intitulado Your God is Too Small (Seu Deus é Pequeno Demais). A restauração de saúde e vigor às igrejas está vinculada à necessidade de resgatarmos uma opinião elevada a respeito de Deus.
2.A ESTIMA DAS ESCRITURAS
Essa consideração das Escrituras é expressa com concisão na Pergunta 2, do Breve Catecismo de Westminster: Que norma Deus nos tem dado a respeito de como podemos glorificá-Lo e desfrutar dEle? Resposta: a Palavra de Deus, contida nas Escrituras do Antigo e Novo testamento, é uma norma verdadeira para nos guiar em como podemos glorificá-Lo e desfrutar dEle. Ao fazer esta afirmação e colocá-la em seu catecismo, estes homens estavam apenas reiterando o princípio Sola Scriptura, que estava no âmago da Reforma Protestante, e protegendo a essência tanto do evangelho como da igreja. O problema de nossos dias não é somente que as Escrituras são rivalizadas com muitas outras formas de revelação, mas também que, muito freqüentemente, elas estão subordinadas à razão. Se o espírito do não-conformismo tem de sobreviver, ele não deve prostrarse nem à nova revelação, nem à erudição, mas somente à Palavra de Deus.
3.O ENTENDIMENTO DA SALVAÇÃO
É comum na teologia contemporânea — pelo menos na teologia popular — imaginar a salvação como “o ponto de conversão”. Mas isso significa perder de vista os horizontes mais amplos da salvação. Thomas Manton nos dá um vislumbre do entendimento bem estruturado da doutrina da salvação, um entendimento que era característico de seus colegas puritanos e moldava a opinião deles sobre o evangelho:

“O resumo do evangelho é isto: todos aqueles que, por meio de arrependimento e fé, abandonarem a carne, o mundo e o diabo, entregando-se ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como seu Criador, Redentor e Santificador, encontrarão a Deus como o Pai que os recebe como filhos reconciliados, que perdoa os seus pecados, por amor a Jesus, e lhes dá graça, por meio de seu Espírito. E, se perseverarem neste caminho, Ele os glorificará no final e lhes outorgará a felicidade eterna”.

Este entendimento amplo da salvação explica o uso que os puritanos faziam do termo “regeneração” e sua riquíssima compreensão do evangelismo. Também explica a disparidade entre as expectativas referentes à conversão em nossos dias e a maneira como elas se cumprem, uma disparidade que resulta de nosso entendimento restrito da salvação.

4. A APRECIAÇÃO DA IGREJA
Se existe um elemento que pode ser identificado como o principal catalizador para o surgimento dos puritanos, esse elemento era a preocupação deles com a reforma da igreja. Eles tinham um conceito elevado da igreja. Isto começou a se tornar evidente no criticismo deles em relação aos decretos religiosos de Elizabeth.

Muitos dos puritanos jovens eram graduados de Cambridge e entraram no ministério da Igreja Anglicana a fim de pressionar por uma reforma permanente que afetaria cada igreja local. O individualismo pós-iluminista que se tornou a característica peculiar da igreja do século XXI nos roubou este conceito dos puritanos, os quais viam a igreja como o corpo glorioso e a noiva radiante de Cristo — a doutrina da igreja é a Cinderela da teologia.
5. A PREOCUPAÇÃO PELO MUNDO COMO UM TODO
O quinto distintivo digno de ser ressaltado a respeito dos puritanos é o ponto de vista deles sobre a vida e a comunidade como uma unidade integrada. Os puritanos criam que Deus havia sancionado a vida solidária na sociedade. Isso se refletiu nos ousados (mas imperfeitos) esforços deles na esfera política, alcançando seu zênite na Revolução Gloriosa e no estabelecimento do Commonwealth.

Embora os puritanos diferissem quanto à natureza do relacionamento entre a Igreja e o Estado, eles sustentavam a convicção de que a igreja tinha um papel, dado por Deus, em referência à vida da comunidade como um todo, um papel que ia além da necessidade de evangelismo.

A reação contra as aberrações do que se tornou conhecido como o Evangelho Social, na primeira metade do século XX, levou, em muitos casos, à negligência de uma responsabilidade social mais ampla, em muitas igrejas não-conformistas. Contudo, parte significativa da herança puritana ainda se mantém preocupada em que a verdade de Deus seja aplicada aos interesses políticos e sociais, capacitando os crentes a agirem como sal e luz em um mundo de trevas e deterioração.

O problema de grande parte do ressurgimento do interesse pelos puritanos, ressurgimento esse que varreu a Inglaterra na metade do século passado, é que ele aceitou apenas a soteriologia puritano-reformada — uma soteriologia que não assimila a grandeza e a integridade do ponto de vista de nossos antepassados espirituais, que consideram o mundo como parte da vida. (Admiravelmente, isto se contrasta com o ressurgimento correspondente que aconteceu nas igrejas dos Estados Unidos.) Se tem de haver um futuro para o não-conformismo, na misericórdia de Deus, precisamos apreciar novamente o caráter deste movimento, desde os seus primeiros dias.

Mark Johnston
http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=212

A falência dos seminários teológicos brasileiros.


Há pouco passei em frente a uma igreja evangélica deparando-me com uma faixa que dizia: "Venha estudar gratuitamente em nosso seminário teológico."

Confesso que ao ler o conteúdo da faixa fiquei intrigado de como aquela igreja de aparência simples, poderia custear um seminário teológico, até porque, como todos sabemos os custos e despesas relacionados a manutenção de um seminário não são nada baratos.

Pois é, assim como o seminário em questão, existem inúmeros seminários esparramados pelo Brasil, oferecendo aos evangélicos um curso básico de teologia. A questão é que boa parte destes seminários não possuem a menor condição de capacitar, formar e qualificar líderes ao ministério pastoral, isto sem falar é claro, de que não possuem em sua equipe pedagógica professores capazes de ensinar aos seus alunos os conceitos mais básicos da fé cristã. Em contra partida, os grandes seminários das igrejas históricas experimentam a mais profunda crise ensinando em suas classes heresias sutis e destruidoras. Se não bastasse isso, tais seminários são tendenciosos ao extremo pregando aos seus alunos as aberrações do liberalismo teológico ou defendendo com unhas e dentes uma volta litúrgica ao século XVI, cujo fundamentalismo é a principal caracteristica.

Para piorar a situação, a maioria dos seminários abandonaram a confessionalidade, ensinando conceitos dúbios e confusos aos seus também confusos alunos. Em nome de uma fé interdenominacional, negocia-se a sã doutrina, o que por consequinte, contribui em muito para a idiotização da igreja de Cristo.

Quanto aos professores, o que se percebe é que ainda que possuam formação acadêmica, suas doutrinas não possuem uma linha teológica definida. Sinceramente confesso que não entendo como liberais dão aula em seminários confessionais, ou como neopentecostais ministram em seminários reformados e calvinistas. Para agravar mais a situação boa parte destes professores ensinam um evangelho humanista, cuja ênfase principal é a psicanálise e auto-ajuda.

Caro leitor, um dos mais graves problemas da igreja evangélica brasileira é o ensino teológico. Acredito que mais do que nunca, necessitamos rever nossos conceitos, até porque, se continuarmos deste jeito colheremos frutos nada agradáveis.

Pense nisso!

Renato Vargens
Fonte: [ Blog do autor ]

sábado, 6 de março de 2010

Porque amei a Jacó, porém, Odiei a Esaú - João Calvino

E as crianças não eram ainda nascidas (Rm 9.11-13). Ele agora começa a pôr-se mais a descoberto, a fim de mostrar a razão desta diferença, a qual, nos informa ele, deve ser encontrada unicamente na eleição divina. Inicialmente notara, de forma sucinta, que havia certa diferença entre os filhos naturais e os de Abraão, ou seja: ainda que, pela circuncisão, todos haviam
sido adotados na participação do pacto, todavia a graça divina não fora eficaz em todos eles. Portanto, aqueles que desfrutam dos benefícios divinos são os filhos da promessa. Paulo, não obstante, ou guardara silêncio, ou no mínimo fizera uma alusão um tanto velada sobre a causa desta ocorrência. Mas agora ele faz uma clara referência a toda a causa da eleição imerecida de Deus, a qual em hipótese alguma depende do homem. Na salvação dos santos não temos que buscar uma causa maior fora da munificência divina, e nenhuma causa maior na destruição dos réprobos além de sua justa severidade.
A primeira proposição de Paulo, pois, é a seguinte: "Como a bênção do pacto separa o povo de Israel de todas as demais nações, assim também a eleição divina faz distinção entre as pessoas desta nação, ao tempo em que predestina alguns para a salvação e outros para a condenação eterna.55 Eis a segunda proposição: "Não há outro fundamento para esta eleição senão unicamente a munificência divina, bem como sua mercê [revelada] desde a queda de Adão, a qual amplexa todos aqueles de quem ele se agrada, sem nenhuma consideração por suas obras, quaisquer que sejam elas.55 Eis a terceira: "O Senhor, em sua eleição totalmente imerecida, é livre e isento da necessidade de conceder igualmente a todos a mesma graça. Ao contrário, ele ignora a quem quer, e escolhe a quem lhe apraz.55 Paulo, sucintamente, enfeixa todas estas proposições numa só cláusula, e em seguida considerará os pontos restantes.
Ao afirmar: E as crianças não eram ainda nascidas, nem tinham praticado o bem ou o mal, está a demonstrar que Deus, ao fazer a diferença entre eles, não poderia ter levado em conta quaisquer obras que não haviam ainda vindo à existência. Os que apresentam um argumento contrário, dizendo que isto não constitui razão para a eleição divina não fazer diferença entre os homens segundo os méritos de suas obras - porquanto Deus prevê as obras futuras, as quais os farão ou não dignos ou merecedores de sua graça -, não conseguem perceber com a mesma lucidez de Paulo, porém se prejudicam pelo primeiro princípio de teologia, o qual deve ser bem mais conhecido dos cristãos, ou seja: que Deus não pode ver nada [de positivo] na natureza corrompida do homem, tal como demonstrado na pessoa de Jacó e Esaú, que o possa induzir a demonstrar seu favor» Quando, pois, Paulo diz que nem um deles, naquele tempo, havia feito qualquer bem ou mal, devemos adicionar, ao mesmo tempo, seu pressuposto de que eram ambos filhos de Adão, pecadores por natureza, sem a posse de uma única fagulha de justiça.
Não insisto na explanação destes pontos, porque o pensamento do apóstolo é obscuro. Entretanto, visto que os sofistas não se mostram satisfeitos com a simples afirmação de Paulo, e intentam escapar com distinções frívolas, então empenhei-me por mostrar que ele não estava de forma alguma desinformado acerca dos argumentos que alegavam, mas que eles mesmos eram cegos em relação aos princípios elementares da fé.
Além disso, ainda quando a corrupção que se difundiu por toda a raça humana é de si mesma suficiente para trazer condenação, mesmo antes de revelar sua natureza em feitos ou atos, segue-se deste fato que Esaú merecia ser rejeitado, porquanto era, por natureza, filho da ira. Não obstante, a fim de evitar ainda alguma sombra de dúvida, como se a condição de Esaú fosse pior em razão de algum vício ou deformação, era conveniente que Paulo excluísse os pecados não menos que as virtudes. E verdade que a causa imediata de reprovação consiste na maldição que todos nós herdamos de Adão. Não obstante, o apóstolo nos dissuade deste conceito, para que aprendamos a descansar exclusiva e simplesmente no beneplácito divino, até que se estabeleça a doutrina de que Deus tem uma causa suficientemente justa para situar a eleição e a reprovação em sua própria vontade.
Para que o propósito de Deus quanto à eleição prevalecesse. Em quase cada palavra ele insiste com seus leitores sobre a soberania da eleição divina. Se porventura as obras tivessem algum espaço, então teria dito: "para que a remuneração esteja relacionada com as obras". Não obstante, ele põe em confronto as obras [humanas] e o propósito divino^ o qual se acha contido tão-somente em seu próprio beneplácito. E para que nenhuma base para contenda sobre o tema viesse a lograr êxito, ele removeu toda e qualquer dúvida ao acrescentar outra cláusula, a saber: segundo a eleição, e então uma terceira: não por obras, mas por aquele que chama. Portanto, consideremos o contexto mais detidamente. Se porventura o propósito divino segundo a eleição é estabelecido em razão de mesmo antes que os irmãos houvessem nascido e pudessem praticar o bem ou o mal, um é rejeitado e o outro, eleito, então querer atribuir a causa da diferença entre ambos às suas obras é subverter o propósito divino. Ao adicionar, não por obras, mas por aquele que chama, sua intenção não era levar em conta as obras, e, sim, unicamente a vocação [divina]. O que Paulo pretende é excluir toda e qualquer consideração pelas obras. A perseverança de nossa eleição se acha total e exclusivamente compreendida no propósito divino. Os méritos [humanos] não são de nenhum proveito aqui, pois eles resultam somente em morte. A dignidade [humana] é desconsiderada, porque não existe nenhuma, senão que reina unicamente a munificência divina. Portanto, é falsa e contrária à Palavra de Deus a doutrina de que Deus ou elege ou reprova com base em sua previsão, se cada um é ou não digno de seu favor.
12. O mais velho será servo do mais moço. Observe-se bem como o Senhor faz distinção entre os filhos de Isaque, quando ainda se acham no ventre de sua mãe. O oráculo divino então aponta para Jaco. Segue-se disto que a vontade divina era mostrar ao filho mais jovem um favor particular, o qual negou ao mais velho. Ainda que esta promessa tivesse a ver com o direito de primogenitura, não obstante Deus declara sua vontade nele como um tipo de algo maior. Podemos ver isto mais claramente se levarmos em conta quão pouca vantagem, em relação à carne, Jacó obteve de sua primogenitura. Por causa dela, ele se viu exposto a um grande perigo. A fim de escapar do perigo, se viu obrigado a deixar seu lar e seu país, bem como se viu ameaçado, em seu exílio, a viver de uma forma desumana. Em seu retorno, cheio de tremores e de incertezas no tocante à sua vida, prostrou-se aos pés de seu irmão, humildemente rogou perdão para suas ofensas, e só escapou da morte porque seu irmão, Esaú, lhe ofereceu o perdão. Onde vamos encontrar o domínio de Jacó sobre seu irmão, de quem se viu obrigado a buscar sobrevivência agora tão ameaçada? Há, portanto, na resposta apresentada pelo Senhor, algo muito maior do que a primogenitura prometida.
13. Como está escrito: Amei a Jacó. O apóstolo confirma, usando um testemunho ainda mais forte, o quanto a promessa feita a Rebeca se relaciona com seu presente tema. A condição espiritual de Jacó era testemunhada por seu domínio, e a de Esaú, por sua servidão. Jacó também obteve este favor pela munificência divina, e não por seu próprio mérito. Esta declaração do profeta, portanto, revela por que o Senhor conferiu a primogenitura a Jacó. Ela é extraída de Malaquias 1, onde o Senhor declara sua benevolência para com os judeus, antes de reprová-los por sua ingratidão. "Eu vos amei, diz ele. E então acrescenta a fonte da qual seu amor fluía. "Não era Esaú irmão de Jacó? - como a dizer: "Que privilégio tinha ele [Jacó] para que eu lhe preferisse a seu irmão? Nenhum! Seus direitos eram iguais, exceto que o mais jovem devia, por direito natural, estar sujeito ao mais velho. No entanto, escolhi a Jacó e rejeitei a Esaú, movido a proceder assim unicamente pela minha misericórdia, e não por alguma dignidade que porventura houvesse em suas obras. E então vos adotei para que fosseis o meu povo, e assim pudesse mostrar-vos a mesma benevolência que revelei a Jacó. Contudo rejeitei os edomitas, descendentes de Esaú. Portanto, sois muitíssimo piores, visto que a lembrança deste grande favor nao pôde motivar-vos a adorar minha majestade.55 Ainda quando Malaquias menciona também as bênçãos terrenas que Deus derramara sobre os israelitas, não devem ser consideradas em nenhum outro sentido senão como sinais de sua munificência. Onde a ira divina for encontrada, a morte também estará presente. Mas onde o amor divino é encontrado, a vida igualmente se faz presente.

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